A região Nordeste foi subestimada economicamente nas últimas décadas. O fenômeno ocorreu por conta de uma avaliação demasiadamente pragmática de números momentâneos, o que provocou planejamentos equivocados e incapazes de antecipar a dinâmica da economia. Hoje, as teorias que recomendavam a concentração de investimentos no Sul e Sudeste foram atropeladas pela crescente relevância do mercado nordestino. Vários processos econômicos e sociais em curso nos últimos anos estão demonstrando resultados que não podem mais ser ignorados. Em 2003, o PIB da região bateu os R$ 214,5 bilhões, maior que o do Chile. A renda per capita cresce substancialmente e o consumo popular e a produção foram os que mais avançaram no Brasil recentemente. E o mais importante é que essa expansão está se dando principalmente em forma de uma economia (anteriormente exclusiva fornecedora de matérias-primas) baseada em indústrias que produzem de chips a automóveis. Essas atividades garantem investimentos de longo prazo, mão-de-obra mais qualificada e melhor remunerada. Dessa maneira, é possível afirmar que não se trata de um acontecimento sazonal, mas de uma tendência sólida. Essas condições aliadas à qualidade de vida oferecida e à saturação de centros mais ao sul, tornam o Nordeste um destino muito atrativo para os investidores privados. E nesse grupo destacam-se as empresas especializadas em logística que, por sua vez, serão responsáveis por materializar as operações de todas as demais indústrias produtivas interessadas em atuar na região. O aquecimento da economia nordestina, bem como do Norte e Centro-Oeste, tornou o consumo brasileiro menos verticalizado e isso evidencia a localização geográfica privilegiada do Nordeste. Com a demanda por produtos crescendo em mercados periféricos e anteriormente insípidos, a lógica determina uma distribuição nacional (e exportação) com base na região. A Bahia, por exemplo, oferece ao mesmo tempo características relativamente eqüidistantes em território nacional e fácil acesso ao mar para o mundo. Em um país com dimensões continentais essas condições são fundamentais para a atuação empresarial. Para ser transformado em benefício, no entanto, todo esse vento a favor deve ser acompanhado por uma contrapartida de investimento público em infra-estrutura de transportes. Com sua capacidade portuária relativamente consolidada, os estados do Nordeste devem concentrar esforços para modernizar o transporte terrestre e tornarem-se, efetivamente, a melhor opção para o abastecimento do mercado interno. Para isso é urgente recuperar rodovias, investir em ferrovias e utilizar toda a capacidade hidroviária do Rio São Francisco. Dos mais de 430 mil km de rodovias do Nordeste, pouco mais de 10% são pavimentados. Dessas, mais de 50% são consideradas precárias pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Segundo a entidade, a região carece de um programa de recuperação das estradas e caminhões com excesso de peso trafegam irregularmente por falta de fiscalização, o que acelera a degradação. A conclusão da duplicação da BR – 101 Nordeste em 2007, por exemplo, deve ser tratada como prioridade e será um excelente indicativo da disposição da região em desenvolver sua vocação logística. Os principais corredores de ligação com o Sudeste e Centro-Oeste também são fundamentais para o estabelecimento das indústrias. É interessante, no momento, os governos estaduais criarem um ambiente para estimular o investimento privado, notadamente com a regulamentação clara das PPPs. Também é preciso convencer o Governo Federal da necessidade por recursos no transporte terrestre. Está havendo uma situação em que o Orçamento prevê quantias interessantes para as obras, mas o Estado executa muito pouco. Em 2006, foram investidos no Corredor Nordeste apenas 35% do previsto e no Corredor São Francisco meros 37%. Este último um projeto exemplar de integração entre diversos modais que, quando totalmente implementado, servirá como referência de transporte inteligente para todo o País. Nesse sentido, enquanto Brasília economiza, o Nordeste deixa de faturar. É preciso lembrar que investimentos em infra-estrutura demoram de três a sete anos para apresentar resultados práticos, portanto, o timing para as obras é agora. As estratégias das grandes empresas que se preparam para investimentos robustos e perenes consideram esse hiato de tempo, mas exigem posicionamentos claros sobre as realizações. A intenção de produzir esforços para não desperdiçar essas condições favoráveis para os negócios no Nordeste pode ser a primeira parceria celebrada entre governos e iniciativa privada. A capacitação do Nordeste como player atuante no cenário econômico é vital para o desenvolvimento do País. Sua capacidade para o trabalho e geração de riquezas pode ser o aditivo fundamental para o plano do Presidente de “destravar” o País. O capital produtivo já compreendeu a oportunidade e está de malas prontas. Um sistema de transportes eficiente vai precipitar essa viagem. *Presidente da Ryder Logística para o Brasil é formado em Engenharia Eletrônica pela Faculdade de Engenharia Industrial, possui PHD em Finanças pela Fundação Getúlio Vargas – FGV – e MBA pela New York University.
Fonte: Estadão