Fim dos transtornos das barragens

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Mesmo nos tempos de hoje, de maior consciência ambiental, as usinas hidrelétricas são vistas com restrições. Apesar da energia gerada ser renovável e aparentemente não emitir gases do efeito estufa, há aspectos polêmicos. Bloquear um rio com uma barragem modifica movimento, tanto dos peixes rio acima como lodo rio abaixo, que serve para fertilizar a terra. A vegetação coberta pelas águas se decompõe, formando metano – um gás de efeito estufa muito pior que dióxido de carbono. O custo inicial é elevado – e as pessoas são removidas para abrir caminho ao novo lago. A questão, no entanto, é se há um jeito de tirar vantagem da força das águas sem esses inconvenientes?
O propósito da barragem é duplo: abrigar as turbinas que geram a eletricidade e fornecer pressão suficiente para torná-las eficientes. Se fosse possível desenvolver uma turbina que não precisasse da queda do rio para operar, mas que pudesse ficar no leito do rio, uma represa seria desnecessário. Tais turbinas poderiam também ficar em lugares onde não haveria represas – o fundo do mar, por exemplo. E é isso o que está começando a acontecer, com o desenvolvimento das turbinas submarinas independentes.
A maior desvantagem das turbinas independentes é que elas são menos eficientes que as turbinas de barragens para transformar energia cinética em eletricidade. Elas também estão mais sujeitas ao desgaste e rupturas que as turbinas protegidas por imensas quantidades de concreto e os reparos e manutenção são mais difíceis. E seus geradores devem ser protegidos d’água que envolve o restante da turbina.
Nas últimas três décadas, foi possível simular o comportamento da água e das pás das turbina. Além do mais, protótipos puderam ser construídos a partir dos modelos de computador. Tudo isso tem ajudado os cientistas e a indústria a resolver os problemas inerentes das turbinas independentes.
O primeiro design foi feito por Alexander Gorlov, um engenheiro civil russo que trabalhou na hidrelétrica de Assuã no Egito. Mais tarde ele se mudou para EUA, onde com a assistência financeira do Departamento de Energia, produziu o primeiro protótipo de turbina que poderia extrair energia de correntes independentes ‘’sem construir barragem”. A Turbina Helicoidal de Gorlov, como é conhecida, permite utilizar qualquer corrente (d’água), seja qual for a direção do fluxo. A estrutura helicoidal vertical, que faz jus ao nome, oferece a estabilidade que era o ponto fraco dos projetos anteriores. Ela também é relativamente eficiente, extraindo 35% de energia da do fluxo d’água. Como o eixo é vertical, o gerador elétrico pode ser instalado no topo, acima da água – sem necessidade de compartimentos à prova d’água.
Em 2001, Gorlov ganhou o Prêmio ‘’Edison de Patentes” por sua invenção e suas turbinas seriam comercializadas pela Lucid Energy Technologies, uma companhia americana. Elas estão sendo testadas em projetos pilotos na Coréia do Norte e Sul.
Um segundo projeto é de Phillippe Vaulthier, originalmente um joalheiro suíço. As turbinas feitas por sua companhia, UEK, são escoradas numa plataforma submersa. Elas são alinhadas na corrente como as birutas num aeroporto – dispositivos que sinalizam o sentido dos ventos – e então encontram a melhor posição para gerar energia. Sendo de fácil instalação e manutenção, estão sendo testadas em áreas remotas de países em desenvolvimento.
Finalmente, um design da OpenHydro, uma companhia irlandesa, não é apenas um novo tipo de turbina, mas um novo projeto de gerador elétrico submerso. Geradores (grosseiramente falando) consistem em magnetos movendo-se em relação às bobinas. Então por que não agregar os magnetos diretamente às partes externas e rotativas da turbina? As bobinas então são dispostas num aro externo que contém as hélices. E há um grande espaço circular no centro das hélices, para proteção da vida marinha. Além disso, os geradores da OpenHydro não precisam de lubrificante, o que diminui consideravelmente a necessidade de manutenção.
Esses novos projetos, combinados com o interesse crescente em energias renováveis, significam que os investimentos agora estão voltados para um campo antes negligenciado. De acordo com a New Energy Finance, uma consultoria especializada, os investimentos das companhias destinados a construir ou desenvolver turbinas independentes têm crescido de US$13m em 2004 para US$156m em 2007. Os projetos já incluem a instalação de uma turbina acionada por de marés no East River, em Nova Iorque, EUA, feita pela American Verdant Power. UEK, OpenHydro e a Canadian Clean Current estão operando projetos pilotos na Nova Escócia, no Canadá.

Fonte: Estadão


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