Geração de energia marcará início de nova era em Rondônia

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Augusto Diniz (O Empreiteiro) e Andrew Wright (ENR – Engineering News Record) – Porto Velho (RO)

O local onde antes era uma enorme corredeira do rio Madeira já está totalmente transformado. E gerando energia. Visível de Porto Velho, capital do estado de Rondônia, a Hidrelétrica Santo Antônio aparece no meio do rio imponente e candidata a mais uma obra-símbolo da Engenharia brasileira.

Ela também representa um novo ciclo socioeconômico para a região. Rondônia deve experimentar uma transformação radical com a abundância de energia que a nova hidrelétrica irá proporcionar.

O custo total do empreendimento é de cerca de R$ 15 bilhões (mais de 70% já foram aplicados no projeto). O início das obras se deu em setembro de 2008. O término previsto é para o final de 2015 ou início de 2016. Cerca de 70% dos trabalhos já foram realizados.

A proposta era entregar funcionando a primeira unidade geradora de energia no meio deste ano. Mas já há quatro operando. E a previsão é colocar mais oito em operação até dezembro. Isso representará 1.145 MW/h de energia gerada até o fim de 2012, dos 3.150 MW/h previstos no total – ou 3.580 MW/h, se o projeto de acrescentar mais 6 turbinas vingar, além das 44 propostas pelo projeto inicial. A informação é de Leonardo Borgatti, do Consórcio Santo Antônio Civil (CSAC), responsável pelas obras civis do empreendimento e que é composto das construtoras Odebrecht e Andrade Gutierrez.

Os trabalhos de construção da usina começaram com a execução progressiva de ensecadeiras, em diferentes trechos do rio Madeira, para permitir a escavação e posterior concretagem da estrutura no leito do rio.

Em seguida, veio a construção do vertedouro principal e auxiliar, além da casa de força 1. Depois, começaram as obras da barragem, o que permitiu o enchimento do reservatório. Agora, os trabalhos se concentram nas casas de força 2, 3 e 4.

Casa de força 1: localizada à margem direita do rio, com 8 unidades geradoras de energia, sendo que quatro já estão em operação. Mais quatro devem entrar em funcionamento até o final do ano. A energia que está sendo gerada pelas turbinas em operação atende os estados do Acre e Rondônia.

Casa de força 2: localizada na margem esquerda do rio, com 12 turbinas. Os trabalhos civis desta unidade estão quase encerrados. Espera-se colocar quatro turbinas em operação até dezembro.

Casa de força 3: localizada na margem esquerda do rio, com 12 turbinas, seguem nesse trecho os trabalhos de escavação para passagem do fluxo de água.

Casa de força 4: localizada no leito do rio, com 12 turbinas, realiza-se a escavação do leito do rio. Estuda-se nesta casa de força a implementação de mais 6 turbinas, o que faria com que a Hidrelétrica Santo Antônio gerasse até 3.580 MW/h – pelo projeto original, a usina está prevista para gerar até 3.150 MW/h de energia.

Um vertedouro principal, a maior estrutura do empreendimento, localizado no centro da usina, tem 15 comportas. A vazão de água deste vertedouro é de 84 mil m³/s. Um vertedouro auxiliar, no lado direito, possui 3 comportas.

Assim, a estrutura da usina é formada da seguinte forma, da margem direita para a esquerda: casa de força 1, vertedouro auxiliar, casa de força 4, vertedouro principal, casa de força 2 e casa de força 3. Entre o vertedouro auxiliar e a casa de força 4 existe uma ilha no leito do rio.

Aumento de capacidade
A proposta de aumentar a capacidade de geração de energia da Hidrelétrica Santo Antônio começou já com o projeto em andamento. De acordo com estudos do consórcio, com o crescimento de apenas 80 cm do nível da água do reservatório já seria capaz de atender a demanda de adição de mais seis turbinas na usina, acarretando seis meses a mais de trabalho no cronograma inicialmente previsto, explica o engenheiro Délio Ives Gomes Galvão, diretor de contrato da Odebrecht Energia.

Turbinas

*Mulheres trabalham na montagem do núcleo da turbina

No canteiro de obras de Santo Antônio, há três galpões para montagem das turbinas do tipo bulbo, que já chegam pré-montadas. O núcleo da turbina – que transforma a energia mecânica em elétrica – demanda um trabalho manual. Devido à delicadeza desse trabalho final de montagem, muitas mulheres atuam nessa etapa.

“Trata-se da parte mais sensível da turbina. É o núcleo do elemento, com o estator e o rotor”, explica Nassim Argel, gerente de Engenharia de Montagem da CSAC. Para sua montagem, usa-se barras de cobre e chapas de silício, que são colocadas uma a uma, no campo magnético da turbina, que pesa 210 t (peso até considerado baixo em relação às turbinas utilizadas no passado, apesar de esta ser a maior já projetada no mundo). Cada turbina tem capacidade de gerar 71,6 MW/h.

As peças das turbinas estão sendo produzidas em São Paulo pelas empresas que integram o Grupo Industrial do Complexo Rio Madeira (Gicom). Elas chegam de caminhão a Porto Velho e levam, em média, 15 dias de viagem.

O canteiro de obras, ocupando as duas margens do rio, é composto ainda de pipe shop com capacidade de manuseio de 600 t/mês (em média) de tubulações. Compõe ainda o imenso canteiro uma central de britagem, com capacidade de produção de 860 t/h de agregados – um dos maiores investimentos da obra, avaliado em R$ 30 milhões —, central de concreto, central de carpintaria, central de armação e central de gelo (usado no concreto). Há ainda uma termoelétrica no canteiro de obras capaz de gerar 9 MW de energia. Cinco estações de tratamento de água (ETAs) integram o complexo.

Desafios

O engenheiro Délio Ives Gomes Galvão aponta que o maior desafio da obra tem sido a capacidade de organizar tanta gente no canteiro de obras. O manejo do imponente rio Madeira também é considerado por ele como um obstáculo formidável. Délio já trabalhou em pelo menos oito obras de hidrelétricas pelo Brasil afora. Estava aposentado há mais de um ano, quando foi chamado para atuar no que seria seu maior projeto.

Transmissão

A Hidrelétrica Santo Antônio será interligada ao sistema elétrico do Sudeste e do Centro-Oeste do Brasil, através do chamado “Linhão” do Madeira, de 2.375 km de extensão, que deverá ficar pronto no final de 2013. Uma linha provisional foi instalada para levar energia de Santo Antônio até a subestação, a 40 km de Porto Velho. A subestação está quase pronta. Torres de transmissão chegam a ter 90 m de altura para cruzar trechos da Floresta Amazônica.

Transposição de peixes

Um sistema de transposição de peixes de mais de 1 km foi criado, na margem direita do rio, reproduzindo as mesmas condições existentes no passado, para assegurar que os peixes subam o rio no período da piracema. Os botos que habitam o rio Madeira naquela região não cruzavam as corredeiras antes existentes no local da hidrelétrica por suas características. Portanto, o sistema de passagem de peixes não contempla a transposição de botos.

Remoções

Com as obras da hidrelétrica, 550 unidades residenciais foram removidas – todas se localizavam às margens do rio e eram habitadas por ribeirinhos. Foram, no total, 500 km² de área alagada, sendo que 270 km² já pertenciam à calha do rio. A relação km² de área alagada/energia gerada é de 0,86 MW – índice considerado baixo.

Trabalhadores

Atualmente, 15 mil pessoas – sendo 10% mulheres – trabalham na construção da Hidrelétrica Santo Antônio, mas no pico chegou-se a 20 mil. Há 2.500 pessoas que moram no próprio canteiro de obras. Cerca de 100 haitianos, que estavam vivendo na fronteira do estado do Acre com o Peru, trabalham na obra.

Cerca de 80% dos trabalhadores são da região de Porto Velho – a cidade fica a 7 km do canteiro de obras. Trabalha-se em dois turnos na construção da usina. Cerca de 240 ônibus fazem o transporte dos trabalhadores.
Em outubro, calcula-se já terem chegado a 25 milhões o número de refeições servidas aos trabalhadores. A cozinha opera interruptamente e emprega 280 funcionários.

 

Lá vêm os troncos

O nome rio Madeira surgiu devido ao número excessivo de troncos que descem o seu leito. Por isso, há previsão de implementação de sistema de manejo de troncos, evitando que eles dificultem o bom desempenho da usina. Por outro lado, ambientalistas alegam que a passagem de troncos de forma intacta pela hidrelétrica é fundamental para garantir a continuidade da cadeia alimentar do ecossistema da bacia do rio Madeira, importante afluente do Amazonas. Assim, será montado uma descarga de tronco na casa de força 4.

Atualmente, eles têm sido apenas desviados para não se chocar com as turbinas em funcionamento. Há uma tela colocada para que eles não ingressem na casa de força. De acordo com o consórcio construtor, passam por dia em média 5 mil troncos de árvore naquele trecho da hidrelétrica do rio Madeira – mas no período das chuvas pode chegar a 8 mil. Na época em que havia diversos garimpos de ouro no rio Madeira, os troncos também eram o maior perigo enfrentado pelos mergulhadores que trabalhavam em seu leito.

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