Uma das usinas foi construída com vertedouro de 1,34 km de extensão
Augusto Diniz
A UHE Santo Antônio do Jari, na divisa dos Estados do Amapá e Pará, no rio Jari, do grupo EDP, está em plena operação desde o início do ano. São três turbinas principais, tipo Kaplan de eixo vertical, e uma turbina tipo Kaplan S de eixo horizontal funcionando na central hidrelétrica complementar.
Segundo a Cesbe, a potência instalada inicial era de 373,4 MW, com geração média de energia de 201,6 MW, mas ajustes recentes na casa de força elevou a potência nominal para aproximadamente 390 MW. A usina está interligada ao sistema nacional de energia elétrica.
O vertedouro da UHE Santo Antônio do Jari tem 1,34 km. A adoção de tão extensa estrutura teve como principal motivo permitir que, no período de cheia, toda a “ferradura” da cachoeira de Santo Antônio ficasse abastecida de água.
Além disso, foi levada em conta a disponibilidade de materiais locais de construção, e a vantagem de não precisar executar um vertedouro controlado, que requer maiores custos de obra, operação e manutenção.
Apesar da baixa altura (12 m, em média), a Cesbe acredita tratar-se de um dos vertedouros livres mais longos do mundo. O volume da barragem de concreto é de 125 mil m³, e do vertedouro, 95 mil m³. A fundação foi direta sobre rocha.
Para a construção da usina no rio, foram executadas ensecadeiras e estrutura de desvio composta de nove adufas (regulador de vazão), junto à margem esquerda, que garantiram que em nenhum momento a cachoeira deixasse de apresentar a vazão mínima estabelecida pelas exigências ambientais.
A principal dificuldade encontrada para executar a obra, dentro do cronograma, de acordo com a empresa, concentrou-se na logística de transporte de insumos, equipamentos e pessoal. A logística de transporte de materiais se deu por via rodoviária e fluvial (por meio de balsas), e a de pessoal, por via aérea e terrestre.
Foi implantado rigoroso plano de transporte fluvial, de modo a assegurar a chegada dos recursos previstos dentro do prazo estipulado, através de gerenciamento em tempo integral, visando não acarretar atrasos ou paralisações, em todas as etapas da obra.
De difícil acesso, o rio Jari foi o principal meio de movimentação dos componentes da usina.
Usina tem potência nominal de 390 MW. Vertedouro de 1,34 km para manter a “ferradura” da cachoeira abastecida de água no período de cheia
A maior parte do cimento foi transportada em “big bags” por balsa, tendo como origem a fábrica de cimento da Nassau, em Capanema (PA), com deslocamento rodoviário até o porto da Navegação Sion, em Belém (PA). Na sequência, o transporte do cimento era feito por meio fluvial durante quatro dias até o porto de Munguba, no rio Jari, situado abaixo da cidade de Monte Dourado (AP); depois, o insumo seguia até o canteiro por carretas rodoviárias em trecho não pavimentado de cerca de 60 km.
O aço foi transportado por via rodoviária também até Belém, onde era feito carregamento para as balsas, seguindo por via fluvial até o porto de Munguba, de onde depois seguia por meio rodoviário – utilizando a mesma logística do cimento.
Uma média de 1.350 colaboradores se envolveu nas obras da UHE do Jari, com 2.838 colaboradores no pico. Cerca de 650 colaboradores ficaram alojados, sendo que, no auge dos trabalhos, chegou-se a alugar um navio-dormitório, que ficou ancorado junto à obra, para atender ao pessoal mobilizado.
As máquinas pesadas envolvidas no projeto incluíam 12 escavadeiras, 12 caminhões fora de estrada convencionais, seis caminhões fora de estrada articulados, nove tratores de esteira, cinco rolos compactadores, nove pás-carregadeiras, cinco motoniveladoras, três guindastes de pneus, quatro gruas, além de diversos equipamentos de menor porte.
UHE Cachoeira Caldeirão, em obras, tem arranjo mais compacto que o do Jari
O canteiro de obras da UHE do Jari teve a seguinte configuração: na margem direita, uma usina de concreto misturadora (capacidade 80 m³/h), uma usina de CCR (300 t/h), uma usina de concreto dosadora (40 m³/h), uma fábrica de gelo (100 t/dia) e uma central de britagem (160 m³/h); já na margem esquerda, foi instalada uma usina de concreto dosadora (40 m³/h).
Uma linha de transmissão de 230 kV, também construída pela Cesbe, com extensão de 19,6 km, conectou a usina à subestação Laranjal do Jari (AM).
A nova hidrelétrica aproveitou o desnível de rio, de 15 m, na altura da Cachoeira de Santo Antônio do Jari. A área de represamento do rio Jari é de 31,7 km² e houve realocação de 37 famílias. Novas vilas foram construídas para receber a população realocada – essas obras também foram executadas pela Cesbe.
Como contrapartida, a empresa EDP realizou investimentos em saúde, segurança pública e educação, nos municípios de Laranjal do Jari, Almeirim (PA) e Vitória do Jari (AP), região impactada pela construção da usina. Foram implementados 38 programas socioambientais, como monitoramento da fauna, da flora e da qualidade da água, capacitação profissional da população local e fortalecimento de serviços públicos.
As obras da UHE Cachoeira Caldeirão, no rio Araguari, em Porto Grande (AP), executadas também pela Cesbe, estão com aproximadamente 80% de avanço físico. O empreendimento possui três turbinas do tipo Bulbo, com 73 MW de potência cada, totalizando 219 MW instalados. A obra tem dois vertedouros, controlado e livre.
Em relação à UHE do Jari, a UHE Cachoeira Caldeirão tem um arranjo mais compacto, o que facilitou sobremaneira, segundo a construtora, o início das obras, a configuração das ensecadeiras e a distribuição e controle das equipes no campo.
As turbinas do tipo bulbo, com as quais a Cesbe ainda não tinha experiência, demandou estudos de execução. Embora as turbinas tragam uma série de facilidades com relação às geometrias e etapas de concretagem, há um maior rigor de posicionamento e especificidades construtivas, exigindo o emprego de tecnologias especiais – que tiveram que ser assimiladas e desenvolvidas pela empresa, através de pesquisas e consultorias.
Apesar do cronograma limitado, os esforços para entregar a obra dentro do prazo têm sido intensos e efetivos. A construtora afirma ter conseguido efetuar as entregas parciais até antes do prazo, a exemplo do que aconteceu na UHE Santo Antônio do Jari.
A UHE Cachoeira Caldeirão também tem uma logística complexa, que demanda modal misto rodoviário e fluvial. Porém, por estar mais próxima à capital do Estado, Macapá, dispõe de maior oferta local de suprimentos secundários, além de mais disponibilidade de rodovias pavimentadas.
Além disso, a oferta de voos, para transporte dos colaboradores, e de balsas, para fazer a travessia entre Belém (PA) e Macapá, é mais regular.
O empreendedor, o grupo EDP, além de efetuar as indenizações referentes às áreas atingidas, realiza diversas ações socioambientais na região. Entre elas, fará a remodelação da orla do rio Araguari na cidade de Porto Grande, obra esta que também contará com a participação da Cesbe.
Ficha Técnica – UHE Santo Antônio do Jari (AP)
– Proprietária: EDP
– Projetista: MEK Engenharia
– Construtora: Cesbe
– Consórcio eletromecânico: Alstom/Areva
Ficha Técnica – UHE Cachoeira Caldeirão (AP)
– Proprietária: EDP
– Projetista: VLB Engenharia
– Construtora: Cesbe
– Montagem: Alstom
Fonte: Redação OE