Brasil quebra jejum de 13 anos com o lançamento de João Candido

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O Estaleiro Atlântico Sul entregou, no início de maio, o primeiro de uma série de 22 navios petroleiros encomendados pela Transpetro, colocando novamente o Brasil entre os países construtores de navios petroleiros de grande porte

Com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi lançado ao mar, no dia 7 de maio, o primeiro navio do Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef), no Estaleiro Atlântico Sul (EAS), no porto de Suape, em Pernambuco.

O navio Suezmax (tipo de embarcação que tem as maiores dimensões e capaz de passar no Canal de Suez, que liga o Mar Vermelho ao Mar Mediterrâneo) é um novo marco histórico para a indústria naval brasileira. Trata-se da primeira embarcação de grande porte construída no Brasil em 13 anos. Antes dele, houve o navio Livramento, encomendado em 1987 e só concluído em 1997.

A retomada da construção de navios e plataformas de produção de petróleo no País acelera o Promef, que foi criado em 2004 para revitalizar a indústria naval em bases globalmente competitivas, a partir da encomenda de 49 navios.

Com capacidade para um milhão de barris de petróleo (metade da produção diária nacional), o navio será utilizado, principalmente, para viagens internacionais de longo curso. Ele foi batizado com o nome de João Cândido, em homenagem ao líder da Revolta da Chibata (movimento surgido no final de 1910, que reivindicou o fim dos castigos físicos – chibatadas – para os marinheiros que cometiam erros). A madrinha do navio foi a soldadora da EAS, Josenilda Maria da Silva, representando os mais de 3.700 empregados do estaleiro.

O EAS, criado para disputar as encomendas da Transpetro, deverá responder pela construção de outros nove navios Suezmax, além do João Cândido. Esta foi a primeira obra do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) a ter o contrato assinado, em janeiro de 2007. O segundo lançamento do Promef está previsto para junho próximo, no Estaleiro Mauá (RJ), e será um navio para transportar derivados de petróleo, que levará o nome do economista paraibano, Celso Furtado.

De acordo com o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, “este lançamento é um marco, pois, acreditava-se que era impossível o Brasil voltar a construir navios. Não só voltamos a construir como estamos estabelecendo uma indústria naval moderna e competitiva, gerando emprego e mudando a vida da população local”.

Entre os benefícios citados por Machado, as encomendas do Promef colocam o Brasil na posição de quarto maior fabricante de navios petroleiros do mundo, superando a Turquia. Além disso, também respondem pela criação de 200 mil empregos e pela economia anual de US$ 500 milhões em divisas, que vinham sendo transferidas a estaleiros estrangeiros.

Considerada a maior armadora da América Latina e a principal empresa de logística e transporte de combustíveis do Brasil, a Petrobras Transporte SA (Transpetro), subsidiária integral da Petrobras, atende às atividades de transporte e armazenamento de petróleo e derivados, álcool, biocombustíveis e gás natural.

Fim da estagnação

Com apoio do governo federal e recursos do Fundo de Marinha Mercante (FMM), o Promef tirou da estagnação um segmento que estava sem encomendas significativas há quase duas décadas. Resgata-se, com isso, uma tradição iniciada no final do século XIX pelo Barão de Mauá e que teve seu auge na década de 70, quando o Brasil chegou a ser o segundo maior construtor de navios do mundo. De dois mil empregos no ano 2000, a indústria naval atingiu mais de 45 mil empregos este ano.

“Este navio representa o primeiro de uma série de muitos outros que serão feitos aqui. Ele abre novas oportunidades de investimento. É o início de um ciclo virtuoso para o setor”, diz o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli.

O EAS, surgido com base nas encomendas do Promef, se caracterizou por um elevado aproveitamento de mão de obra local. Mais de 90% dos trabalhadores na construção do estaleiro e dos navios vêm dos cinco municípios do entorno do Complexo Portuário do Suape, dando acesso a oportunidades de emprego e qualificação profissional e educacional para milhares de pessoas.

Frota própria

Com o Promef, a previsão é de que a frota da Transpetro, hoje com 52 navios, será modernizada e deverá crescer, chegando a mais de 100 navios em 2014. Esse número deve aumentar com o Promef III, a terceira fase do programa, que será lançada este ano e já está contemplada no PAC 2. O novo programa levará em conta o aumento de produção de petróleo e gás advindo dos campos do pré-sal, e a entrada em funcionamento das quatro novas refinarias no Nordeste (Pernambuco, Ceará, Maranhão e Rio Grande do Norte) e do Comperj, o complexo petroquímico em Itaboraí, no Grande Rio.

As duas primeiras fases do Promef foram concebidas antes das novas descobertas dos campos do pré-sal nas bacias de Santos e Espírito Santo, o que aponta para a criação de novas fases do programa já a partir deste ano.

Encomendas contratadas

– Dez navios Suezmax (160.000 TPB) – EAS (PE) – US$ 1,2 bilhão.

– Cinco navios Aframax (110.000 TPB) – EAS (PE) – US$ 693 milhões.

– Quatro navios Panamax (73.000 TPB) – EISA (RJ) – US$ 468 milhões.

– Quatro navios de produtos (48.000 TPB) – Mauá (RJ) – US$ 277 milhões.

– Quatro navios aliviadores Suezmax DP (com posicionamento dinâmico) (160.00 TPB) – EAS (PE) – US$ 746 milhões.

– Três navios aliviadores Aframax DP (com posicionamento dinâmico) (110.000 TPB) – EAS (PE) – US$ 477 milhões.

– Três navios de bunker (óleo combustível marítimo) – Superpesa (RJ) – US$ 46 milhões.

– Cinco navios de Produtos, para transporte de derivados de petróleo – 30 mil TPB – Estaleiro Rio Nave (RJ) – US$ 268 milhões.

Encomendas à espera da assinatura dos contratos

– Oito navios gaseiros (quatro de 7.000 m³, dois de 12.000 m³ e dois de 4.000 m³), para transporte de gás liquefeito de petróleo – Estaleiro Promar Ceará (CE) – US$ 536 milhões

Encomendas em fase
final de licitação

– Três navios de Produtos, para transporte de derivados de petróleo.

Competitividade

A necessidade de modernizar e aumentar a sua frota de navios – para atingir a meta de atender a Petrobras em 100%, na cabotagem, e 50%, no longo curso – levou a Transpetro a estruturar um programa capaz de contribuir para a consolidação de uma indústria naval moderna e internacionalmente competitiva.

O programa foi desenvolvido com base em três premissas essenciais:

– Construir os navios no Brasil.

– Alcançar um nível mínimo de nacionalização (65% na primeira fase, 70% na segunda).

– Oferecer condições para os estaleiros nacionais conquistarem, após a curva de aprendizado, competitividade em nível global.

Navipeças

Cada navio encomendado pela Transpetro é composto de 2 mil a 3 mil itens diferentes. Cerca de 70% das navipeças já são fabricadas no Brasil ou podem vir a ser fabricadas em um prazo relativamente curto. São itens como chapas e perfis de aço, tintas e solventes, amarras, tubulações, acessórios de casco, caldeiras, válvulas comuns e bombas centrífugas.

Outros componentes, como guinchos de amarração, âncoras, guindastes e motores auxiliares, passam a ter viabilidade de produção no País a partir da encomenda da Transpetro.

Perfil do petroleiro
– Tipo de navio: Suezmax (tem as maiores dimensões para passar no Canal de Suez, que liga o Mar Vermelho ao Mar Mediterrâneo)

– Comprimento total: 274,2 m

– Comprimento entre perpendiculares: 264 m

– Boca moldada: 48 m

– Pontal moldado: 23,2 m

– Calado de escantilhão: 17 m

– Demanda de aço: 24,5 mil t

– Capacidade: 1 milhão de barris

– Porte bruto (peso da embarcação + a carga máxima): 157,7 mil t

– Velocidade de serviço: 14,80 nós

– Consumo de tinta na construção: 300 mil l

– Motor principal: Doosan 6S70ME-C7 – MCR 22.920BHP x 91 RPM

– Hélice de passo fixo

– Três segregações

Fonte: Estadão


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