A energia das marés, por muito tempo considerada cara e de difícil implementação, está finalmente captando a atenção de investidores com um perfil mais arrojado. O caminho não é simples, como mostra a experiência da Verdant Power. Em Nova York, as poderosas correntes do East River destruíram as primeiras turbinas experimentais. No entanto, após anos de testes e aprimoramentos, a empresa conseguiu com que uma turbina com pás de uma liga de alumínio forte gerasse energia suficiente para abastecer um supermercado.
Apesar dos altos custos iniciais, o potencial da energia das marés é enorme. Diferente da energia solar e da eólica, as correntes oceânicas são previsíveis, o que permite aos engenheiros saber exatamente quanta energia será produzida e quando. Essa estabilidade e confiabilidade tornam a tecnologia atrativa.
Apesar de a burocracia e as preocupações ambientais dificultarem a expansão da indústria nos Estados Unidos, a Europa já está um passo à frente. A Marine Current Turbines (MCT), baseada no Reino Unido, tem se destacado com projetos como a SeaGen, uma turbina que atingiu a capacidade de 1.2 MW e agora lidera a corrida por projetos em escala comercial. O principal desafio hoje não é a ciência, mas o financiamento e o apoio governamental para viabilizar as altas economias de escala necessárias.
A Virada Energética Global e o Desafio do Brasil
O cenário de inovação em energias renováveis não se restringe às marés. De acordo com o estudo “Energy Shift” da consultoria Booz & Company, o mundo passará por uma verdadeira revolução na matriz energética nas próximas duas décadas. Combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, perderão espaço para fontes limpas e alternativas, como a eólica, a fotovoltaica e a nuclear.
O Brasil está em uma posição privilegiada. Com 46% de sua matriz já baseada em fontes renováveis, o país se destaca globalmente. No entanto, o estudo adverte que essa liderança não pode ser motivo de acomodação. O Brasil precisa “virar a página” e investir em inovação e novas tecnologias para se manter na linha de frente do desenvolvimento global.
O Futuro da Matriz Energética Brasileira
O conselho da Booz & Company para o Brasil é claro: desenvolver as cadeias produtivas de energia eólica e nuclear, além de fomentar a nova geração de biocombustíveis, como o etanol de celulose. A energia eólica, em particular, tem um enorme potencial de crescimento no Brasil, especialmente em estados como Minas Gerais.
Além disso, é crucial aproveitar outras fontes inexploradas, como a biomassa (resíduos de arroz, cana, coco) para cogeração, e o biogás de aterros e estações de tratamento. A própria matriz hidrelétrica pode ser aprimorada com o desenvolvimento de PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas), que geram menor impacto ambiental e evitam a criação de grandes áreas alagadas.
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O futuro exige que o Brasil olhe para além de suas conquistas e invista em um portfólio de energias sustentáveis, garantindo não apenas a segurança energética, mas também um papel de liderança na transição global para um futuro mais limpo.





