Penso no navegador Dan Robson, empenhado em monitorar os lances do flutuador que avalia o nível de oxigênio das águas do Tietê, em especial nos limites da região metropolitana de São Paulo.
Vai ele rio afora, acompanhado por uma equipe da Globo, bombeiros e técnicos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas. Enfrenta milhões de escolhos, no fundo, montanhas de sujeira, que se torna lama viscosa, sob uma camada espessa de água podre. No trajeto, aquelas garrafas, milhares delas, boiando na lama. Mas, há mais coisas, entre a terra e a água, que talvez nem o céu desconfie. Dentre elas, corpos, animais mortos, pneus, carcaças de veículos, dejetos. Enfim, todo o ciclo de poluição que a população é capaz de produzir.
A camada de todo tipo de sujeira não é uma peneira a possibilitar a penetração sequer de alguns raios de sol. Ao contrário. É uma chapa de lama a impedir que o rio respire, que ali haja algum filtro possível e mínimo de oxigenação.
A sujeira vem de todos os lados e de todos os córregos. E, com a impermeabilização do solo urbano, o rio se torna o escoadouro natural de toda massa de sujidade.
O mais grave, nessa incursão do navegador pelo esgoto, é a percepção de que se algo foi feito em favor do rio ao longo dos anos, nada está a indicar que tenha havido melhoria mínima que seja. Aparentemente a camada de poluição engordou e o Tietê ficou mais pesado, lento, ameaçando parar, com o seu leito imobilizado, sem forças para movimentar o que ainda lhe resta de água. Daqui a pouco o navegador deixará o barco emperrado no lixo e começará a fazer sua incursão a pé, sobre o leito transformado em lama podre, endurecida. Vivemos o ciclo do colapso do Tietê na região metropolitana.
Fonte: Estadão