O segundo turno das eleições municipais em SP começa virtualmente sem vencedores no primeiro turno. Basta avaliar o volume de votos brancos e nulos, as abstenções e aqueles distribuídos entre o terceiro e quarto colocados. Foi um recado do tamanho da capital. Significou um descontentamento que nasce pelas periferias, avança pelos bairros mais carentes e vem desaguar nos demais e na região central. A insatisfação generaliza-se em uma população de 11,5 milhões de pessoas, numa cidade que tem um PIB da ordem de R$ 500 bilhões.
É que praticamente nenhum dos grandes problemas que afetam essa população tem sido resolvido. Entra administrador, sai administrador e, na prática, o que fica é o aumento de carências em cada uma das áreas de infraestrutura urbana. É como se cada um deles já assumisse com as mãos atadas ou com a decisão de apenas dourar a pílula, numa sucessão ininterrupta de transferência de responsabilidades. Mas, apesar disso, a cidade continua crescendo. Veja-se, por aí, o volume de edificações isoladas ou dos chamados “conjuntos planejados”. Eles se desenvolvem, curiosamente, em uma cidade sem planejamento, pois o atual Plano Diretor tem a data de validade vencida. Ele é de 2002. Há dez anos, portanto, não é atualizado para receber os novos fluxos e influxos desse crescimento.
A expectativa é de que o administrador que venha a sair vitorioso desse segundo turno não dê as costas à população. Ele tem graves problemas a resolver nos transportes públicos, no saneamento, na habitação, na saúde, nos equipamentos escolares, que não podem se limitar eventualmente à construção da rede física, nas creches e por aí adiante. E tem o compromisso de não deixar que as áreas acaso ainda restantes, nas franjas das periferias, não sejam ocupadas pela especulação, colocando à margem, ou empurrando para as regiões mais remotas, a população que não tem como se defender. É bom que o eventual vitorioso se lembre de que o eleitor vem encontrando uma terceira opção nessa escalada de votos brancos, nulos e nas abstenções.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira