Pode-se dizer que, no caso da Carioca Engenharia, cujas ações foram ampliadas com a aquisição da dinamarquesa Christiani-Nielsen, a história se repete. E se repete na evolução técnica dos projetos, construção e qualidade final das obras
O filho é o espelho do pai. E, a exemplo do pai, em anos passados, o filho vem repassando para as obras de responsabilidade da empresa, os resultados absorvidos da evolução da engenharia em seus diversos segmentos. Ricardo Backheuser tem uma história pautada na inteligência encontrada no lar paterno. No fundo, conserva os valores de uma tradição familiar herdados no campo da engenharia. Seu bisavô e seu pai foram engenheiros e professores da Escola Nacional de Engenharia, antiga Politécnica do Rio de Janeiro, onde Ricardo também se formou.
Um leve recuo no tempo é suficiente para a composição da imagem da Carioca Engenharia, fundada em 1947 por João Carlos Restier Backheuser para atuar basicamente em obras de urbanização na antiga Capital da República. Mas seria difícil, para um espírito inquieto como o do velho João Carlos Backheuser, manter-se nos limites de obras municipais. Logo depois, a empresa partiria para obras mais expressivas, como a construção do retroporto, no cais do Rio de Janeiro. Ou para a implantação, mais tarde, da zona industrial de Santa Cruz, um dos maiores projetos do gênero da cidade. A empresa participaria da construção de um trecho da BR-101, na Bahia e outras obras, inclusive no campo da irrigação, naquele Estado.
*Ricardo Backheuser – presidente da Carioca Engenharia
A companhia, que também participou da construção de dois ícones nacionais – o Elevador Lacerda, em Salvador-BA e o Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro – encontraria nas décadas de 1960 e 1970, perspectivas ainda mais promissoras para crescer: ela foi uma das responsáveis pela construção da Ponte Rio-Niterói, da Linha Vermelha e do Sambódromo. E edificou a Barragem do Funil, a maior estrutura de concreto armado em arco-abóbada para barramento de hidrelétrica, no Brasil. Mas a história da Carioca não iria parar por aí. Algumas dessas obras estão no livro 100 Anos da Engenharia Brasileira, uma publicação especial da revista O Empreiteiro.
É necessário nova volta no tempo para contar como a Carioca adotou outro procedimento pioneiro, ao transformar-se em Carioca Christiani-Nielsen. Um dia, ainda na década de 1960, João Carlos Backheuser, achando-se adoentado, chamou o filho Ricardo e lhe disse que era chegado o momento da transferência de comando.
O diálogo talvez não fosse esse, mas as circunstâncias possivelmente manteriam o conteúdo. Ele provavelmente haja dito: “Meu filho, daqui para frente, o comando passa às suas mãos. Já fiz o que podia pela empresa. Agora, a hora é sua. Vá em frente”. O fato é que Ricardo foi em frente. Ampliou o sonho do pai e conferiu à empresa uma estatura e uma estrutura nacionais. Assumiu a construtora contando com a parceria de um colega de turma, Carlos Gebara.
Em fins de 1980, ao saber que a empresa, de origem dinamarquesa, Christiani-Nielsen Engenheiros e Consultores, com atuação no Brasil no segmento de obras públicas, se encontrava à venda, Ricardo não hesitou em viajar até Copenhagen a fim de realizar, na matriz, as gestões para comprá-la e incorporá-la à Carioca Engenharia. As negociações evoluíram, foram complementadas em Nova York e no Rio de Janeiro e finalmente chegaram a bom termo em maio de 1988. A partir dessa aquisição, a Carioca passou a figurar entre as maiores empreiteiras do País.
Atualmente, ela é também pioneira nas concessões para operação de rodovias e de obras de saneamento básico, tem atuado com muita eficiência em todos os campos da engenharia. Seu histórico registra obras como a do Terminal de Gás Natural Liquefeito (GNL), da Petrobras, na Baía de Guanabara; a construção da Cidade da Música “Roberto Marinho”, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, projetado pelo arquiteto Christian de Portzampac; o terminal portuário da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), em Santa Cruz, RJ; o gasoduto Urucu-Coari-Manaus, no estado do Amazonas; as obras de modernização do Aeroporto Santos Dumont e a construção do Expresso Tiradentes, em São Paulo.
Além daquelas obras, a empresa, em consórcio com a Odebrecht e a OAS, venceu a concorrência para executar a segunda parte da revitalização do projeto Porto Maravilha, que prevê a transformação da zona portuária do Rio de Janeiro em ponto turístico, com foco para preparar a cidade a fim de receber a Olimpíada de 2016.
Hoje a empresa, comandada por Ricardo Backheuser, se alinha dentre aquelas que detêm, no País, alta capacidade técnica e um dos mais completos portfólios da construção nacional. De pai para filho, este é o grande legado.
*Linha vermelha (RJ)
Fonte: Padrão