Chamo atenção para uma declaração do ministro Eduardo Braga, das Minas e Energia. Ele tem dito que o aumento do preço da energia elétrica não vai chegar a 40%. Diz isso como se não fosse nada chegar a esse patamar. Como se o preço já fosse baixo demais e, um aumento desse porte, não significasse muita coisa para o consumidor.
Obviamente o aumento teria que vir. Mas, vem de modo errado e na hora errada, a exemplo do que acontece com os demais aumentos programados. Deveria ter sido feito antes, talvez em doses homeopáticas e em momento de maior estabilidade da economia. Mas, o governo não quis fazê-lo antes, por causa da campanha eleitoral. Qualquer aumento naquele período seria um argumento e tanto para o adversário desancar o programa da candidata, embora se soubesse que, depois, a conta seria colocada, bem salgada, para a população.
Pode-se dizer que a declaração do ministro reflete a franqueza com que ele observa as ocorrências dinâmicas da economia. Não deixa, contudo, de revelar uma aparente insensibilidade. E, se o aumento chegar a 40%? E, se não parar por aí? As concessionárias de energia elétrica têm demonstrado que não vão se satisfazer apenas com o aumento previsto. Dizem que têm compromissos graves a cumprir para realizar novos empreendimentos e têm obras de ampliação e de manutenção do sistema que não podem mais ser postergadas. Precisam considerar o tempo perdido, quando não puderam fazer o que deveriam ter feito para a obtenção da margem estreita da lucratividade. Como nada foi feito e as termelétricas não pararam de funcionar, como ainda não param, o resultado é o preço caro da energia.
Mas, e o consumidor? Bem, só pensam nele na hora de pagar a conta. Desde que a cúpula esteja em paz e com os seus gordos vencimentos garantidos, a base da pirâmide que vá se agüentando.
Por causa dessa realidade, prefiro ficar com o pensamento do economista Luiz Gonzaga Beluzzo, em sua entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo de domingo último. Diz o professor que o ajuste fiscal, apontado pelo governo como o milagre para essas horas amargas, pode aprofundar os problemas de crescimento, na medida em que deixa de tocar no ponto mais sensível: a necessidade de estimular o crescimento da indústria do País. Estamos, segundo ele, “guiando o carro na contramão”.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira