Cerca de 50 empreendimentos estão em fase de projeto ou trabalhos de implantação em andamento
Tatiana Bertolim
A empresa argentina Impsa Wind, que produz equipamentos para geração de energia, planeja contratar 460 funcionários para sua fábrica no Complexo Industrial Portuário de Suape, em Pernambuco, nos próximos dois anos. Os trabalhadores vão reforçar os quadros da companhia, que se prepara para fabricar turbinas.
Além dos navios e docas que compõem a paisagem de Suape, um número crescente de indústrias – e de porte cada vez maior – domina o cenário nos arredores de um dos portos mais movimentados do Brasil. A Impsa, que chegou a Pernambuco para fornecer infraestrutura aos parques eólicos do Nordeste, é apenas um dentre muitos exemplos dessa tendência.
*Petroquímica Suape: investimentos de US$ 2,2 bilhões
De 2007 até agora, os investimentos de empresas que pretendem montar fábrica ou ampliar suas instalações nos arredores do porto acumulam um total de US$ 22,9 bilhões, afirma o coordenador de novos negócios de Suape, Leonardo Cerquinho. Parte dessa cifra é referente a empreendimentos que já estão em funcionamento. A maior parcela diz respeito a projetos que ainda serão implementados. Os maiores são a Refinaria Abreu e Lima e a Petroquímica Suape, ambas da Petrobras, e a Companhia Siderúrgica de Suape (CSS), mas a lista inclui de estaleiros a fabricantes de geradores eólicos.
Outro destaque é o investimento de US$ 1,67 bilhão que a Fiat vai fazer para instalar uma fábrica de veículos em Goiana, município que fica 60 km ao norte do Recife. A empresa vai contratar sete mil funcionários para o projeto, um sinal de que o poder de atração de Suape já não se limita à área que compreende sua vizinhança mais imediata.
“Suape tem localização privilegiada no Atlântico Sul”, avalia Cerquinho. Na visão dele, o porto está estrategicamente posicionado para as empresas que precisam importar e exportar seus produtos, especialmente para a Europa e a África. Ao mesmo tempo, oferece fácil acesso ao mercado nordestino, cujo Produto Interno Bruto (PIB) cresce acima da média nacional. “Vale lembrar que 90% do mercado de consumo do Nordeste está concentrado entre Fortaleza e Salvador. Suape fica bem no meio do caminho”, acrescenta o coordenador.
Foram esses atrativos que, em 2005, levaram a Mexichem – fabricante de tubos e conexões mais conhecida pela marca Amanco – a implantar uma linha de produção em Suape. “A proximidade do porto foi um dos motivos para a instalação no local”, afirma Luiz Carlos da Silva, gerente dessa planta. “Mas também pesaram fatores como ambiente de trabalho, meio ambiente e produtividade. A região atendia melhor às nossas necessidades.”
Até então, a companhia estava instalada em Jaboatão dos Guararapes, município da região metropolitana do Recife. A fábrica da Mexichem em Suape emprega 156 pessoas e atende ao mercado interno.
Atrativos
Outro atrativo para as companhias que se instalam na região são os benefícios fiscais oferecidos pelos governos estadual e federal. Sob o Programa de Desenvolvimento de Pernambuco (Prodepe), as empresas recebem dedução de 75% a 100% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), com incentivos específicos para setores-chave. Por meio da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), obtêm o abatimento de tributos federais.
A disponibilidade de infraestrutura, a oferta de programas de capacitação de mão de obra e a existência de áreas com licenciamento ambiental (EIA-Rima) pré-aprovado também são facilidades que contribuem para tornar o Porto de Suape uma alternativa para receber investimentos das empresas.
Com isso, Suape reúne atualmente 120 empresas em fase de produção industrial e tem outros 50 empreendimentos anunciados ou em fase de implantação. A expectativa, segundo Cerquinho, é que as companhias ao redor do porto gerem 34,7 mil empregos diretos.
Um dos novos projetos é a construção de uma unidade da Selmi, companhia alimentícia que produz massas com as marcas Renata e Galo. Será a terceira fábrica da empresa, que tem sua maior planta em Sumaré (SP) e até o fim deste ano estará em Rolândia (PR). A previsão é que a linha de produção em Suape, que receberá investimentos da ordem de R$ 20 milhões, comece a funcionar no próximo ano.
O principal foco da Selmi será o atendimento à demanda local. “É uma questão estratégica aumentar a presença em um mercado de grande expansão”, afirma o empresário Ricardo Selmi, presidente da companhia. “Hoje, a maior dificuldade que temos é atender a demanda da região com preços competitivos. Com uma nova fábrica, a distribuição para o mercado interno e externo será facilitada.”
A expansão dos investimentos levou o Complexo Industrial Portuário de Suape a anunciar, em maio, a criação de um centro empresarial para atender às necessidades das companhias instaladas na região. A primeira fase será implantada pela Queiroz Galvão Desenvolvimento Imobiliário, que venceu licitação para estruturar essa etapa do projeto. Está prevista a construção de hotéis, edifícios comerciais e um centro de convenções, entre outros equipamentos.
A ideia é que essa infraestrutura, que será instalada no entorno do atual centro administrativo do complexo, funcione como um polo de prestação de serviços para as companhias presentes em Suape e para as que utilizam o porto. A primeira fase deverá ser concluída em 2014, mas o projeto completo do centro empresarial só ficará pronto em 2030, de acordo com previsão da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco.
Refinarias
Nenhum dos investimentos empresariais previstos mudará tanto a cara de Suape como a refinaria e a petroquímica que estão sendo construídas pela Petrobras. A Refinaria Abreu e Lima, em que a estatal brasileira deverá ter a venezuelana PDVSA como sócia (40%), enfrenta dificuldades – já foi alvo de questionamentos no Tribunal de Contas da União (TCU), está US$ 3,7 bilhões acima do orçamento inicial e as obras acumulam um atraso de três anos. Mesmo assim, quando ficar pronta (o que está previsto para 2014), a unidade deverá funcionar como um polo de atração para empresas petroquímicas, observa Cerquinho, o coordenador de novos negócios de Suape.
*A proximidade como porto foi um dosmotivos da aberturada fábrica daAmanco no CIPP
Com investimentos previstos de US$ 13,3 bilhões, a Abreu e Lima produzirá 220 mil barris de petróleo por dia, mas já se cogita uma expansão que vai mais que dobrar sua capacidade. Em paralelo, a estatal vai investir US$ 2,2 bilhões na Petroquímica Suape, que vai produzir polímeros, filamentos de poliéster e resina para embalagens PET.
Exemplo do poder de atração que os investimentos bilionários da Petrobras costumam ter é o estaleiro Construção e Montagem Offshore (CMO), cujas obras, orçadas em R$ 720 milhões, devem ficar prontas no fim deste ano. A unidade terá a estatal como principal cliente. O CMO será o terceiro estaleiro a se instalar em Suape.
Para dar conta de tamanha movimentação, três novos terminais (para grãos, contêineres e tonéis sólidos) serão erguidos no porto. Suape movimentou 430 mil TEUs no ano passado e a projeção é que alcance 1 milhão de TEUs em 2020. O aumento da capacidade poderá fazer dele o segundo maior porto brasileiro. São planos ambiciosos. Mas, diante da efervescência de empreendimentos na região, são também plausíveis.
Ficha Técnica
• Complexo Industrial Portuário de Suape
• Número de empresas em produção: 120 empresas
• Novas empresas anunciadas: 50
• Previsão total de geração de empregos: 34,7 mil
• Investimentos industriais (2007 até agora): US$ 22,9 bilhões
• Alguns projetos em construção: Refinaria Abreu e Lima (Petrobras), Petroquímica Suape (Petrobras), Companhia Siderúrgica de Suape, Construção e Montagem Offshore (estaleiro), Selmi (alimentos) e Impsa Wind (equipamentos para geração de energia)