Depois que a Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR), conquistou o trecho Oeste do Rodoanel, em junho último, com deságio de 61% sobre o preço sugerido para o pedágio (R$ 3,00), oferecendo uma tarifa de R$ 1,1684 para administrar por 30 anos os 32 quilômetros de rodovia, o presidente da empresa, Renato Vale, disse à imprensa: “Apresentamos uma proposta que respeita a nossa disciplina de capital, sem nenhuma aventura”.
A afirmação pode ser analisada como uma interpretação do conjunto de critérios com os quais a CCR tem procurado orientar seu comportamento, em um mercado extremamente competitivo. Dentre esses critérios sobressaem os cuidados nos procedimentos para viabilizar “soluções de investimentos e serviços em infra-estrutura” e demonstrar a validade de alguns princípios que ela tem difundido, tais como: prestar serviço público de qualidade voltado às necessidades dos cidadãos como fundamento da perpetuidade do negócio; responder pela responsabilidade social na preservação da vida e do meio ambiente; e manter a gestão participativa e a remuneração por resultados.
A holding foi criada em 1998 por iniciativa de empresas como a Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e a Serveng Civilsan, tornando-se responsável pela administração da Autoban (SP), Nova Dutra (SP-RJ), Rodonorte (PR), Ponte S.A. (RJ), Vialagos (RJ) e Viaoeste (SP). Esse conjunto de empresas, denominado Sistema CCR, detém a participação de 10% na concessão da Northwest Parkway, em Denver, Colorado (EUA). Em busca da internacionalização, ela inaugurou, em 2007, escritórios no México, EUA, Canadá e Chile.
Em março deste ano, ela assinou contrato de compra e venda de ações sob condições suspensivas para aquisição de 40% do capital da concessionária Renovias. O controle de seu capital está dividido entre os três grupos empresariais brasileiros e o português Brisa. Das ações ordinárias, 29% são negociadas no Novo Mercado da Bovespa.
A CCR informa que o mercado de capitais sempre fez parte da plataforma de seu crescimento e do processo de sua consolidação. E salienta que a transparência mantida para com o investidor é uma das premissas de sua política, cujo objetivo “é aumentar e diversificar a rede de rodovias administradas pelas nossas concessionárias”.
A holding lembra que, em sua trajetória, uniu-se à Fundação Dom Cabral atenta à necessidade de “promover o conhecimento e o desenvolvimento em governança corporativa, com a criação do núcleo CCR de Governança Corporativa”. Essa parceria foi reafirmada em 2007 com a criação do núcleo CCR de Infra-Estrutura e Logística, que busca “o desenvolvimento de projetos, pesquisas e outras ações”.
A CCR foi selecionada para permanecer na composição do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bovespa em 2008. Tal índice mede o retorno de uma carteira teórica composta por 40 ações de 32 companhias de 13 setores reconhecidamente comprometidos com a responsabilidade social e empresarial. Para firmar-se nesse patamar, a empresa selecionada deve ter as suas ações entre as 150 mais negociáveis da Bovespa.
O balanço da CCR, no primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, demonstrou avanço de 7,5% no tráfego, e um lucro líquido de R$ 167 milhões. Hoje, ela administra 1.484 quilômetros de rodovias da malha concedida nacional, nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, sob a gestão daquelas concessionárias. É a maior empresa de concessões de rodovias no Brasil e uma das maiores da América Latina.
Trecho Oeste, a peça que faltava
O trecho Oeste do Rodoanel começa a ser operado pelo Consórcio Integração Oeste (Concessionária Rodoanel), formado pela CCR (95%) e pela Encalso Construções Ltda. (5%). Com a concessão, conforme contrato firmado com o governo do Estado, os usuários passam a contar com os serviços de assistência já colocados à disposição do público, pela concessionária, em outras rodovias. A concessão prevê pagamento de outorga de R$ 2 bilhões em dois anos e investimentos da ordem de R$ 465 milhões, ora já em processo de aplicação.
O trecho, por onde passam 240 mil veículos/dia, foi concebido pelo governo estadual como uma das soluções para o tráfego da Região Metropolitana. Grande parte desses veículos utiliza diariamente as rodovias da CCR: a Anhangüera, Bandeirantes, Raposo Tavares e Castello Branco.
Em cumprimento ao contrato, a empresa, desde que assinou o documento, passou a investir em melhorias ao longo do trecho: construção de vias marginais, passarelas, acessos e melhoria no pavimento. Simultaneamente, passou a cuidar de montar um moderno sistema de comunicação e controle, com instalação de redes de radares, postos de pesagem, radiotelefonia, telefones de emergência, painéis de mensagens, detector de neblina, estação meteorológica e câmeras de monitoramento do tráfego. Aos poucos, o trecho começa a ganhar status de “rodovia inteligente”.
Dentre as principais obras previstas no projeto para a melhoria geral do trecho se incluem: implantação de vias marginais entre as interseções da saída Padroeira e Rodovia Raposo Tavares; construção de faixa adicional (5ª), entre os trevos das rodovias Castelo Branco e Raposo Tavares; recuperação de seis quilômetros da marginal de Carapicuíba; construção de três passarelas; melhoria nos acessos da Castello Branco e na interseção de Padroeira e instalação de barreiras acústicas, dentre outras intervenções de obras de engenharia rodoviária.
Ao longo do trecho as obras de maior destaque são três túneis duplos, construídos com técnicas avançadas de engenharia; seis pontes, sete trevos e 62 viadutos.
O novo “cebolão” da Marginal Tietê
Uma das mais importantes obras que a CCR vem realizandoé o novo “cebolão” projetado para desafogar o acesso da Anhangüera à Marginal Tietê. Ele é constituído de duas pontes e um viaduto. Além destas, outras obras compõem o que está sendo chamado de Complexo Anhangüera. O gerenciamento, do projeto a todas as fases da execução, é de responsabilidade da Engelog, empresa que articula projetos e obras de engenharia do Grupo.
O projeto do complexo viário e das demais obras adicionais prevê opções para eliminar o tradicional gargalo que diariamente trava o tráfego da capital, naquele trecho. Para esse fim, foram concebidas três pontes: uma vai ligar o bairro da Lapa no sentido interior da Anhangüera; outra estabelece a ligação entre a Marginal Tietê e o sentido interior da rodovia; e a terceira ponte favor
ece o sentido capital – Anhangüera, até a Marginal Tietê.
A ponte Atílio Fontana, atualmente o principal acesso para os usuários que vêm do interior ou de bairros paulistanos que pretendem ingressar na Marginal, será transformada em via de mão única rumo à Lapa.
O conjunto das obras de arte está sendo construído com a utilização da tecnologia dos balanços sucessivos: o tabuleiro vai avançando sobre os pilares, de modo a evitar que o ritmo da construção interfira no tráfego, o que provocaria transtornos no sistema de circulação viária da cidade. Além das pontes, integram o conjunto, dentre outras, as seguintes obras: ampliação da interseção da Anhangüera com a Marginal Tietê; ampliação e reformulação do trecho do Jaraguá; construção de um trevo de interligação da avenida Mutinga; construção de 15 novas pontes e viadutos; cinco ampliações de obras existentes para implantação de faixas adicionais; 14 quilômetros de pistas marginais e oito quilômetros de faixas adicionais e seis novas passarelas, além da ampliação das já existentes. Os recursos que estão sendo aplicados nessas obras são da ordem de R$ 410 milhões.
As concessionárias da holding
NovaDutra. – A NovaDutra, administrada pela CCR, é a responsável pela transformação que desde 1996 a rodovia vem experimentando. Não é por outro motivo que seguidamente, de 2003 a 2007, ela tem ganho o Prêmio NTC & Logística Fornecedores do Transporte, como a melhor concessionária de rodovia, em votação realizada entre transportadores do País.
Quando a NovaDutra assumiu a tradicional ligação Rio-SP, de 402,2 quilômetros de extensão, em março de 1996, a situação era caótica: as pistas estavam esburacadas, a sinalização precária, o mato tomava conta do canteiro central, as defensas metálicas se encontravam retorcidas e a sujeira e os perigos se estendiam ao longo do percurso.
De imediato foram realizadas as seguintes obras prioritárias: implantação de 34 km de pistas marginais; 10,3 km de terceiras faixas; construção de 26 passarelas; construção de 23 pontes e viadutos; reforma e alargamento de 27 pontes e quatro passarelas; reforma de 10 viadutos, implantação de 12 novos trevos de acessos; implantação de 308 km de barreiras de concreto; instalação de 108 km de teles anti-ofuscantes e colocação de 1,6 milhão de m² de sinalização horizonte e 38,8 mil m² de sinalização vertical.
Ainda recentemente, a empresa concluiu as obras de recuperação e alargamento da ponte sobre o rio Queluz, no km 8,08 e do viaduto sobre o acesso àquele município, do km 7,90, na região do fundo do Vale do Paraíba.
No trecho paulista foram numerosas as obras de engenharia construídas. Haja vista a execução de 12,8 km de pistas marginais entre São Paulo e Guarulhos, por onde circulam diariamente cerca de 250 mil veículos; também foram construídos 7,6 km de pistas marginais na região de são José dos Campos, bem como foi feito o novo trevo de Bonsucesso, no km 209.
Hoje, o trecho São Paulo-Guarulhos se destaca pela modernização das pistas e das obras dos acessos. Ponte S. A. Quando a concessionária assumiu a administração da operação da Ponte Rio-Niterói, talvez muita gente não soubesse que aquela era a primeira vez, no Brasil, que se adotava o regime de concessão de uma grande estrutura rodoviária para a iniciativa privada. E o modelo adotado provou que aquela era a forma moderna e coerente de se proceder em relação a um patrimônio utilizado por milhões de pessoas.
Até recentemente, a concessionária já investiu mais de R$ 200 milhões na execução de um amplo programa de recuperação, manutenção e operação da ponte, que foi inaugurada no dia 4 de março de 1974. Tudo, nessa obra, é maiúsculo: tem 13 km de extensão; 10 km de acessos; 300 m no vão central e é considerada a maior estrutura protendida das Américas. Ali, os trabalhos de reforço dos pilares e de manutenção dos tabuleiro precisam a ser constantes. Afinal, tem de suportar um tráfego normal, diário, de 130 mil veículo, número que costuma subir para 170 mil às vésperas de feriados e nos picos do verão.
Autoban. Administra o Sistema Anhangüera/Bandeirantes, composto pelas rodovias Anhangüera (SP-330), Bandeirantes (SP-348), Dom Gabriel Paulino Bueno Couto (SP-300) e a interligação Adalberto Panzan (SP-102/330), somando 316,75 quilômetros de extensão. O sistema é um considerado um dos mais eficientes do País. A concessionária já investiu, nele, mais de R$ 2,2 bilhões.
Viaoeste. A concessionária administra o sistema Castello Branco/Raposo Tavares, integrado também pelas rodovias Senador José Ermírio de Moraes e Dr. Celso Charuri. Com movimento médio de 600 mil viagens/dia, os 162 quilômetros de rodovias administrados pela empresa ligam a capital ao Oeste do Estado. Desde o começo da concessão, ela investiu R$ 1,5 bilhão no nas diversas obras do sistema.
Renovias. A Renovias, adquirida pela CCR este ano, por R$ 265 milhões, segundo o mercado, vem administrando 345,6 quilômetros que ligam Campinas ao sul de Minas Gerais. Com distribuição de 220,5 quilômetros de pistas duplas e 125,1 quilômetros de pista simples, a malha tem interfaces com 15 municípios: Campinas, Jaguariúna, Santo Antônio da Posse, Mogi Mirim, Mogi guaçu, Estiva Gerbi, Aguaí, Casa Branca, Mococa, Espírito Santo do Pinhal, São João da Boa Vista, Águas da Prata, Vargem Grande do Sul, Itobi e São Jospe do Rio Pardo.
Vialagos. Ela administra a Rodovia dos Lagos, com 56 km de extensão ligando Rio Bonito a São Pedro da Aldeia, passando por Araruama e Iguaba Grande, possibilitando acessos a Saquarema, Arraial do Cabo, Cabo Frio e Armação dos Búzios e à região norte do litoral fluminense, onde estão os municípios de Barra de São João, Rio das Ostras e Macaé.
O curioso, no caso da Vialagos, é que ela administra uma rodovia que corresponde ao primeiro contrato de concessão, no País, em âmbito estadual. A rodovia, hoje, não lembra, sequer de longe, a antiga RJ-124, que era uma estrada de pista simples, insegura, com perigo rondando as suas margens. Hoje tem pistas duplas bem sinalizadas.
Rodonorte. A concessionária administra quatro segmentos de rodovias principais e trechos de acesso, somando 567 km de extensão: a BR-277 e BR-376 (ligação entre Curitiba e as principais cidades do norte do Paraná); a PR-151 (ligação Ponta Grossa, Jaguariaíva e Sengés) e a BR-373 (entre Ponta Grossa e o Trevo Caetano, saída para o norte do Paraná e Foz do Iguaçu).
Em dez anos operando aquelas r
odovias, a Rodonorte já investiu, segundo a CCR, cerca de R$ 1 bilhão em amplas melhorias, incluindo recuperação do pavimento e de acostamento e sinalização.
A concessão da Linha 4 do Metrô
A Viaquatro é a concessionária da CCR que vai operar e manter a Linha 4 (Via Amarela) do metrô paulistano, por 30 anos. Este foi o primeiro contrato já firmada, no País, para exploração de uma linha de metrô pela iniciativa privada. Por esta linha, que está sendo apressada tendo em conta a Copa do Mundo de 2014, deverão passar diariamente mais de 1 milhão de passageiros. Segundo o cronograma, ela deverá ser concluída (trecho Vila Sônia-Luz) até 2013. No período, a Viaquatro deverá investir R$ 5 bilhões em equipamentos e sistemas operacionais.
Fábio Russo Corrêa, gerente financeiro do Grupo CCR, ao fazer palestra recentemente em seminário promovido pela Euromoney, em São Paulo(SP), falou dessa concessão, durante a qual serão exploradas a primeira fase da linha 4 (Butantã-Luz, correspondente a seis estações); a segunda fase (Vila Sônia-Luz, correspondente a 11 estações) e a terceira fase (Taboão-Luz, correspondente a 13 estações), cujo cronograma ainda não foi divulgado.
O contrato da concessão, segundo ele, foi elaborado prevendo uma série de mitigações de riscos. Na prática, ela não terá riscos maiores. Exemplo: caso o governo, por esse ou aquele motivo, resolva não aumentar a tarifa da linha em determinado período, por este ou aquele motivo, a concessionária continuará a receber o subsídio correspondente ao complemento do aumento. E, da mesma forma, caso a demanda reflua, ela também estará isenta de eventuais prejuízos. Resumindo: ela sempre estará recebendo 100% da receita líquida.
Fonte: Estadão