Evento de empresa de engenharia, no Rio de Janeiro, mostra que a cultura da sustentabilidade deixa de ser traço de marketing e passa a ter papel importante nos projetos, canteiros de obras e nas políticas setoriais da construção
Nildo Carlos Oliveira – Rio de Janeiro (RJ)
Crescimento sustentável – ou sustentabilidade, como querem alguns – está deixando de ser uma questão de marketing para adquirir uma feição de valor cultural que aos poucos vem sendo agregado a todas as áreas e práticas da engenharia. Ao mesmo tempo, embora buscado e inserido no planejamento, projetos, canteiros de obras, na rede de máquinas equipamentos e materiais, ele não tem a identidade de uma empresa, de uma obra, ou de uma região específica: é um valor cultural que rompe fronteiras e se universaliza.
Trata-se de uma conquista da sociedade, construída a cada obra que é executada. Aos poucos, ela se enraíza na consciência social e vai adquirindo especificidades de acordo com o ambiente em que é motivada, avaliada e aplicada.
Esta análise foi suscitada a partir de entrevista com o engenheiro Sérgio Leão, diretor de sustentabilidade do Grupo Odebrecht, que falou da 4ª edição do Prêmio Odebrecht para o Desenvolvimento Sustentável, realizado em março, no Teatro Tom Jobim, no Jardim Botânico, Rio de Janeiro.
Não se trata, ao aprofundar o estudo do desenvolvimento sustentável, de levantar a questão da sustentabilidade ambiental ou da preservação do meio-ambiente. Vai-se além dessa possibilidade, uma vez que se está falando de preparar corações e mentes capazes de trabalhar o desenvolvimento sustentável como inerente a todas as iniciativas, desde o pré-projeto até o produto final, envolvendo até, como no caso da Odebrecht, as suas unidades de negócios.
O desenvolvimento sustentável tem vários significados e objetivos. Por exemplo: evitar desperdícios de materiais e horas de trabalho de homens e equipamentos em canteiros de obras; economizar recursos técnicos e humanos; racionalizar canteiros de obras mediante estudos de impacto na natureza e aplicação de métodos de controle das condições no andamento dos trabalhos para manter a segurança, o cronograma e a eficiência da obra, desde o seu planejamento, até a entrega final e a respectiva operação.
A política do desenvolvimento sustentável varia segundo o meio em que ela esteja sendo aplicada, conforme assinala Sérgio Leão. Ele cita o exemplo da Odebrecht, para a qual a questão da sustentabilidade, em Angola, não é igual à que se observa no Peru, na República Dominicana ou nos Estados Unidos. Cada país tem a sua identidade própria.
Diferentemente do que ocorreu com as premiações anteriores, que foram realizados em São Paulo, o 4º prêmio aconteceu no Rio de Janeiro. Foram vários os fatores que levaram a essa opção: a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio + 20 – será realizada no Rio de Janeiro em junho próximo. E é no Rio que estão sendo executadas obras muito importantes do ponto de vista de reforma e revitalização urbanas, como o Porto Maravilha, o Parque Olímpico e outras projetadas para a Olimpíada de 2016.
*Os alunos da Universidade Federal de Goiás, que conquistaram a 1ª colocação, com os promotores da premiação
A 4ª EDIÇÃO
A 4ª edição do Prêmio Odebrecht para o Desenvolvimento Sustentável reconhece cinco projetos universitários que propõem soluções de sustentabilidade aplicadas na engenharia. A cerimônia de premiação ocorreu dia 13 de março último e considerou os cinco projetos vencedores, de universidades de Santa Catarina (estado representado por dois grupos ganhadores), Goiás, Bahia e Rio Grande do Sul, foram analisados por uma comissão julgadora sob a ótica da viabilidade econômica, responsabilidade ambiental e inclusão social. O autor, ou grupo de autores, e orientadores ganham R$ 20 mil reais cada. Já as universidades recebem a mesma quantia em prêmios ou patrocínio de bolsas de estudo. Os estudantes autores do trabalho classificado em primeiro lugar são convidados a participar de entrevista para concorrer a vagas nas empresas da Organização Odebrecht.
O trabalho vencedor, da Universidade Federal de Goiás (UFG), apresentou uma proposta de reuso de sacos de cimento e de cal na produção e melhorias de argamassas para assentamento de alvenaria de vedação. Para alcançar o resultado apresentado, o grupo realizou um programa experimental em laboratório e adicionalmente uma avaliação prática em um canteiro de obras.
A reutilização de resíduos de revestimento cerâmico foi o tema que garantiu a 2ª colocação para o estudante Pablo Cardoso Jacoby, da Universidade do Extremo Sul Catarinense – Unesc. O aluno informa que o processo de produção dos revestimentos cerâmicos apresenta como um dos principais resíduos a lama do processo de polimento que acaba sendo descartada em aterros. Este resíduo atinge índices de perdas acima de 1%, o que corresponde à geração aproximada de 1 mil t de por mês na região produtora de cerâmica do sul do Estado de Santa Catarina. Considerando suas características, como a finura e a composição química, seu potencial como material pozolânico foi avaliado para utilização na fabricação de materiais de construção à base de cimento, a fim de melhorar seu rendimento.
Três projetos trouxeram soluções relacionas a residências e prédios sustentáveis, priorizando o conforto térmico, eficiência energética. O projeto apresentado por representantes da Universidade Federal da Bahia traz uma nova proposta de habitação de cunho socioambiental, ao associar conceitos da sustentabilidade, como conforto térmico, eficiência energética, economia de recursos naturais e inclusão social.
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), quarta colocada, projetou um Prédio de Energia Líquida Zero (NZEB), ou seja, um prédio onde o balanço de energia seja igual ou menor que zero em uma escala anual. Para desenvolver este prédio o grupo utilizou dados climáticos e software de simulação, prevendo a utilização de energias renováveis, menores consumos com iluminação e ventilação, por meio de estratégias passivas, utilização de equipamentos eficientes, aproveitamento de águas pluviais para uso em sanitários e estudo de fachadas e com
posição das construções. Com estas alternativas, o consumo de energia elétrica que a edificação demanda seria menor ou igual que a energia transformada no sítio, por meio de painéis fotovoltaicos e de uma turbina eólica.
O quinto trabalho, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mostra como a esquadria ideal permite uma ventilação natural o que reduz o uso de ventiladores e condicionadores de ar para melhorar o conforto térmico dos usuários e, consequentemente, o consumo de energia elétrica. Além da ventilação eficiente na habitação, a escolha também permite controle da insolação, vista para o exterior, tornando os ambientes mais confortáveis e saudáveis. As cidades de São Luís e Florianópolis foram usadas como estudo de caso.
Os projetos premiados
1º Colocado
Universidade Federal de Goiás – UFG
Tema: Prática sustentável na construção civil através do reuso de sacos de cimento e de cal na produção e melhoria de argamassas para assentamento
Alunos: Lorena Rezende dos Santos e Patrícia Eliza Floriano de Carvalho
Orientador: Helena Carasek Cascudo
2º Colocado
Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC
Tema: Utilização do resíduo do polimento de porcelanato na produção de materiais cimentícios
Integrante: Pablo Cardoso Jacoby
Orientador: Fernando Pelisser
3º Colocado
Universidade Federal da Bahia – UFBA
Tema: Proposta de habitação de cunho socioambiental aliada à inovação tecnológica da construção
Integrantes: Ártano Silva dos Santos, Marina da Silva Garcia, Thainá Reis de Almeida Coelho
Orientador: Jardel Pereira Gonçalves
4º colocado
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
Tema: NetZero Office – Escritório de Energia Líquida Zero
Integrantes: Daniela Pacheco Pires, Eduardo Marocco de Siqueira e Rafael Gerzon Torres
Orientador: Paulo Otto Beyer
5º colocado
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
Tema: A esquadria ideal para permitir ventilação natural, controle da insolação e vista para o exterior
Integrante: Eduardo Leite Souza
Orientador: Enedir Ghisi
Fonte: Padrão