Com componentes globais, máquinas chinesas devem fechar 2012 com 20% a mais nas

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De acordo com dados apresentados pela Associação de Máquinas de Construção da China durante a Bauma no país, setor continuará a crescer em 2013

Augusto Diniz – Xangai (China)

Embora tenha sido um ano de muita cautela no mercado, as exportações de máquinas de construção da China deverão apresentar um resultado bastante positivo: 20% acima do que foi registrado em 2011, quando alcançou US$ 15,9 bilhões – esse desempenho do ano passado já havia sido 53% maior que o de 2010; as importações chegaram a US$ 9 bilhões em 2011. A previsão é da Associação da Indústria de Máquinas de Construção da China (CCMA).

A entidade fez um balanço de 2012 e mostrou otimismo em relação a 2013 durante a Bauma China, evento que cresce a cada biênio e se consolida como um dos maiores do mundo no setor, ao lado da Bauma da Alemanha e da norte-americana Conexpo. O secretário-geral da CCMA, Su Zimeng, disse que ao longo de 2012 o mercado conviveu com declínio de demanda, queda das vendas e aumento das exportações, mas proporcionalmente menor que no ano anterior. “No entanto, há sinais de estabilização no horizonte”, afirma.

A CCMA aponta que a demanda internacional por máquinas continua crescente, mas, devido à instabilidade econômica global, o protecionismo tem aumentado. “As receitas de exportação de máquinas de construção chinesas são pequenas em relação ao total, e muito menor, proporcionalmente, em relação aos Estados Unidos, Europa, Japão e Coreia da Sul. Vamos mostrar ao mundo que somos uma boa escolha”, justifica Su Zimeng.

Mesmo com as adversidades, o lucro operacional das empresas chinesas crescerá 13% este ano, calcula a entidade. As vendas totais do setor na China foram de US$ 83 bilhões em 2011. Esse sólido resultado, no entanto, se explica pelo fértil mercado interno de infraestrutura. Segundo o Sindicato da Indústria de Máquinas de Construção da China (CNCMC), somente os investimentos em energia hidrelétrica no país deverão alcançar quase US$ 700 bilhões nos próximos 10 anos. A entidade informa que há 96 projetos de ferrovias em andamento na China, com investimentos que alcançam US$ 166 bilhões – calculando-se os projetos que ainda serão iniciados, esse valor dobra.

Prioridade para componentes globais

Foi visível na Bauma o esforço da China em mostrar nos estandes de suas empresas, por meio de materiais promocionais e produtos, que a indústria de máquinas atravessa uma nova fase, com foco no investimento em pesquisa, inovação, desenvolvimento e tecnologia em todas as suas linhas de máquinas, incluindo tratores, pás-carregadeiras, escavadeiras, pavimentadoras, guindastes e gruas, betoneiras e perfuratrizes.

Na apresentação que a Associação da Indústria de Máquinas de Construção da China fez na feira, chegou-se a citar os projetos das gigantes chinesas com atuação global, como a XCMG, Zoomlion e Sany, nesse campo – fato raro quando se trata de uma entidade nacional, que não costuma divulgar atividades específicas de seus integrantes de forma tão declarada para evitar conflitos internos.

No entanto, foi também comum ouvir nas conversas com executivos ocidentais que trabalham ou têm parceria com empresas chinesas, em meio ao imenso fluxo de pessoas na feira, a necessidade da indústria do país se adequar rapidamente às regras de emissão e controle de gases de máquinas de construção, bem como a adoção de práticas sustentáveis na produção, para não correr o risco de perder competitividade no exterior.

Alguns apontam a dificuldade da China em entender as regras ambientais adotadas em vários países. Outros vão além e citam o modelo chinês de fazer negócio, que inclui não calcular corretamente riscos e se centrar no volume de vendas nas operações e não na margem de lucro, modelo adotado no Ocidente nas relações comerciais.

Em meio ao esforço da China em mostrar na Bauma em Xangai o desenvolvimento da sua indústria de máquinas, também não é difícil notar que, nas empresas chinesas que atuam fortemente no exterior, o uso de componentes de marcas tradicionais globais e símbolo de qualidade é quase regra. O que significa que o intercâmbio tecnológico já existe e que a transição poderá não ser tão árdua quanto se espera.

E esse é o principal trunfo das marcas chinesas na consolidação do mercado externo, principalmente em mercados emergentes, que, no primeiro momento, se encantaram com os preços de máquinas da China, mas que agora querem garantia de qualidade e atendimento pós-venda.

Fornecedores globais se instalam na China

A norte-americana Cummins talvez seja o componente global mais presente em uma máquina de construção na China. A fabricante de motores tem cerca de 9 mil funcionários no país distribuídos em 15 plantas industriais, que fazem motores e componentes integrados aos motores, como filtros, sistemas de combustão, alternadores etc.

A japonesa Yanmar e a alemã Deutz são outras fabricantes de motor bastante presentes entre as grandes marcas chinesas, embora não possuam unidades fabris no país.

A alemã ZF, de sistemas de eixo e transmissão, além de módulos de câmbio e chassi, tem centro de pesquisa em Xangai. E há pouco fez parceria na China com a marca LiuGong para a produção de eixos para as máquinas de construção da marca.

A italiana Carraro e a norte-americana Dana, que fornecem principalmente ao mercado de máquinas de construção eixos e engrenagem, respectivamente, também têm atuação forte na China, ambos com fábricas locais.

E a lista de fornecedores de componentes globais das máquinas chinesas continua com a AKG – radiador (Alemanha), Bosch Rexroth – sistema hidráulico (Alemanha), Eaton – sistemas diversos, Parker e Perkins-Caterpillar – motores e outros componentes (Estados Unidos), PMP – redutores (Itália), Kawasaki – sistema hidráulico (Japão), entre outras marcas.

“Aumentaram os investimentos de empresas estrangeiras no mercado de máquinas de construção pela boa situação eco
nômica do país”, avalia o secretário-geral da CCMA, Su Zimeng. Mas ele cita também o desenvolvimento de componentes pela indústria local.

Grandes marcas chinesas

Por outro lado, as grandes marcas chinesas se empenham na internacionalização, instalando unidades fabris pelo mundo e fazendo aquisições e fusões com empresas globais. “Para tornar rápido o processo de internacionalização das empresas chinesas, sem dúvida será acelerado ainda mais o processo de fusões e aquisições”, comentou Su Zimeng.

A Sany, por exemplo, que já fez investimentos de uma fábrica e centro de pesquisa em Bedburg, Alemanha – na época, foi o maior investimento de uma empresa privada chinesa na Europa -, adquiriu a Putzmeister, gigante alemã de bombas de concreto, com o objetivo primordial de absorver tecnologia. A empresa também tem unidade fabril no Brasil, Estados Unidos e Índia.

A estatal chinesa XCMG inaugura, em breve, unidades fabris na Índia e no Brasil, este último em uma área de 1 milhão de m² e que deve começar a operar no primeiro semestre de 2013. Meses atrás a XCMG tinha adquirido a alemã Schwing-Stetter, que tem bomba-lança de concreto sobre caminhão, plantas móveis de concreto, betoneiras e bombas de concreto estacionadas, numa ação que eles chamam de “estratégia tecnológica”.

A LiuGong assumiu no início do ano o controle da fábrica da HSW, em Stalowa Wola, Polônia, que produz uma linha completa de tratores de esteiras, utilizando tecnologia da marca Dresta, que originalmente recebeu suporte tecnológico por meio da japonesa Komatsu. Foi o maior investimento chinês na Polônia e o maior da LiuGong no mundo. A proposta foi clara: entrar no mercado europeu através de uma das empresas mais conhecidas do mundo no mercado.

A Zoomlion, que adquiriu a italiana Cifa e toda a sua linha de bombas de concreto e usinas, fez questão de apresentar, durante a Bauma China, o seu trabalho de pesquisa e desenvolvimento de uma das maiores escavadeiras de esteira do mundo, com capacidade de carregar 17 m³ na caçamba – utilizando motor Cummins. A empresa de capital aberto tem ações listadas na bolsa de Hong Kong desde 2010.

A Lonking, outra gigante de máquinas de construção da China, usou uma ação de marketing inusitada na Bauma. Em vez de montar um caro espaço com um show room de seus principais produtos, a empresa ergueu um pequeno estande na feira, e nele anunciava que a companhia levava gratuitamente os interessados a sua fábrica, a 40 minutos do centro de exposição de Xangai, com direito a conhecer sua linha de produtos e unidades de produção.

A planta, que tem 6 mil funcionários e produz 68 mil máquinas por ano, fabrica pás-carregadeiras, empilhadeiras e escavadeiras hidráulicas que usam sistemas hidráulicos Kawasaki. “Mas esperamos em dois anos ter desenvolvido sistema hidráulico próprio”, avisa um gerente de vendas da Lonking.

Fonte: Padrão


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