Meio século para realizar potencial adormecido

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Não é necessário ser vidente ou ter poderes paranormais para visualizar como vai ser o Nordeste daqui a 50 anos, que rumos vai tomar. Ainda que ventos bravios possam soprar contra o barco dos nordestinos, a tripulação tem as ferramentas para vencer a maré, com investimentos pesados em infraestrutura, energia e geração de empregos. São dezenas de projetos estruturantes para a Região, muitos deles a todo vapor. Especialistas fazem um exercício de análise de como será o Nordeste em 2061

Andreh Jonathas / Barbara Holanda – Fortaleza (CE)

Um convite ao futuro. Não mais que 50 anos. Tempo suficiente para gerações inteiras realizar sonhos, sofrer decepções, sorrir nascimentos e chorar partidas. Período para ver entrar e sair governos, começar e terminar grandes obras. Um exercício de ir para frente, sem medo de equivocar-se. Hoje, o Nordeste passa por um momento de transformação. A Região destaca-se no País com a pujante geração de emprego; forte atração e instalação de grandes empreendimentos; crescente atuação no âmbito econômico e político. Mas é hora de encarar os principais desafios, como erradicar a pobreza, implantar sistemas eficientes de educação e generalizar o serviço de saúde pública de qualidade. O Empreiteiro completa 50 anos em 2011 e faz a pergunta: Como vai ser o Nordeste daqui a cinco décadas? A resposta não é fácil e nem definitiva, mas é possível arriscar uma análise de futuro a partir do que está sendo desenvolvido na Região.

E o Nordeste vai para o futuro, principalmente, de trem e de navio. Um sistema de transportes formado por ferrovia, terminais portuários e estradas vai alimentar um novo arranjo econômico. Tudo com a retirada do proveito máximo de cada um dos modais. Esso é o princípio básico da Ferrovia Transnordestina.

O diretor de Negócios da Transnordestina Logística S.A (TLSA), Marcello Barreto Marques, analisa a importância da ferrovia para a Região. “É certamente o maior projeto de infraestrutura de transporte em execução no País. Sua implantação permitirá que a matriz de transporte do Nordeste, sobretudo na área de influência do projeto (Ceará, Pernambuco, Piauí, Tocantins e Bahia), mude drasticamente, possibilitando que empresas se instalem, que a produção do cerrado alcance níveis extremamente positivos e que a integração entre ferrovia e os portos de Suape (PE) e do Pecém (CE) se torne uma realidade no curto prazo.Tudo isso conjugado permitirá uma maior competitividade nas exportações das commodities do agronegócio e do setorminerais”, comenta.

Marques explica que o modal ferroviário possui características especiais para movimentar grandes volumes, além de ser ambientalmente mais atrativo, pois emite baixo nível de dióxido de carbono. E em um futuro – próximo – a economia do Nordeste vai colher os frutos dos benefícios da Transnordestina. O projeto tem grande capacidade de geração de postos de trabalho, de forma constante. Atualmente, cerca de 11 mil novas vagas de trabalho estão sendo geradas por conta da implantação da nova ferrovia. Também colherão bons resultados do projeto o agronegócio e a indústria de extração mineral.

Marcello Marques cobra, no entanto, celeridade em alguns procedimentos que não dependem da empresa. São os desafios para serem resolvidos em curto prazo. “Os principais entraves certamente são as desapropriações e os licenciamentos.” Mesmo assim, o diretor destaca o empenho do Pernambuco, Piauí e Ceará, através dos governos estaduais, por chamarem para si a responsabilidade das desapropriações. “A TLSA, juntamente com os órgãos de meio ambiente, está sempre buscando celeridade nos licenciamentos, que só podem ser liberados após os trechos estarem desapropriados e as condicionantes atendidas”, lembra.

As principais cargas transportadas pela Transnordestina serão granéis líquidos, como diesel, gasolina, alcoóis e biodiesel; granéis sólidos, como minério de ferro, calcário, antracita, coque de petróleo, clínquer, gesso, argila para indústria cimenteira e fábrica de cerâmica, cal e brita. Também serão carregados contêineres, malte, cevada, alumínio em lingotes, vergalhão, ferro gusa, bobinas de aço, chapas de aço, cimento, trigo e muitos outros produtos.

Por uma logística integrada

A Ferrovia Transnordestina vai impactar em diversos aspecto

s no Nordeste, contribuindo para crescer e desenvolver a Região nos próximos anos. Os comércios nacional e internacional são um dos que serão beneficiados durante e após a construção de 1.728 quilômetros e remodelação de 550 quilômetros, no Ceará, Pernambuco, Piauí e Alagoas.

Com investimento total da ordem de R$ 5,42 bilhões, a Transnordestina, associada à cabotagem (transporte por navio, dentro do País), vai interligar a Região Nordeste e dar suporte a negócios em todo o País. O objetivo é reduzir o tempo de logística de cargas, principalmente, com destino à Europa e a Ásia, mercados preferidos aos produtos brasileiros.

A projeção é de que a ferrovia possa transportar cerca de 27 milhões de toneladas de produtos em 2020. A construção da megaobra foi iniciada em 6 de junho de 2006. A conclusão do primeiro trecho está prevista para2013.

Quilometragem dos trechos
da Transnordestina

Missão Velha – Salgueiro

96 km

Missão Velha – Pecem

527 km

Salgueiro – Suape

522km

Salgueiro – Trindade

166 km

Trindade -Elizeu Martins

420 km

Total

1.728 km

Equação financeira da Transnordestina

A companhia Siderúrgica Nacional (CSN) – acionista controlador da Ferrovia Transnordestina – vai disponibilizar aproximadamente R$ 1,35 bilhão do capital total a ser investido no projeto. O restante virá de recursos, como o Fundo de Investimento do Nordeste (Finor), o Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE) e verbas do Governo Federal. O FDNE e FNE são administrados pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB). Os recursos do Finor vêm de incentivos fiscais da Receita Federal do Brasil para serem aplicados em projetos na Região. O projeto da Transnordestina faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Desafios ainda serão infraestrutura,
mão de obra e energia

O Nordeste, em 2061, terá novas feições. Além da ferrovia Transnordestina, a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) e a Ferrovia Norte-Sul também já estarão concluídas, ligando o Nordeste às outras regiões do País. Essas ferrovias resolverão grande parte dos problemas regionais de transporte e logística e o Nordeste estará, então, planejando e, quiçá, executando soluções para outros problemas que tendem a se agravar nos próximos 50 anos, como a geração de energia. Essa é a opinião do economista assessor-chefe do gabinete da Secretaria do Planejamento do Governo da Bahia, Antônio Alberto Valença, especialista em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto Latino-Americano e do Caribe de Planejamento Econômico e Social (Ilpes).

“Um caso concreto dessa questão da energia é vivenciado na Bahia. Foi descoberta no Estado uma reserva de bauxita, que é matéria prima do alumínio, mas essa bauxita será levada para o Paraguai para ser transformada lá, porque aqui não existe energia suficiente. Portanto, não há que se pensar só em logística e transporte, mas também em energia elétrica e mão de obra qualificada. Isso precisa fazer parte de uma política nacional de desenvolvimento regional, que é o que falta para o Nordeste”, critica.

De acordo com Valença, o Nordeste poderá estar pensando, em 2061, na utilização de energia nuclear e na construção de centrais termonucleares. “Poderemos enfrentar falta de energia e essas centrais seriam uma saída. A energia nuclear entrou em discussão após o acidente no Japão, mas em 25 anos foi o segundo acidente. Existem no mundo mais de 400 centrais nucleares e até hoje foram só dois acidentes. O problema é a gravidade desses acidentes. Mas é perfeitamente possível aprofundar-se nessa questão da segurança e tornar essas centrais ainda mais confiáveis”, defende.

O assessor-chefe diz que, para seguir na rota do desenvolvimento, há caminhos que independem do Nordeste, entre eles a definição de uma política nacional de desenvolvimento regional, com diretrizes e estratégias claras e

específicas. A criação, em 1959, da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), foi um primeiro passo, mas “infelizmente, houve mudança de rota e o que se previa com a criação da Sudene não aconteceu. O que aconteceu foram algumas ações isoladas, como a construção do porto de Suape, em Pernambuco, o polo petroquímico da Bahia e o Porto do Pecém, no Ceará. Precisamos de uma política regional que reduza as discrepâncias entre o Nordeste e o Sudeste e, se possível, até eliminá-las em 50 anos”, diz.

Mas há também caminhos que dependem exclusivamente do Nordeste, avalia Valença. Para ele, é preciso haver um movimento de renovação das forças políticas e da sociedade organizada no sentido de combater políticas arcaicas baseadas no clientelismo e no populismo. Acredita que é preciso também criar um ambiente favorável ao desenvolvimento da região, papel dos Estados. “Não vamos a lugar nenhum sem infraestrutura e sem qualificação da mão de obra”.

Fonte: Estadão


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