Hidrelétricas, ainda a melhor opção

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Dirigir a maior parte dos investimentos a uma tecnologia – a da hidreletricidade – que é amplamente dominada pela engenharia do País, ou dar prioridade a uma outra forma de gerar energia – a termonuclear – sobre a qual o Brasil ainda depende essencialmente de importação. Este é um dilema para o qual as autoridades do setor deverão procurar uma saída, sobretudo se o Brasil voltar a crescer a taxas mais significativas do que a dos últimos anos, com a conseqüente demanda por mais energia. Por sua experiência com o assunto, além do fato de já ter ocupado funções estratégicas no governo – entre outras, foi presidente da Cesp – o físico José Goldenberg, do Instituto de Eletrotecnica e Energia (IEE) da Universidade de São Paulo, é personagem fundamental para se traçar algumas perspectivas sobre o tema. A análise dele acerca dessas duas opções toma como base a situação peculiar do Brasil em comparação com o resto do mundo. “O Brasil é um país cuja energia elétrica tem origem fundamentalmente em fontes hidrelétricas, ao passo que no resto do mundo ela provém de combustíveis fósseis”, avalia. Goldenberg declara-se amplamente favorável à manutenção da rota que o País trilhou até hoje em sua opção pela hidreletricidade. “Existe uma enorme experiência da engenharia civil brasileira para construir usinas hidrelétricas e o Brasil tem um enorme know-how nessa área, a ponto de exportar a tecnologia”, argumenta.No que se refere à implantação de novas usinas nucleares, eventualmente em detrimento da construção das novas hidrelétricas, o físico diz tratar-se de comparar uma tecnologia amplamente dominada com outra que, até aqui, tem sido importada. “Os planos do presidente [Ernesto] Geisel eram de que ela seria nacionalizada ao longo dos anos. Mas já se passaram mais de duas décadas e isso não ocorreu. Caso o Brasil siga pelo caminho nuclear, até que consiga nacionalizar essa indústria, vai levar de 20 a 30 anos”, prevê. Para Goldemberg, a opção por manter a rota na direção das hidrelétricas permite lidar com situações mais conhecidas, mesmo as mais problemáticas que, em geral, se referem às áreas a serem inundadas. Ainda que 2/3 do potencial inexplorado estejam na Amazônia, portanto longe dos maiores centros de consumo – “as usinas fáceis já foram todas construídas”, diz – ele acredita que valha a pena insistir nas hidrelétricas. Energia nuclear, explica o físico, tem algumas vantagens, como por exemplo, poder instalar reatores perto dos centros de consumo. Em compensação, há o problema da tecnologia estrangeira e dos resíduos radioativos, questões ambientais que são novas para o Brasil. “Inundar uma certa área por causa da construção de uma hidrelétrica é algo que temos experiência. Mas para lidar com resíduos radioativos temos muita pouca experiência. Aliás, todas péssimas”, completa. Outra fonte de energia que, na avaliação de Goldenberg está se tornando importante no Brasil, é a produzida a partir do bagaço de cana. “Como a indústria do etanol está crescendo muito, irá sobrar mais bagaço e com ele se poderá produzir mais eletricidade”. Atualmente, as usinas de açúcar e álcool produzem em torno de 1000 MW, mas com a expansão do programa do álcool, a estimativa é de que o setor seja capaz de produzir cerca de 5 mil MW.
Fonte: Estadão


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