Em artigo publicado há algum tempo no jornal O Estado de S. Paulo, o professor José Goldemberg menciona o engenheiro Catullo Branco como inspirador do plano de expansão energética no Estado paulista, em meados dos anos 60 do século passado. A menção instigou pesquisa sobre o perfil desse engenheiro, objeto de estudo no livro Catullo Branco: o homem dos moinhos de vento, uma publicação, no ano passado, da Fundação Energia e Saneamento.
Mas quem foi Catullo Branco? A dificuldade para dar a essa indagação uma resposta rápida está exatamente no fato de que ele é um desses personagens que constroem a história sem a preocupação de alardear as consequências de seus atos e fatos, deixando aos seus contemporâneos – e aos estudiosos futuros – a tarefa de mostrar o que representou, em sua geração, para as gerações posteriores.
Catullo Branco não foi apenas o inspirador do plano que possibilitou a fusão de 11 empresas de energia elétrica, sob o guarda-chuva da então Centrais Elétricas de São Paulo (Cesp). Além de engenheiro, formado em 1924 pela Politécnica de São Paulo, integrou os quadros de funcionários da Secretaria de Viação e Obras Públicas do Estado de São Paulo. Foi funcionário de carreira e, nessa condição, acompanhou a execução de diversas obras no campo da energia, se tornando um dos responsáveis pelo projeto da usina hidrelétrica de Barra Bonita, no rio Tietê.
Há um dado minimamente curioso sobre o projeto dessa usina. O projeto já previa, ali, uma obra de uso múltiplo: deveria gerar energia, operar com um sistema de eclusa para facilitar a navegabilidade; controlar o fenômeno das enchentes; ajudar na irrigação de áreas próximas e estimular o lazer e o turismo. E, tudo, desde a época em que foi construída, vem funcionando assim nessa hidrelétrica. Diferentemente do que aconteceu em outras obras hidrelétricas espalhadas pelo País, o projeto da eclusa não foi elaborado para justificar aditivos de preços com serviços adicionais no futuro. Ela foi planejada para operar como um conjunto.
A usina conta com um reservatório compatível com a sua escala – 310 km² e volume de 3.622 x 106 m³; com barragem de 480 m de extensão; quatro turbinas e tensão nominal de 138/69 kV. A eclusa foi projetada com 142,20 m de comprimento, largura de 11 m e desnível de 25 m. Funciona como fonte de receita turística e de transporte, além de constituir matéria de ensino permanente e a céu aberto, de engenharia.
O cidadão Catullo Branco fez política. Elegeu-se deputado estadual pelo PCB mas, a exemplo de outros parlamentares nessa legenda, teve vida política curta, com as cassações impostas pelo regime getulista.
Contudo, sua paixão era mesmo a área energética. Queria saber até aonde poderiam ir as possibilidades de exploração das diversas fontes energéticas. E, para isso, empreendeu viagens aos Estados Unidos, à antiga União Soviética, à Tchecoslováquia, à Holanda, Bélgica etc.
E, então, ele se apercebeu de que o vento, em sua continuidade e variações, tem muito mais força do que é possível se imaginar. Por isso, começou a pensar em projeto à base da energia eólica. Publicou até um livro, definindo o que entendia por “instalações eolianas”. Foi pioneiro nesses estudos. Está aí, portanto, um nome para as galerias das personalidades da Engenharia Brasileira: Catullo Branco.
Fonte: Revista O Empreiteiro