O Brasil possui hoje uma potência instalada para geração de energia elétrica superior a 100 GW e tem, em construção, mais 7 GW, o que afastaria qualquer possibilidade de racionamento de energia.
O problema crucial é que 20 GW desta capacidade instalada são de origem térmica sendo metade dependente do gás natural. Se todas as térmicas a gás natural fossem acionadas simultaneamente, toda a capacidade do gasoduto Bolívia-Brasil estaria comprometida com a geração termoelétrica e seguramente o suprimento industrial e automotivo seria sacrificado.
Outros 4,5 GW da geração térmica dependem diretamente do óleo diesel e do óleo residual, com problemas derivados do controle da emissão de enxofre e do custo da energia. Finalmente, 5,5 GW de energia térmica derivam das centrais nucleares de Angra dos Reis (2 GW) e de unidades a carvão mineral e a gás residual. Fontes alternativas de energia respondem pelos 4,5 GW restantes da potência instalada de nossa geração de energia elétrica.
Embora seja imperioso um programa de conscientização para o uso racional da energia, com a utilização de sistemas mais racionais para aquecimento de água, para o uso industrial e comercial e para o uso automotivo, o aumento da capacidade instalada continua necessário.
A conversão das usinas a gás natural para o uso de óleo diesel é um processo caro, e sacrifica a vida útil das turbinas, sendo ainda mais poluente do que o processo a gás. Os investimentos que a Petrobrás vem fazendo na exploração de gás natural nas bacias do Espírito Santo e Santos, aliadas às novas descobertas, permitem vislumbrar a possibilidade de contar com os 10 GW de potência já instalada nas térmicas a gás em regime de operação permanente, a exemplo das usinas nucleares; mas isto só deverá ocorrer a partir de 2012.
Entre 2009 e 2012 as ações deverão estar concentradas em cinco grandes diretrizes:
1. Expandir rapidamente os aproveitamentos de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), cujos prazos de implantação e impactos ambientais são muito mais reduzidos. Há quase 3 GW de usinas outorgadas, cuja construção não foi iniciada.
2. Remover os entraves ambientais e societários à implantação de usinas hidrelétricas de médio porte. Há 3 GW de usinas outorgadas cuja construção não se iniciou, e pelo menos outros 5 MW em estudos que poderiam ser implantados em três anos
3. Acelerar os programas de geração por fontes alternativas, com o uso mais intensivo da energia eólica e da biomassa (bagaço de cana), cujo ciclo de produção no sudeste é anti-cíclico com a hidrologia
4. Iniciar, de imediato, um programa de racionalização de uso da energia, cujo preço deverá subir nos próximos anos.
5. E trabalhar intensamente para evitar “sujar” a matriz energética brasileira, evitando o despacho de usinas a óleo diesel e retomando o programa de construção de usinas nucleares.
Fonte: Estadão