Estrutura de 9 mil m² com fundações na areia reproduz as ondas de Copacabana

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Obra se desenvolve sob severas restrições de horário de trabalho, de recebimento de materiais e com a necessidade de ancoragem de edifício vizinho

A criatividade da arquitetura soma-se à experiência da engenharia estrutural e de fundações na construção do Museu da Imagem e do Som (MIS) no Rio de Janeiro. O cineteatro, um dos espaços da estrutura, situa-se a cerca de 10 m abaixo do nível da avenida Atlântica

Nildo Carlos Oliveira

 

Uma construtora de Limeira, interior paulista, constrói a obra que considera ícone sob aqueles aspectos. Ela articulou as diversas fases da execução, que evolui em terreno de 1.200 m², para obter resultados funcionais e esteticamente previstos pelo projeto de arquitetura: uma estrutura de 9 mil m², que atende ao programa do museu dentro de seus sete pavimentos e dois subsolos, em sítio notadamente adverso do ponto de vista geológico e de localização.

A construtora, a Rio Verde Engenharia e Construções, começou os trabalhos em julho de 2011 e está empenhada em assegurar o cronograma, que prevê o término das instalações e acabamentos até dezembro próximo. As dificuldades são muitas e todas as etapas têm sido desafiadoras. O projeto, escolhido em concurso internacional vencido pelo escritório Diller Scofidio + Renfro, de Nova York, foi concebido pelos arquitetos Elizabeth Diller e Ricardo Scofidio e desenvolvido pelo escritório Índio da Costa, Arquitetura, Urbanismo, Design e Transporte.

A estrutura, construída na avenida Atlântica, a 50 m da orla, destina-se a substituir as instalações do museu aberto em 1965, que funciona em dois lugares – na praça XV (centro) e na Lapa. A nova sede abrigará o Museu Carmen Miranda, que hoje está no bairro do Flamengo; um teatro, situado a cerca de 10 m abaixo do nível daquela avenida; cinema; área para encontros de grupos culturais; salas de exposição fixas e temporárias; auditórios; espaço para atividades didáticas; salas para consulta e pesquisa; lojas; cafeteria; restaurante panorâmico; piano-bar; mirante; salas especiais para o acervo do museu e outros espaços.

Prédio da av. Atlântica abrigará num só local instalações do MIS que funcionam em dois bairros diferentes; o espaço ainda passa a ser novo endereço do Museu Carmen Miranda

A edificação, com aquelas atribuições, prima pela qualidade da engenharia, em suas várias modalidades. Haja vista o que informa a gerenciadora Engineering: “O partido arquitetônico impôs uma estrutura 100% de concreto aparente, o que, combinado com a forma arrojada e delgada, implicou a adoção de soluções específicas, com o apoio de especialistas em concreto e um trabalho constante de acompanhamento da elaboração do traço do concreto, além do uso de formas especiais”. Ela corrobora informação do engenheiro Jardel Olivatto, coordenador de Obras da Rio Verde, de que os trabalhos para a construção da estrutura se desenvolveram com qualidade, embora em área sob severas restrições quanto a horários de trabalho e fornecimento de materiais e a necessidade de ancoragem de edificação contígua.

A estrutura proposta para o museu tem a forma de um bulevar vertical e sua paginação reproduz as ondas do calçadão de Copacabana. No fundo, imprime a alma carioca: a irreverência, a cultura, o entorno, o oxigênio da alegria.

Solução da fundação

“Posso dizer”, afirma o engenheiro Jardel Olivatto, “que o conjunto da edificação deverá estar concluído em dezembro próximo. Estamos com 95% da superestrutura terminada. Mas, depois disso, haverá uma interface – a etapa da museografia – que terá também a nossa presença. É nessa etapa que haverá a execução das interligações, com a instalação dos equipamentos para o recebimento posterior do acervo e os serviços correspondentes até a entrega da obra em pleno funcionamento”.

Mas, para chegar àquela etapa, é importante registrar os aspectos técnicos, com destaque para o trabalho da engenharia estrutural, a cargo do Escritório Júlio Kassoy e Mário Franco (JKMF), da Consultrix, responsável pelo cálculo dos esforços das fundações; a articulação, por parte da Fundação Roberto Marinho, para dotar o RJ de um empreendimento desse porte e qualidade; o papel da gerenciadora Engineering e da Rio Verde, contratada para assumir a responsabilidade da construção. 

Jardel Olivatto diz que inicialmente houve a necessidade de se proceder à demolição da boate Help, que funcionava no sítio escolhido para obra. Feita a demolição, foi iniciada a parede-diafragma e posteriormente escavação, com o uso de escavadeira hidráulica, um trabalho realizado a 50 m da praia e em área de areia absolutamente instável.

A escavação deveria atingir 11 m de profundidade, operação que se revelou da maior complexidade. Tanto assim, que foi preciso construir paredes de contenção formadas por paredes-diafragma com espessura de 50 cm, adotando-se adicionalmente outros elementos de fundação: a instalação de três linhas de tirantes provisórios inclinados autoinjetáveis nas faces paralelas às ruas e a construção de quatro lajes de travamento provisórias, com 30 cm de espessura, na divisa com um prédio antigo, de 12 pavimentos, cujas fundações foram feitas com sapatas, em sua época, há mais de 50 anos.

Uma das paredes do perímetro objeto da escavação, onde se localiza o teatro, a cerca de 11 m abaixo do nível da avenida, faria divisa com o prédio antigo. Por esse motivo e tendo em conta assegurar a integridade daquela edificação durante todo o tempo, fez-se uma parede-diafragma contígua,  protegida por uma linha de estacas hollow auger, justapostas, de modo a reduzir qualquer risco às fundações do edifício vizinho. 

Escavação de 11 m de profundidade a 50 m da praia em área de areia instável, na divisa com edifício antigo, exigiu soluções complexas de engenharia

Os estudos para as fundações previram a execução de uma laje com 1 m de espessura que funcionaria como “laje de subpressão”. Jardel resume bem a solução das fundações, ao salientar que estas são sapatas integradas à “laje de subpressão”.

Um trabalho científico, elaborado pelos engenheiros Carlos Britez, Paulo Helene, Suely Bueno e Jéssika Pacheco, para os anais do 55º Congresso Brasileiro do Concreto, do Instituto Brasileiro do Concreto (Ibracon), conta um pouco da história da solução recomendada para as fundações do MIS.  Assinalam, os engenheiros, que a laje de subpressão foi concebida com uma geometria trapezoidal, em planta, com 51 m de comprimento e laterais de 25 m e 20 m respectivamente.

Os quatro lados da laje estão engastados em paredes de reforço com espessura variável em função das características da direção, da vizinhança e do terreno. A solução assegurou a integridade do edifício vizinho, estabilizou o terreno, constituído de areia instável, e permitiu o avanço da susperestrutura com a forma arquitetonicamente engenhosa, que tira partido da forma de ser, estar e viver, do povo carioca.      

A superestrutura

Jardel Olivatto diz que a superestrutura, calculada pelo escritório JKMF, é absolutamente atípica, com paredes e rampas em forma prismática, pilares inclinados com seções elípticas, pés-direitos variáveis etc. A tipologia estrutural acentua três setores diferenciados: o primeiro corresponde a uma superestrutura executada com concreto armado em forma convencional, e um concreto de alta resistência (50 MPa), com slump convencional; o segundo é uma superestrutura de concreto armado protendido com forma nervurada, definido e também concreto de alta resistência; e o terceiro corresponde a uma superestrutura de concreto armado com forma especial prismática, empregando-se concreto aparente autoadensável de alta resistência, cuja taxa de aço é superior a 400 kg/m³ em alguns dos elementos estruturais. O traço do concreto aparente foi obtido por estudo experimental de dosagem realizado pelo escritório do professor Paulo Helene (PhD Engenharia).

Um fenômeno no meio do caminho

Um fenômeno natural teve impacto no andamento das obras. Foi possível resolver o problema que ele criou com boa dose de paciência, engenhosidade e competência.

O engenheiro da Rio Verde diz que o fenômeno – artesianismo –  manifestou-se quando as estacas hollow auger, da laje de subpressão, ultrapassaram a cota -16 m. E o mesmo aconteceu quando as estacas foram substituídas por tirantes autoinjetáveis de subpressão na mesma cota. O fenômeno, raríssimo até internacionalmente, permitia a impressão de que a água que ali jorrava dificilmente poderia ser esgotada.

Havia três pontos de ocorrência do fenômeno, cada um com vazão da ordem de 700 m³/h. Para resolver esse problema foram tomadas diversas providências, assim sumariadas: instalação de tubo metálico, com equipamento de estaca-raiz, dimensionado para tornar viável a ligação lateral de uma tubulação destinada à sucção da água, utilizando-se bomba com capacidade para suportar a vazão do fenômeno; instalação de um sistema de captação e esgotamento de água, recolhida no interior do tubo metálico; instalação de um sistema de rebaixamento com ponteiras filtrantes no perímetro; aplicação de injeções de consolidação do solo com o produto Ecoryon, trabalho realizado pela CGC Geotecnia e Construções. Além disso, outros fatores foram necessários para a erradicação do fenômeno: a construção da laje de subpressão; a construção de dois pavimentos da superestrutura; o lançamento de argamassa no interior do tubo metálico;  a demolição do material excedente após a cura da argamassa  e a impermeabilização da área afetada pelo artesianismo, com injeção de poliuretano e argamassa cristalizante.

Recursos

O projeto do museu é uma realização da secretaria da Cultura do RJ, da Fundação Roberto Marinho e do Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, tendo a Rede Globo, o Itaú e a Natura como patronos; conta com o patrocínio da Vale, da IBM, da Ambev e da Light e o apoio do Grupo Votorantim. Tem investimento direto do governo estadual por meio de recursos próprios e da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, além de financiamento dos Programas de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur) e de Apoio ao Investimento dos Estados (Proinvest).

Ficha técnica

Obra: Museu da Imagem e do Som (MIS) do Rio de Janeiro

Cliente final: Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro / Governo do Rio de Janeiro

Contratantes: Secretaria de Estado de Obras do Rio de Janeiro e Fundação Roberto Marinho

Gerenciamento: Empresa de Obras Públicas do Rio de Janeiro (EMOP), Engineering

Museografia: Empty

Construção: Rio Verde Engenharia e Construções

Projeto de arquitetura: Diller Scofidio + Renfro e Índio da Costa A.U.D.T

Projeto estrutural: JKMF – Escritório Técnico Julio Kassoy e Mario Franco

Projeto de fundações: Consultrix

Paisagismo: Burle Marx

Instalações hidráulicas e elétricas: Cemope

Instalações especiais: Bosco

Impermeabilização: Cetimper

Ar-condicionado: Thermoplan

Luminotécnica: LD Studio

Sonorizaç&a
tilde;o: Audium

Projeto de vídeo: KJPL

Projeto de acústica: Harmonia Acústica

Projeto de esquadrias: QMD

Desenvolvimento técnico do concreto aparente autoadensável de alta resistência: PhD Engenharia

Principais fornecedores: Seveme, Votoraço, Engemix, Drilling, Enbrageo, Engesonda, Tengel, Peri, Protende, Engmont, Qualieng, Airmix, Ulma, Reitec, IMM

As exigências especiais para a superestrutura

O formato das formas é prismático. A arquitetura das escadarias da fachada principal reproduz as ondas do calçadão de Copacabana. O objetivo é obter um concreto liso, limpo, com paginação de painéis de formas proporcionada com requinte. Tudo pensado de maneira especial. Cada furinho necessário para travar os painéis é previsto nas formas especialmente dimensionadas para a obtenção do resultado final na concretagem. Tudo bem distribuído assimetricamente.

Para atender àquelas exigências a Rio Verde Engenharia buscou, no mercado, um fornecedor que conseguisse oferecer o produto segundo as especificações e com a flexibilidade necessária para proceder aos ajustes determinados pelos arquitetos da equipe da construtora Rio Verde Engenharia em interface com os arquitetos do escritório de arquitetura (Índio da Costa Arquitetura) e dos arquitetos responsáveis pela concepção do modelo arquitetônico – Diller Scofidio + Renfro, de Nova York, e o escritório responsável pelo cálculo estrutural, o Escritório Técnico Julio Kassoy e Mario Franco (JKMF).

A empresa que ganhou a concorrência para fornecimento do sistema de formas para escoramento para concreto foi a Peri, cujos profissionais trabalham em estreita coordenação com os demais.  Ela inclusive recorreu a equipes de sua matriz, na Alemanha, cuidando para que as formas utilizadas na obra, para o lançamento do concreto, obedecessem ao padrão técnico requerido em todos os mínimos pormenores. Houve cuidados especiais no alinhamento arquitetônico das juntas, no detalhamento em 3D das cambotas dimensionadas etc. até se partir para o projeto executivo final.  A face externa do MIS espelha o nível de qualidade do trabalho interno.

Algumas das ações da equipe de gestão

Foram muitas as ações da equipe de gestão colocada em campo pela gerenciadora Engineering, nessa obra-referência do Rio de Janeiro.  Além de acompanhar, de modo regular, o planejamento executivo diário com a construtora, ela procura analisar as exigências da engenharia e recomendar soluções para problemas específicos, mantendo o controle sobre as áreas de logística, suprimento e produção. Cuida de monitorar a produtividade, compatibilizar os prazos com as metas e garantir o andamento dentro dos custos acordados.

Enfrenta naturalmente as  dificuldades  inerentes a obra desse tipo, nas condições em que ela evolui. Por exemplo: o prazo, a singularidade do projeto de arquitetura e a execução da estrutura de concreto. Como estratégia para um serviço dessa natureza adotou o hábito de repassar semanalmente, à construtora, em reunião com esse fim, a verificação dos percentuais de produção da semana anterior e, assim, sucessivamente. E aplica regularmente seus procedimentos de qualidade e suas ferramentas de gestão, para a garantia de um monitoramento correto, tendo em conta o resultado final.

Uma trajetória de 30 anos iniciada em Limeira (SP)

A Rio Verde Engenharia é uma empresa de construção civil e incorporação imobiliária especializada em projetos residenciais e corporativos. Na sua concepção, construir é mais do que projetar obras. É pensar também em novas formas de enxergar o mundo. Com obras em todo o País, a Rio Verde Engenharia iniciou as atividades em 1983 e sempre investiu em qualificação profissional e inovações tecnológicas. Da interligação desses dois fatores nasceu uma metodologia executiva própria, sendo referência na execução de projetos, na racionalização de custos e no cumprimento de prazos.

Focada na melhoria contínua, da qualidade de vida das comunidades onde atua e também de seus clientes e colaboradores, a empresa tem suas metas estruturadas para crescer de maneira consciente. Portanto, transformar e ser transformada a cada novo desafio é um aprendizado que perdura por décadas na construtora. Com o novo modelo de gestão descentralizado, as obras passaram a ter mais autonomia e agilidade nas decisões. Com mais de dois mil colaboradores atuando nas diversas áreas da empresa, a Rio Verde Engenharia possui uma equipe altamente capacitada e que passa constantemente por treinamentos oferecidos pela própria construtora.

Na área corporativa a empresa se destaca na construção de plantas industriais de alta complexidade tecnológica para diversos segmentos. No portfólio se destacam as obras do segmento cultural, Museu da Imagem e do Som (MIS) e o Centro Cultural de Araras (retrofit); alimentício, Mondelez, Nestlè, Bauducco e FSB Foods; petrolífero, Schlumberger, Aker, Lupatech e Halliburton; siderúrgico, Dabo e Companhia Siderúrgica do Pecém; automotivo, Faurecia, Guardian, Mando Machinery e Valeo; entre outras.

Já na área de incorporação imobiliária, a Rio Verde Engenharia está presente em diversas cidades do interior do Estado de São Paulo, com empreendimentos residenciais e comerciais que se destacam por ser pensados para garantir o bem-estar dos clientes desde sua concepção. Os empreendimentos, residenciais e comerciais, possuem a Certificação Aqua, que atesta a alta qualidade ambiental durante as obras que utilizam técnicas que minimizam os impactos socioambientais, como redução das emissões de gases de efeito estufa, redução da poluição e da produção de resíduos, melhor condição de saúde nas edificações, aproveitamento da infraestrutura local e das condições de trabalho e menor impacto na vizinhança. Depois de prontos, os empreendimentos geram economia de água e energia aos moradores.

Fonte: Revista O Empreiteiro


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