No livro Os garotos do Brasil, que Ruy Castro acaba de lançar pela Foz Editora, e que é muito mais do que um passeio pela alma de craques como Pelé, Garrincha, Zico, Sócrates, Rivelino, Bellini e muitos outros, há um capítulo inteiro sobre a ginga.
Lembra, o escritor, que ginga é um substantivo brasileiro de origem africana, “significando literalmente a dança para confundir ou enganar o adversário numa luta de capoeira”. Mas, essa conquista, que virou modo de ser brasileiro, encontrou no futebol território de maior liberdade e visibilidade para ser praticada.
Diz mais, Castro: “Embora, hoje, os jogadores suíços ou monegascos já tenham aprendido a driblar, só os brasileiros parecem deter os segredos da ginga”. E cita Pelé, Rivelino, Zico, Romário e Neymar , como alguns dos melhores praticantes.
Mas a ginga acabou não se restringindo aos jogadores, nas arenas daqui e de alhures. No Brasil é raro quem não a assimila e pratica. É uma questão de vida ou morte. Haja vista o caso dos políticos em Brasília ou em qualquer outra região do País. Eles gingam. São mestres na arte de driblar e despistar. E, com essa arte, golpeiam a economia e, invariavelmente, o Tesouro nacional. É a ginga em causa própria. É de se imaginar que os empresários também estão gingando. Sem gingar não conseguem se livrar ou ao menos amenizar as unhadas do governo.
A população não tem como não sair gingando de manhã à noite. E, se não o fizer indefinidamente, não terá como enfrentar o dia a dia. Todos nós gingamos na tentativa, às vezes inócua, de escapar às extorsões, aos impostos e às taxas disso e daquilo. Enfim, à opressão imposta pelas três instâncias de governo. E, muitos, gingam até o esgotamento.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira