Como dantes no quartel de Abrantes

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Nildo Carlos Oliveira

A bola dos protestos está murchando. O que vai restar daquelas reivindicações?

Aquela frase-símbolo – “Desculpem, estamos mudando o Brasil” – vai cair no vazio. Porque, até aqui, as respostas às exigências de melhorias na infraestrutura, sobretudo aquelas relativas ao transporte público e à saúde, só não continuam as mesmas porque, em especial no caso da saúde, o governo está fazendo o jogo eleiçoeiro com o programa Mais Médicos.

É um programa que tem o apoio da população, mas não deixa de preservar esse viés do oportunismo mais deslavado. Quanto ao transporte público, houve a manutenção ou a redução de tarifas, mas a situação de desconforto, de insegurança, de precariedade, prossegue a mesma. Exceção em alguma coisa, como a ampliação das faixas exclusivas, que dão maior velocidade aos ônibus, mas limita os passos de quem precisa utilizar o veículo particular. No fundo, desperta o receio de que possa ser um argumento para limitar investimentos em modais de maior eficiência, mas de construção e operação mais caras.

A divulgação, conveniente, de crescimento do PIB, também pode constituir uma desculpa para a divulgação de que tudo está bem, como se de um dia para outro a economia seja capaz de produzir milagres.

Mas, conforme um editorial de hoje num jornal paulistano, os protestos acenaram com outra utilidade: o aperfeiçoamento do instrumental de vigilância e segurança, por parte do Estado. Vigilância dos cidadãos e, segurança dele, do governo.

E, ainda como prova de que os protestos, na sua maior parte, não serão atendidos, aí está a encenação do Congresso Nacional de que se sintonizaria com a voz das ruas. Bastou que um de seus membros fosse atingido por uma condenação e prisão, caso do parlamentar recolhido à Papuda, para que o corporativismo ganhasse fôlego. E o corporativismo continua forte, na previsão de que outros membros, caso sejam igualmente encaminhados à prisão, encontrem ali respaldo contra medidas judiciais. Portanto, tudo está “como dantes, no quartel de Abrantes”.

Fonte: Nildo Carlos Oliveira


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