Joseph Young
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A China escolheu ser a fábrica global, começando por artigos com intenso uso de mão de obra, como vestuário e tênis, passando depois para produtos com tecnologia industrial, como automóveis, máquinas de construção e bens de capital, incorporando melhoria contínua dos padrões de qualidade. Atualmente já compete com os países considerados industrializados. Com trilhões de dólares acumulados pelo seu modelo exportador, investiu pesadamente em infraestrutura, a exemplo da sua rede de TAV, que deve atingir 16 mil km até 2020. Passou a exportar ainda essa experiência na engenharia civil, ingressando em mercados maduros, como os Estados Unidos, e virou uma força respeitável em projetos de infraestrutura na Ásia e África, competindo com empresas norte-americanas e europeias, com o suporte de financiamento farto dos bancos estatais chineses.
O Brasil, nos últimos 20 anos, manteve seu modelo exportador de commodities agrícolas e minerais, sem conseguir modernizar sua logística, que continua obsoleta, o que seria uma prioridade natural para quem exporta grandes volumes de mercadorias. Muitos projetos foram anunciados, mas a gestão medíocre dos órgãos contratantes federais, aparelhados pela política, realizou concretamente poucas obras, sem conseguir investir sequer 100% das verbas já aprovadas. A decantada ferrovia Norte-Sul, iniciada há 25 anos, ainda não foi concluída, para citar um exemplo.
Foi pura pirotecnia eleitoreira do governo lançar o PAC 2, uma vez que numerosos projetos do PAC 1 ainda estavam atrasados. O governo já fala em lançar o PAC 3. Talvez um dos poucos programas que deram resultados positivos parciais tenha sido o Minha Casa, Minha Vida. Como não bastasse esse acúmulo de fracassos, o governo federal ainda desmontou o modelo do setor elétrico, tido há décadas como bem-sucedido em atrair investimentos privados. Além de promover um desconto de 20% nas contas de energia elétrica, por causa das eleições, também forçou a renovação antecipada das concessões das usinas hidrelétricas. Seguiu-se um período de seca, com pouca chuva, a mobilização intensa das termelétricas, o descontrole do caixa das distribuidoras e o aumento inevitável das contas de luz, que vai pulverizar o desconto anterior.
A Petrobras continua pendurada no descompasso entre os preços do petróleo e derivados importados e aqueles cobrados nas bombas de gasolina no País. E negligenciou quadros que deveriam ter qualificação e competência técnica, em favor do aparelhamento. Construtoras abandonam os contratos de obras com a estatal por atrasos de pagamento ou falta de reajustes nos preços. Fabricantes de bens de capital ingressam com pedido de recuperação judicial. A União “entrega” novas áreas de exploração do pré-sal e “saca” R$ 2 bilhões do caixa da estatal para cumprir o superávit primário das contas públicas. Com essa nova mágica, a empresa sofre perdas de bilhões no valor de capitalização na bolsa de valores.
Para estimular a economia nos anos recentes, Brasília decide primeiro incentivar o mercado da linha-branca de eletrodomésticos. Depois, os carros “populares”. Para salvar a indústria de equipamentos de construção, que teve um ano recorde em 2011 e investiu em aumento de produção e das equipes técnicas, para trombar com um mercado de obras públicas estagnado nos anos subsequentes, encarregou o Ministério de Desenvolvimento Agrário de comprar, via licitação, milhares de retroescavadeiras, carregadeiras e motoniveladoras, a ser doadas para prefeituras com população de até 50 mil habitantes. A própria indústria setorial reconhece que essa frota de máquinas novas só vai operar enquanto perdurar a garantia da fábrica, porque tais prefeituras não possuem técnicos qualificados nem recursos para adquirir peças de reposição.
Fala-se agora em um novo programa de incentivo para a indústria automobilística, embora o consumidor já não tenha poder de compra para embarcar nessa nova farra de consumo. Os analistas preveem que o PIB vai crescer somente 0,5%, abaixo do índice pífio de 2013. Os agentes econômicos estão ressabiados com a infinidade de medidas cosméticas, que não produzem resultados concretos do governo federal — como um mágico inebriado com suas próprias habilidades, embora o público já tenha se cansado de seus repetidos truques. Como se diz, o dinheiro não leva desaforo para casa. Nem a economia. Quando o governo toca a gestão da economia como a “casa da mãe Joana”, sem projetos e sem objetivos de médio prazo, os agentes econômicos e investidores preferem sair de cena e resguardar seus recursos, à espera de um horizonte mais claro e previsível.
O governo não é o País. As propostas visando a ganhar as próximas eleições não atendem às demandas de curto e médio prazo da população, frente às enormes carências em infraestrutura e serviços públicos. Cresce a consciência do brasileiro de que o País continua e os governos passam; por isso mesmo, os interesses da nação têm de se sobrepor à voracidade imediatista dos governantes. A Copa do Mundo passou; e as filas nos pontos de ônibus e hospitais públicos permanecem, assim como a falta de vagas nas escolas. Este é o desafio dos novos governantes a ser eleitos em outubro próximo. É tempo de mudança, porque os velhos modelos de gestão pública que persistem há décadas estão falidos.
Fonte: Revista O Empreiteiro