Com as primeiras notícias do FED americano, que apostam no fi m próximo da recessão nos Estados Unidos, os modestos números de crescimento na Alemanha e na França, e os dados surpreendentes de expansão econômica em alguns países da Ásia, com a China à frente, ao fi nal do primeiro semestre do ano, acompanhada a alguma distância por Índia e Brasil – os países produtores de commodities podem enfi m tomar fôlego, na expectativa de que a crise global tenha batido no fundo do poço, graças à maciça intervenção governamental e a injeção de trilhões de dólares de recursos públicos. Se a economia dos países vai conseguir andarcom suas próprias pernas quando o governo sair de cena é uma dúvida que só a realidade daquele momento futurovai esclarecer. É provável que o day after seja diferente em cada um desses países.
Os países industrializados não servem de exemplo – seus números de recessão são um colírio para os olhos quando comparados aos das economias mais atrasadas do Terceiro Mundo, especialmente as que dependem majoritamente das exportações para gerar receita de divisas, com mercados domésticos incipientes. A China vai liderar a retomada global, com a força do seu mercado doméstico de dimensões colossais. Aliás, quem quiser ser líder de mercado lá, basta convencer os 1,3 bilhão de chineses a consumir uma unidade do seu produto por mês ou por ano. As exportações respondem por 34% do PIB, muito menos do que se supunha. O pacote de estímulo anti-crise introduzido pelo governo injetou no mercado interno US$ 800 bilhões no 1º trimestre do ano, através de bancos controlados pelo governo, superior ao volume de todo o ano de 2008. Os chineses compram atualmente igual número de automóveis que os americanos. As vendas de residências novas e usadas estão aquecidas. Resumindo, é o consumo doméstico que está impulsionando a economia local. Esta parece ser uma tendência para o futuro – os países emergentes dependerem mais de seu mercado doméstico para crescer, e reduzir o peso das exportações na economia. Isto parece óbvio agora, com a crise global.
Serão sábios os países que mantiverem essa bipolaridade econômica mesmo quando os mercados industrializados retomarem a trajetória ascendente. Melhor dominar em algum grau o seu próprio destino, do que vagar ao sabor das ondas globais sempre voláteis.
Fonte: Estadão