A dragagem, primeira etapa para recuperar o porto de Itajaí, deixa-o em condições de operação parcial. Em conjunto com o porto de Navegantes (privado), ele volta a dar sustentação à economia catarinense, enquanto a reconstrução de dois berços destruídos pelas enchentes é iniciada
O Consórcio Draga Brasil (EIT +DTA +Equipav + CHEC) deu resposta imediata à Secretaria Especial de Portos e, seguindo um cronograma balizado pela emergência, colocou a equipe de engenharia e equipamentos corretamente dimensionados a serviço da dragagem do porto de Itajaí. O canal de navegação e dois berços do cais de atracação tinham sido comprometidos pelas enchentes que traumatizaram o Estado.
O porto de Itajaí localiza-se na margem direita do rio Itajaí-Açu, que forma a maior bacia hidrográfica da vertente atlântica no Estado, com 15.500 km² de extensão. Peça fundamental na economia catarinense, ele correu o risco de colapso absoluto em razão das enchentes de novembro/dezembro, que provocaram a morte de mais de 120 pessoas e imobilizaram as atividades econômicas locais.
A tragédia ocorreu em um momento singularmente marcado por duas coincidências: 1. A Secretaria Especial de Portos (SEP), à frente o ministro Pedro Brito, vinha procurando dinamizar o Programa Nacional de Dragagem, inclusive incorporando-o ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), voltado para os trabalhos de dessassoreamento dos canais de navegação dos portos brasileiros. 2. Três empresas tradicionais da engenharia do País – a DTA Engenharia, Equipav S. A. e Empresa Industrial Técnica S. A. (EIT) já haviam constituído o Consórcio Draga Brasil, com a parceria da empresa chinesa CHEC Dredging Co. Ltda., subsidiária da Shangai Dredging Co.
O objetivo do consórcio era colocar à disposição da infraestrutura portuária brasileira a inteligência da engenharia, compreendendo projeto, planejamento, equipamento e capacidade gerencial. O consórcio já estava participando da licitação para dragar o Porto do Recife, quando as chuvas e, em seguida, as cheias na bacia do Itajaí, destruíram o porto.
No lugar certo e na hora certa
Como o consórcio se encontrava, naquele momento, em fase de gestões para ingresso no Programa Nacional de Dragagem, acabou rapidamente mobilizado para as obras de emergência. "Estávamos no lugar certo e na hora certa", diriam, depois, os responsáveis pela Draga Brasil, ao explicarem porque conseguiram, em tão poucos dias, acionarem máquinas – as dragas – e equipes técnicas.
O engenheiro João Acácio Gomes de Oliveira Neto, presidente da DTA Engenharia, com longa vivência na Transpavi-Codrasa que, em sua época, foi considerada a maior empresa de dragagem da América Latina, diz que imediatamente à convocação para que o consórcio participasse de recuperação do porto de Itajaí, cuidou de analisar as diversas interfaces.
Ele já conhecia o problema das enchentes no Vale do Itajaí. Esteve por lá em 1983 e em 1984. Visitou Blumenau, a montante e, depois, o porto, a jusante. Os estragos foram enormes. Falava-se, na ocasião, que enchentes daquela ordem não poderiam voltar a acontecer em menos de 100, 200 ou até 500 anos. A previsão estava furada. Passados 25 anos, nova tragédia ocorreu e em doses superiores.
"O mundo da hidrologia é estatístico e, portanto, é o mundo das probabilidades. Jamais pode ser analisado do ponto de vista das certezas absolutas", afirma o engenheiro. Em fins de novembro e começo de dezembro últimos havia chovido muito na cabeceira dos cursos d´água – sobretudo no rio Itajaí-Açui – que formam a bacia do Vale do Itajaí. E extraordinário volume de sedimentos, no geral argila, silte e areia, foi se acumulando na calha do rio, inviabilizando a movimentação de navios no canal de navegação até o porto.
Além disso, conforme lembra o engenheiro Labieno Mendonça, diretor superintendente do Grupo Equipav, a posição geográfica do porto acabou favorecendo o aumento dos danos. Ele fica na margem direita do Itajaí, rigorosamente no trecho côncavo mais exposto à velocidade das águas. E, estas, não perdoaram. Entrou sob o cais, apressando o processo de erosão que fez ruir os dois berços de atracação. No lado esquerdo do rio, o Porto de Navegantes ficou imune à tragédia, à exceção do assoreamento ocorrido na bacia de evolução que, comum aos dois portos, impossibilitava a chegada de navios até ali também.
A partir dos indicadores técnicos colhidos in loco foi possível delinear o projeto de engenharia que proporcionaria eficiência e rapidez aos trabalhos de dragagem. "Tratava-se, no conjunto", afirma João Acácio, "de aplicar ali uma das lições assimiladas pela inteligência da engenharia: uma ação integrada, na conformidade do equilíbrio entre projeto, execução e especificação do equipamento adequado".
As operações para liberar o canal
Conhecidos os estudos técnicos e o projeto emergencial elaborado pela empresa Hidrotopo, a Draga Brasil ainda teria pela frente alguns problemas para atuar no canal. O ministro Pedro Brito estivera em Itajaí examinando as condições portuárias. Uma solução se fazia iminente. Afinal, é por ali que o Estado de Santa Catarina movimenta alguma coisa na faixa de US$ 30 milhões de dólares/dia. Portanto, o governo federal, em conjunto com os governos estadual e municipal, teria de dar uma resposta imediata. Não havia margem para quaisquer postergações.
A licitação para os trabalhos foi carimbada como emergencial. A Draga Brasil, em disputa com mais três empresas de dragagem (duas delas estrangeiras) ofereceu, conforme os seus representantes, o menor preço – 35% abaixo da segunda empresa classificada. Acabou, então, vencendo a concorrência para executar os serviços, orçados em cerca de R$ 17 milhões.
Cálculos posteriores do governo mostraram que a recuperação total do porto de Itajaí deve absorver, ainda, R$ 198 milhões: R$ 170 milhões na reconstrução dos berços 1 e 2 e R$ 28 milhões na reconstrução do pátio interno (retroárea).
"Em nossa proposta para a dragagem", informa João Acácio, "previmos a operação de duas dragas – uma de médio porte, capacidade para 3 mil m³, da CHEC Dredging, de bandeira brasileira, que estava na Argentina, e outra da mesma empresa chinesa, integrante do no
sso consórcio, que se encontrava em trabalho no Porto de Açu no Rio de Janeiro, com capacidade para 13.500 m³, e que pôde ser liberada. São dragas de propulsão própria e que navegam como grandes navios.
Com essas máquinas, conforme relata Labieno Mendonça, foi possível o atendimento da emergência. "Começamos a dragar no dia 30 de dezembro. A primeira batimetria que fizemos para avaliação da evolução dos serviços constatou que em 20 dias tínhamos dragado 1,20 milhão de m³ de material nos canais de navegação e na bacia de evolução. É importante analisar o seguinte: fomos contratados no dia 19 de dezembro; no dia 22 recebemos a ordem de serviço e 20 dias depois já pudemos apresentar aquele resultado".
Além do cronograma, o consórcio enfrentaria as dificuldades normais em dragagem do gênero, não fosse a quantidade de sedimentos. A ordem de serviço era clara: o consórcio teria de entregar, em um primeiro momento, e em prazo apertado, o canal de navegação, em caráter de emergência, com 9,5 m de profundidade, a fim de que pelo menos 80% dos navios que operam ali pudessem acostar sem riscos. Esta primeira etapa teria de ser concluída até final de janeiro último. Esse prazo foi atendido e, segundo o consórcio, "estima-se que os serviços de dragagem, como um todo, fiquem prontos até final de fevereiro, 30 dias antes, portanto, do prazo contratual de 90 dias".
Labieno Mendonça diz que, com a liberação parcial do canal em Itajaí, e com o funcionamento, normal do Portonave (Porto de Navegantes, na outra margem do rio), que não chegou a ser afetado pelas enchentes, o movimento de exportação e importação através dos portos de Santa Catarina começa a ser normalizado.
"Enfim", afirma o engenheiro", nós pudemos dar uma resposta rápida ao governo e à comunidade, do ponto de vista de operações de dragagem: articulamos e aplicamos a experiência da engenharia em obra desafiadora, colocamos em operação equipamento chinês e quebramos um paradigma, oferecendo um preço justo".
O engenheiro Sérgio Barreira, diretor da EIT, diz que o resultado referido por João Acácio e Labieno Mendonça é coerente com a capacidade do consórcio. Destaca que a EIT nunca operara, antes, diretamente, em serviços de dragagem. Mas se preparou para ingressar "nesse clube seleto da engenharia". "E tanto nos preparamos", acrescenta ele, "que trouxemos a empresa chinesa, com toda a sua experiência, para os nossos quadros".
Sérgio Barreira afirma que a posição do consórcio deixou satisfeitos o ministro Pedro Brito, Secretário Especial de Portos, a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil e a senadora Ideli Salvatti que têm se empenhado muito, "ao lado de outros integrantes do governo Lula da Silva, na solução do problema das enchentes de Santa Catarina, em especial, o porto de Itajaí".
A reconstrução dos berços
Vencida a etapa da dragagem, vem a fase da reconstrução dos berços e serviços adicionais no porto de Itajaí. A Secretaria Especial de Portos (SEP) informa que o consórcio escolhido para a construção dos berços destruídos pelas enchentes é formado pelas empresas Triunfo (que construiu o Porto de Navegantes – Portonave); a Constremac (que está construindo o berço zero do Teconvi em Itajaí) e a Serveng.
Fonte: Estadão