Investir em projetos e na responsabilidade técnica

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Cristiano Kok

A engenharia brasileira mantém o mesmo nível de qualidade que a distinguiu há algumas décadas, mas continua a sofrer alguns problemas estruturais que dificultam o seu desenvolvimento tecnológico. Entre estes problemas merecem menção a baixa remuneração paga pelos projetos, tanto no setor público quanto em empresas privadas; a carência de profissionais com experiência entre 10 e 20 anos, que foram excluídos do mercado de trabalho na chamada " década perdida", e hoje deixam de fazer a transição entre os jovens e os mais experientes e a falta de programas continuados de investimentos, com planejamento e perspectivas, que permitam firmar os quadros das empresas de consultoria.
A inovação, natural e necessária, é um processo que deriva da experiência, da tentativa e erro, e do desejo contínuo de melhorar. Sempre que se formam equipes motivadas e desafiadas a inovação aparece, em processos de redução de prazos, de custos e de saltos tecnológicos em projetos e métodos construtivos.
Os óbices a esta inovação derivam principalmente da falta de continuidade de investimentos em empreendimentos similares, que permitam a formação de equipes treinadas e experientes. Inova-se quando se alia a experiência dos mais velhos à ousadia dos mais jovens. A formação de quadros com estas características é o fator mais importante da inovação.
O que fazer? A essa indagação da Revista O Empreiteiro respondo que o primeiro fator é o projeto. Investir em projetos de qualidade, completos, em que todas as investigações prévias tenham sido realizadas, é o primeiro passo para a garantia do cumprimento de prazos, custos e orçamentos.
O segundo fator é o preço. Contratos a preço vil são convites à engenharia de renegociação de contratos e à quebra da qualidade. O terceiro fator são os sistemas de gestão. Não se concebem mais empreendimentos que não atendam a sistemas de gestão da qualidade, de saúde e segurança do trabalho e de gestão ambiental compatíveis com as normas ISO 9001; 14001 e OH-SAS 18.001. E o quarto e não menos importante fator é o planejamento da obra em todas as suas fases, envolvendo as atividades de compras, de alocação de mão-de-obra e de disponibilidade de equipamentos, de forma a envolver e integrar todos os componentes do sistema.
Entendo que a responsabilidade técnica é, a cada dia, mais importante, não como um tendimento às exigências do sistema Crea/Confea, mas como um mecanismo integrante do sistema de gestão da qualidade do empreendimento.
A responsabilidade técnica envolve todos os aspectos do projeto, e não apenas "erros de cálculo" , e sim a garantia de que todos os elementos de projeto necessários para a construção estejam disponíveis. Envolve a responsabilidade ambiental do empreendimento e a garantia que os trabalhos estejam sendo realizados em ambiente seguro. E se reflete na fase de construção, na inspeção de materiais e serviços, na certeza de que o projeto está sendo realizado na forma prevista. A responsabilidade técnica é muito maior do que o preenchimento de uma ART – Anotação de Responsabilidade Técnica e o recolhimento de uma taxa.

Cristiano Kok é membro vitalício do Sinaenco e presidente da Engevix Engenharia

Fonte: Estadão


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