A despeito da crise financeira nos Estados unidos, que eclodiu em setembro passado arrastando, com ela, a economia global, os segmentos de Construção e Engenharia alcançaram, no Brasil, em 2008, um resultado histórico, atingindo a maior receita bruta conjunta dos últimos 14 anos.
O quarto trimestre estagnado não chegou a prejudicar os números dos três trimestres anteriores de demanda aquecida, em particular os empreendimentos privados, que já vinham se fortalecendo nos anos recentes nos segmentos nitidamente exportadores, como mineração, siderurgia, papel e celulose, agronegócios, etanol, etc. A isso se somaram os investimentos federais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), apesar das deficiências de gestão e lentidão na aplicação efetiva dos recursos.
Os programas estaduais de obras públicas, notoriamente em São Paulo e Minas Gerais, e das administrações municipais de algumas capitais e cidades que são polos econômicos de suas regiões, também representaram demanda adicional de serviços de Construção e Engenharia. A percepção dominante era a de que o País estava para embarcar num ciclo de crescimento, ao lado das outras economias emergentes, puxado pela economia global. Poucos imaginavam como a bolha artificial do mercado imobiliário americano pudesse se alastrar e provocar, com tamanha velocidade, a submersão da economia mundial.
As empresas de engenharia consideram que a retração dos empreendimentos privados nos segmentos exportadores, com a crise global que se seguiu, deve se prolongar ao longo de 2009, e que isso pode ter impacto negativo nos dois anos seguintes, até 2011, por conta de projetos cancelados ou postergados.
Esse vácuo está sendo preenchido por alguns fatores importantes: o aumento de recursos nos projetos do PAC e o início de um maior volume de obras; a ampliação do programa plurianual de investimentos da Petrobras, já voltado para o começo das operações de produção do Pré-sal na plataforma continental; as novas reinarias no Norte e Nordeste; a modernização contínua das plantas existentes; e a execução de significativas obras em diversos Estados, mesmo com a queda da arrecadação ocasionada pelo retração da atividade econômica.
O anúncio das cidades-sedes dos jogos da Copa do Mundo de 2014 representou nova injeção de ânimo para o mercado da Engenharia e da Arquitetura e para o conjunto da cadeia produtiva da construção. As reformas previstas e as novas obras nos estádios de futebol aliam-se a propostas de torná-los equipamentos urbanos de uso intensivo e permanente da população em geral, para que não continuem a ser tão-somente privilégio das torcidas dos times tradicionais nas épocas de campeonato estadual ou nacional.
Cumprindo exigências da Fifa, estão previstas melhorias para o transporte de massa, abertura e modernização de acessos viários e construção e ampliação de estacionamentos, tanto junto aos estádios quanto junto a terminais aeroportuários e rodoviários. Espera-se que a administração pública aproveite essa oportunidade única para revitalizar as cidades-sedes, estabelecendo parcerias para absorção do potencial da iniciativa privada, evitando-se que novos empreendimentos, então construídos, venham a se transformar em novos “elefantes brancos”.
Por outro lado, merece registro a recuperação do mercado imobiliário já no 1º semestre de 2009. Ela se insere nas expectativas alentadoras criadas pelo programa de construção de 1 milhão de moradias anunciado pelo governo federal para a população de baixa renda. Essa iniciativa exigirá uma reformulação tecnológica e gerencial das construtoras imobiliárias que venham a aceitar os desafios dessa gigantesca escala de produção, distribuída por diversas regiões brasileiras.
O melhor ano da década
Os quatro segmentos de Construção e Engenharia puderam, finalmente, ao final de 2008, comemorar “O MELHOR ANO DA DÉCADA”, com o faturamento bruto conjunto das 190 maiores empresas – que servem de amostragem representativa para as respectivas atividades – Construção, Projeto & Consultoria, Montagem Industrial, e Serviços Especiais de Engenharia, totalizando R$ 65,937 bilhões, uma valorização de 250% em relação a 1999. Este é, sem dúvida, o resultado mais espetacular da década!
O avanço da soma dos quatro setores foi de 47,50% ao final de 2008, comparado ao ano anterior. As 100 maiores Construtoras cresceram 49,59%; as 20 maiores empresas de Montagem Industrial faturaram mais 51,81%; as 40 primeiras Projetistas e Gerenciadoras expandiram as vendas de serviços em 39,86% e as 30 maiores empresas de Serviços Especiais de Engenharia incrementaram a receita em 34,34%.
Essa pesquisa exclusiva é realizada anualmente pela revista O Empreiteiro. O faturamento bruto de 2008 apurado em balanço contábil, de janeiro a dezembro, é o parâmetro de classificação no Ranking da Engenharia Brasileira publicado nesta edição, dividido em quatro segmentos de atividades, que tem início na pg. 323.
A série histórica cobre um período de 11 anos, cujos números foram atualizados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) – 6,48%, conforme apuração da Fundação Getúlio Vargas (FGV), tendo como data de referência o dia 30 de dezembro de 2008.
Na amostragem das 190 maiores empresas, a receita bruta consolidada tem a participação de 68,71% das 100 primeiras Construtoras; 13,55% das 20 maiores empresas de Montagem Industrial; 9,12% das 40 projetistas e gerenciadoras; 8,62% das 30 maiores firmas prestadoras de Serviços Especiais de Engenharia.
As construtoras que executam obras por administração apresentaram um parecer de auditor independente para atestar o faturamento equivalente à produção total realizada no exercício, além do balanço contábil.
Os valores em dólar americano incluídos no Ranking da Engenharia Brasileira foram calculados à taxa média da cotação cambial oficial no ano de 2008, de R$ 2,3944, apurada pela FGV.
Mais de 2.500 questionários foram enviados às empresas de engenharia do País, com a participação das entidades de classe nos Estados. A pesquisa incluiu, ainda, a análise dos balanços publicados na imprensa, que foram fornecidos pela Associação Comercial de São Paulo.
Empresas de engenharia que enviaram suas respostas fora do prazo, ou não juntaram o balanço contábil publicado, deixaram de figurar no ranking.
Construtoras
As 100 Construtoras de maior faturamento bruto – que servem de amostragem representativa das 171 construtoras incluídas no ranking, registraram crescimento de 49,59% em 2008, somando R$ 45,303 bilhões de receita. É o resultado mais brilhante desde 1995, comparando-se os valores atualizados para 30 de dezembro de 2008. É o quarto ano consecutivo de expansão, ainda com forte participação de empreendimentos privados, cujo percentual sobre
faturamento total das empresas é indicado no ranking.
O ranking das Construtoras relaciona 171 empresas, listadas por ordem decrescente de receita bruta. As 10 maiores construtoras cresceram 52,71% em vendas de serviços – algo superior aos 49,59% apurados pelas 100 Construtoras tomadas como amostragem.
A expansão do setor de Construção permitiu que 59 construtoras registrassem crescimento superior a 50% em faturamento bruto em 2008. Entre as 10 primeiras classificadas no ranking das construtoras sobressaem a WTorre com 164%; Galvão Engenharia, 80%; Carioca Christiani-Nielsen, 79% e Andrade Gutierrez, 70%.
A líder do ranking, Norberto Odebrecht, e a vice-líder, Camargo Corrêa, apresentam uma diferença de apenas 9,48% na receita total de 2008.
Mantêm-se nas posições seguintes: Andrade Gutierrez em 3º; Queiroz Galvão em 4º; OAS em 5º; Delta Construções em 6º. A Carioca Christiani-Nielsen subiu duas posições, chegando a 7º; a Galvão Engenharia ganhou o mesmo patamar chegando ao 8º; WTorre saiu do 20º para 9º lugar, enquanto a Gaisa perdeu dois pontos, ficando em 10º .
No bloco seguinte do ranking temos a Mendes Júnior, que avançou 11 pontos para 12º; Construcap CCPS subiu de 19º para o 13º lugar; ICEC do 22º para o 14º; Barbosa Mello conquistou oito posições chegando ao 25º lugar, enquanto a Mascarenhas Barbosa Roscoe conquistou 11 pontos e está em 29º .
Melhoraram também suas posições a EMSA, 36º; Toniolo Busnello, 37º; Azevelo & Travassos, 38º; Camter, 41º; Jofege, 46º.
Na tabela das maiores variações positivas de receita destacam-se a Toniolo Busnello, com 182% ; Pernambuco Construtora, com 167% e as empresas mineiras Mascarenhas Barbosa Roscoe, com 136%; Direcional Engenharia, com 128%; Barbosa Mello, 117%; Mendes Júnior, 115%; e GEL Engenharia, do Paraná, com 103%.
Montagem industrial
Como reflexo direto do sólido programa de investimentos da Petrobras, que se caracteriza pela continuidade, e dos projetos de expansão da indústria pesada como mineração, siderurgia e papel e celulose, que se mantiveram no 1º semestre de 2008, as 20 maiores empresas de Montagem Industrial tiveram faturamento no valor de R$ 8,936 bilhões, um salto de 51,81%, superior ao crescimento de 49,59% das 100 maiores construtoras.
A UTC permanece na liderança do ranking de Montagem Industrial, com a Skanska Brasil que participa pela primeira vez e que está em 2º lugar; em seguida vem a Enesa em 3º, Techint em 4º e MPE em 5º. No bloco seguinte, sobressaem Niplan, em 10º, estreante no ranking. Nesta mesma condição, figuram a Contreras, em 21º e a TKK, em 26º.
As empresas de montagem industrial que atingiram os maiores ganhos percentuais no faturamento bruto em 2008, com relação ao ano anterior, são Daltec, 172%; Isotec, 164%; Gemon, 78%; Potencial, 75%; e UTC, 67%. No total, 26 empresas do setor melhoraram a receita em 20% ou mais.
Projeto, consultoria e gerenciamento
As projetistas e gerenciadoras celebram o 5º ano consecutivo de expressiva expansão e as 40 maiores empresas de consultoria que servem de amostragem representativa do segmento viram sua receita bruta de serviços crescer 39,86%, chegando a R$ 6,012 bilhões em 2008. A comemoração só não foi mais completa porque alguns contratantes tradicionais começaram a licitar projetos de engenharia pelo critério do menor preço – como se a inteligência e a experiência do corpo técnico tivessem virado commodities de prateleira.
As três primeiras posições foram mantidas: Engevix, 1º; Concremat, 2º e Promon, em 3º. Technip Brasil, que figura pela primeira vez no ranking das projetistas, está em 4º. A CNEC fecha este grupo em 5º.
O bloco seguinte compõe-se da Progen, 6º; Logos, 7º; Pöyry Tecnologia, em 8º; Tecnosolo, em 9º; Minerconsult, em 10º. No ranking das projetistas e gerenciadoras destacam-se, pelo avanço na classificação, a Leme Engenharia, 13º, subindo cinco pontos; KTY Consultoria, 23º, ganhando cinco posições; Pro-sul, 24º, melhorando três pontos; Lenc, 28º, recuperando quatro posições; PCEProjetos, em 31º, alçando cinco pontos.
Em variação positiva de receita em 2008 destacam-se a Engevix, com 68%; Cobrape, 66% ; MHA Engenharia, 60%. Na faixa de faturamento de R$ 10 milhões a R$ 15 milhões realçamos Reta Engenharia, Botti Rubin Arquitetos, Arcadis Tetraplan e Senha Engenharia, que elevaram seu faturamento de 98 a 274%. No conjunto, 34 empresas de consultoria melhoraram suas receitas brutas em mais de 40%.
Serviços especiais de engenharia
As 30 maiores empresas que prestam Serviços Especiais de Engenharia, consideradas como amostragem representativa do setor, alcançaram um crescimento de 34,34% no ano de 2008, atingindo R$ 5,686 bilhões de receita bruta. Esse resultado seria certamente superior caso houvesse a participação individual da Engemix, cujos números foram incorporados pelo balanço contábil da Votorantim Cimentos.
A Telemont, dedicada a redes de telecomunicação, encabeça o ranking; RipServiços Industriais, voltada a revestimentos refratários, está em 2º; Medabil, fabricante de estruturas metálicas, em 3º; Mills do Brasil, especializada em escoramento e formas para concreto, em 4º; Qualix Serviços, de engenharia ambiental, em 5º. No bloco seguinte, encontramos Vital Ambiental em 6º e Ecourbis em 7º, ambas de engenharia ambiental; Brafer Construções Metálicas, em 8º; Loga Ambiental, 9º; Essencis, em 10º.
Pela ótica do aumento da receita bruta em 2008, comparando ao ano anterior, destacamos Termoeste, com 167%; Roca Fundações, 123%; Novatecna, 83%; Maker, 77%; GNG Construções, 73% e TDS Travessia Direcional, com 58% de crescimento de vendas de serviços. Vinte e quatro firmas do setor melhoraram o faturamento em mais de 40%. Seguindo-se ao ranking consolidado das empresas de serviços especiais de engenharia na pagina 378, o leitor poderá consultar o ranking por segmento de atividade nesses setor.