Ao reler os projetos premiados pelo Juri Independente do 4º Prêmio INOVAINFRA organizado pela revista OEmpreiteiro, alguns deles chamaram nossa atenção porque remetem de imediato à percepção de que a engenharia está atuando com mais ênfase ao abordar aspectos sociais intrinsecamente ligados às melhorias de infraestrutura. Na área sempre sensível de habitação social, onde os programas sofrem com escassez periódica de verbas, o déficit habitacional não diminui, década após década—daí porque os puxadinhos nas favelas se multiplicam. Uma equipe da Sondotécnica criou um processo digital para gerar o laudo que estima o valor de uma moradia precária a ser removida pela Prefeitura ou Estado, como base da indenização a ser pago aos moradores. Foi empregado escâner cinemático para mapear essas moradias, na velocidade de uma pessoa caminhando em cada ambiente erguido pelo processo chamado “autoconstrução”.
O levantamento gera uma nuvem de pontos, com precisão e detalhamento dos aspectos internos das moradias.
Um aplicativo de smartphone ou tablet faz a vetorização in loco da planta baixa, capturando os vértices das paredes para definir as alvenarias. Ao final, o app cria um modelo 3D do espaço.
Esse processo está sendo aplicado na favela de Paraisópolis, em S.
Paulo, para viabilizar as obras de saneamento do córrego Antonico. Outro projeto premiado que mostrou esse olhar social foi apresentado pela Ferrovia Centro Atlântica, na busca de soluções replicáveis para melhor uso das áreas residenciais resultantes de ocupação irregular, na faixa de domínio das ferrovias. O projeto MAPAS é resultado da parceria entre a VLI Multimodal, UFMG-Universidade Federal de Minas Gerais e o IFMG-Instituto Federal de Educação de Minas Gerais. Integrando dados de mapeamento e territoriais, prognósticos traçados, propostas de intervenção, elaborou-se um conjunto de soluções territoriais aplicáveis em diferentes cenários locais. Como parte das propostas, foram analisados os ativos e materiais inservíveis da empresa com vistas a reuso.
Todas essas informações e processos estão integrados numa plataforma online, agilizando sua aplicação em diferentes áreas críticas encontradas ao longo de 8 mil km de ferrovias operadas pelo grupo VLI, do qual faz parte a ferrovia Centro Atlantica.
O projeto Mapas tem previsão de 3 anos e foi iniciado no 1º semestre de 2022, com o projeto piloto do Ramal Ferrugem, localizado entre Belo Horizonte e Contagem, MG. Foi feita a reconstituição histórica da faixa de domínio local, com a classificação de áreas pelos níveis de riscos em cada área ocupada. Usando o conjunto de intervenções previamente estudadas, o projeto busca conciliar a gestão e a segurança dos ativos da ferrovia, da carga transportada e as atividades das comunidades locais na faixa de domínio. O terceiro projeto a destacar é o Smart Metering, tecnologia para leitura de consumo, monitoramento de possíveis fraudes, até corte de fornecimento e religação remotos em redes d’água. Com isso combate-se algumas das principais causas de perda de água tratada nas cidades brasileiras. Essa inovação foi adotada pela BRK Ambiental em Palmas, Tocantins, ao instalar Smart Meters com a válvula de corte integrada que permite também a religação remota, além de módulos acopláveis a medidores existentes, permitindo medição automatizada de consumo, detecção de fraudes, falhas de medição(casos de consumo zero) e até vazamentos. Essa tecnologia permite formar o cenário ideal onde todos pagam seu consumo e todos pagam menos, com o expurgo de consumidores fantasmas e vazamentos antes não localizados.
Em resumo, a Engenharia amplia sua visão ESG no desenvolvimento de inovações que resultem em melhorias de infraestrutura que priorizam o atendimento à população mais carente.
Rompe-se aquela percepção que obras de infraestrutura só atendem aos proprietários de automóveis e bairros de alta renda. Mas permanece a realidade de quão pouco se investe de recursos públicos na infraestrutura – basta ver os buracos nas vias urbanas que ficam abertos meses a fio, por exemplo.
As concessões e PPPs são benvindas para atrair investimentos privados – mas as três esferas de governo precisam enxugar as máquinas administrativas, adotar tecnologias digitais, concluir as obras paralisadas, tornar obrigatório o uso da modalidade BIM nos projetos e obras, cortar o desperdício e desvios de recursos – e investir mais na infraestrutura.