Engenharia do proprietário: muda o recurso, fica o DESAFIO

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João Carlos Mello*

Odesenvolvimento de usinas para geração de energia foi um dos maiores trunfos da engenharia brasileira nas últimas décadas. Esse processo garantiu a construção de um parque hidrelétrico que está entre os maiores do mundo e que o País consolidasse uma ampla cadeia de produtos e serviços para as obras dessas usinas, que vai da produção de turbinas e concreto até o fornecimento de serviços de terraplenagem e licenciamento ambiental.

Essa cadeia também inclui o serviço da engenharia do proprietário, que envolve a terceirização do gerenciamento do projeto. É o “olho do dono” na obra. Isso possibilitou que empreendedores que não tinham expertise na área pudessem entrar no setor sem necessariamente ter de desenvolver novas áreas de negócio.

Hoje, em paralelo à construção das grandes hidrelétricas, há uma série de empreendimentos de novas renováveis, como a eólica, um dos maiores acontecimentos do setor elétrico brasileiro nos últimos anos. Entre 2005 e 2010, a capacidade instalada da fonte saltou de 29 MW para 928 MW. Além disso, o volume já contratado deve fazer com que, até 2013, atinjam-se 5 GW instalados.

Esse cenário deve-se à combinação de fatores como incentivos governamentais e a crise global dos últimos anos. O Proinfa fomentou não só a contratação de parques eólicos a custos de energia considerados atraentes, como garantiu condições para a produção nacional dos equipamentos. Além disso, com a desaceleração econômica dos Estados Unidos e Europa, fabricantes de equipamentos se voltaram para o Brasil para escoar pelo menos parte da produção não absorvida pelos tradicionais usuários desses sistemas.

O ambiente favorável atraiu ao segmento tanto empreendedores tradicionais do setor elétrico como investidores interessados em diversificar ativos. Mas, com o tempo, alguns desses novos investidores perceberam que não se trata de uma atividade necessariamente simples. Atrasos nos projetos contratados por meio do Proinfa, dificuldades para obtenção de licenças ambientais e outros desafios mostram que, embora pareçam bem menos complexos do que as grandes hidrelétricas, os parques eólicos também têm particularidades técnicas importantes.

Nada mais adequado, portanto, que a mesma experiência da engenharia do proprietário, adotada com sucesso nas grandes usinas, seja colocada em prática pelos empreendedores dessa e das demais novas renováveis. O “olho do dono” terceirizado, que garantiu tranquilidade nas obras de inúmeras hidrelétricas, também pode contribuir para o desenvolvimento de projetos que são menores em escala, mas não menos importantes em termos de abastecimento de energia do País ou menos complicados de tirar do papel.

*João Carlos Mello é presidente da consultoria
Andrade & Canellas

Fonte: Estadão


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