Crescimento tímido da economia diminui demanda por aço

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Tatiana Bertolim

Espremida entre um crescimento econômico baixo e a concorrência dos importados, a indústria siderúrgica brasileira atravessa mais um ano difícil. Nos cinco primeiros meses de 2013, a produção de aço bruto somou 14,1 milhões de t, o que indica queda de 3,1% frente ao mesmo período do ano anterior, segundo dados do Instituto Aço Brasil. As vendas no mercado interno recuaram 2%.

“É muito abaixo do que a gente imaginava”, afirma Carlos Loureiro, presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Produtos Siderúrgicos (Sindisider). Segundo ele, a meta para este ano era aumentar as vendas em 6% na comparação com o último exercício fiscal. No entanto, a projeção será revisada para baixo.

O fraco desempenho da economia brasileira, a falta de competitividade perante siderúrgicas de outros países (especialmente as chinesas) e um excedente de mais de 500 milhões de t na produção mundial ameaçam fazer água, novamente, nos planos das empresas para voltar a crescer.

O Instituto Aço Brasil estima uma produção de aço bruto de 36,5 milhões de t neste ano, o que representaria alta de 5,8% na comparação com o ano passado. Porém, a projeção leva em conta um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,7%, uma marca já descartada pelos economistas e analistas de mercado após o fraco desempenho da economia no primeiro semestre de 2013.

Na avaliação do professor Germano Mendes de Paula, do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), quando o crescimento da economia brasileira é inferior a 4%, historicamente a demanda de aço cresce muito lentamente no país. “Para mudar este quadro, os tão aguardados investimentos em infraestrutura precisam deslanchar a partir do segundo semestre”, afirma.

Uma economia mais vigorosa certamente ajudaria, mas não resolveria todos os problemas do setor. Há anos, têm crescido significativamente as importações de aço contido – por meio de máquinas, veículos e equipamentos que chegam ao país. “Estamos perdendo nossos clientes para produtos que vêm prontos”, diz Loureiro.

Na leitura do Sindisider, para minimizar as perdas o ideal seria que o dólar ficasse na casa dos R$ 2,50. Com a moeda nesse patamar, o ímpeto das importações seria refreado e as siderúrgicas brasileiras se tornariam mais competitivas tanto no mercado local quanto nas exportações.

Porém, não é tão simples resolver essa equação e as próprias siderúrgicas admitem essa dificuldade. “Há um desalinhamento do dólar, mas as usinas pedem uma cotação maior e a Anfavea [Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores], que precisa de componentes importados, naturalmente quer uma cotação menor”, observa Loureiro.

Segundo ele, taxar os importados também não resolveria a questão, pelo mesmo motivo. Daria um alívio às siderúrgicas, mas por outro lado espremeria a indústria.

Custo elevado de energia

Durante o 24º Congresso do Aço, realizado em maio, o empresário Jorge Gerdau apontou a elevada carga tributária brasileira e o baixo patamar de investimentos da economia nacional (ao redor de 18% do PIB) como alguns dos fatores que têm impacto sobre o setor.

No mesmo evento, o presidente-executivo da Associação dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace), Paulo Pedrosa, destacou que o Brasil continua sendo um dos países em que o custo da energia para a indústria é mais elevado. De acordo com ele, a necessidade de uso das termelétricas nos primeiros meses deste ano praticamente neutralizou os efeitos da desoneração das tarifas promovida pelo governo.

“Mais que medidas pontuais, o que se faz necessário é melhorar a atratividade do investimento da economia brasileira, de uma forma geral, e da indústria de transformação, de um modo particular”, destaca Mendes de Paula, da UFU.

Enquanto isso não acontece, até mesmo as grandes empresas enfrentam desafios e buscam alternativas para se tornar mais competitivas. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) viu seu lucro líquido cair 75% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. O grupo controlado por Benjamin Steinbruch estuda a compra da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) e de uma laminadora nos Estados Unidos, pertencentes à ThyssenKrupp, numa tentativa de aumentar sua escala e sua presença internacional.

A Usiminas, por sua vez, viu seu endividamento crescer e sua produtividade diminuir ao longo dos últimos anos. Na segunda semana de junho, o grupo anunciou a venda da Usiminas Automotiva, fabricante de sistemas automotivos, para a Aethra. No entanto, o valor do negócio – de R$ 210 milhões – é pequeno para equacionar sua dívida líquida de R$ 3,6 bilhões.

Recentemente, a ArcelorMittal anunciou a suspensão, por enquanto, de seus projetos de expansão no mercado brasileiro. Os investimentos no aumento da capacidade de produção do grupo são estimados em US$ 1,5 bilhão.

Para Loureiro, do Sindisider, a retomada de um crescimento econômico mais vigoroso ajudaria a dar mais fôlego às companhias. Por outro lado, um prolongamento do cenário atual poderia levar, no longo prazo, à inviabilidade da cadeia produtiva.

Mendes de Paula, por sua vez, avalia que o mercado brasileiro está longe de uma situação tão drástica. No entanto, o professor alerta que é necessário tomar cuidado com as importações excessivas na cadeia metal-mecânica. Ele cita o caso da Austrália, onde a dependência dos importados levou a produção de aço bruto a diminuir de 6,4 milhões de t, em 2011, para 4,9 milhões de t no ano passado, apesar de o consumo de produtos siderúrgicos ter crescido no mesmo período. “Esse é um exemplo a não ser seguido”, afirma.

Fonte: Revista O Empreiteiro


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