Ampliação das atividades diversifica perfil econômico da região
Regina Ruivo
Um estudo intitulado “Goiás 2020 – Indústria Rumo ao Futuro”, elaborado pela Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), mostra bem as dificuldades a serem enfrentadas nas questões de competitividade e de sustentabilidade pela indústria nesta década. |
Ainda assim, a produção das indústrias goianas deverá crescer em média 3% a mais do que a produção da indústria brasileira, como resultado do recente processo de desenvolvimento na região. As exportações devem saltar dos atuais 0,82% de participação no total exportado pela indústria brasileira para 1,5% em 2020. Já a economia goiana, em relação ao PIB nacional, poderá saltar de 2,60%, em 2010, para 4%, em 2020.
Para a Fieg, a perspectiva de conclusão da Ferrovia Norte-Sul até o final de 2012, criando um novo eixo de desenvolvimento no norte goiano, estimulará o crescimento do agronegócio brasileiro e o segmento de mineração. Os mercados adjacentes, formados pela potência do Distrito Federal e pelos estados, Norte e Nordeste, ainda pouco explorados pela indústria goiana, poderão abrir novas possibilidades na produção industrial no curto prazo.
A entidade considera que o projeto de expansão da hidrovia Tietê-Paraná facilitará acesso a baixo custo aos portos do Sul e Sudeste do País, enquanto a Ferrovia Norte-Sul oferecerá as mesmas vantagens em relação ao acesso aos portos do Maranhão e do Pará.
Histórico de incentivos
Goiás é um dos estados signatários da “Carta de Campo Grande”, que resultou da reunião entre os governadores do Centro-Oeste em junho último e que tratou de incentivos fiscais relativos ao Imposto sob Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). No documento, eles divulgaram dez tópicos com as principais demandas comuns à região a respeito de desenvolvimento e contrárias às perdas previstas em decorrência de uma eventual reforma tributária.
O estado tem uma história de 30 anos de incentivos fiscais, desde o “Programa Fomentar”, de 1984, substituído depois pelo “Produzir”. Nos últimos 11 anos, o número de indústrias no estado mais do que dobrou — 127,9% — e o PIB industrial nominal em Goiás cresceu 194,8%. Atualmente, três Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) tramitam no Supremo Tribunal Federal questionando os incentivos fiscais concedidos por Goiás nos últimos tempos.
“Nossa proposta é somar as regiões Norte e Nordeste ao Centro-Oeste para conseguirmos, junto ao Congresso, maior segurança jurídica e crescimento da economia dessas áreas”, explica Giuseppe Vecci, secretário de Gestão e Planejamento de Goiás. Para ele, “se Goiás não fosse atrevido, ousado, não teríamos o segundo maior polo farmoquímico do País. Não teríamos quatro indústrias automobilísticas. Precisamos agora ser atrevidos na área da Tecnologia de Informação. Não podemos mais ficar à margem do Brasil e do mundo”.
Indústria automobilística
A indústria automobilística continua a se instalar em Goiás. Já estão lá a Hyundai (desde 2007), Mitsubishi (1998) e John Deere (1999), que fabrica colhedoras de cana. E novos investimentos estão surgindo, contabilizados na casa de R$ 600 milhões: outras seis fabricantes de carros estão dispostas a se instalar no estado, todas marcas chinesas, entre as quais Fonton (fabricante de vans, ônibus e caminhões), Hawtai Motors (que produz utilitários), Effa (vans e veículos de passeio) e AJR (que montam picapes, furgões e vans).
Outra que está chegando é a japonesa Suzuki, que optou pela cidade de Itumbiara. Com investimento inicial de R$ 100 milhões, ela deve começar a produção no final de 2012, com a meta de 7 mil veículos/ano.
*Planta da Mitsubishi teve sucessivas ampliações
O estado disputou a Suzuki com o Rio de Janeiro, Brasília e Minas Gerais. A ideia é que a empresa conte com incentivos fiscais da ordem de R$ 2,1 bilhões, por meio do “Produzir”. Em contrapartida, a Suzuki promete criar quase 800 empregos diretos.
O objetivo da montadora é a produção de veículos novos e o processo de adequação dos veículos importados. O terreno da nova fábrica tem 1,2 milhão m² e os trabalhos de terraplenagem já começaram. O chamado estágio 1 da expansão, com 12 mil m², será concluído em agosto de 2012. As principais instalações serão destinadas ao processo de fabricação e de movimentação de materiais, que aproveitam o plano altimétrico do terreno. Haverá ainda sistema de reuso de água pluvial e da chamada “água cinza”, de chuveiros e pias.
A fábrica será composta por sistemas modulares, com os prédios separados, cada um destinado ao seu foco, facilitando assim a expansão ao longo do tempo: linha de montagem, pintura, carroceria, estamparia, escritórios/administração, que inclui segurança e CPD, treinamento/auditório, refeitórios e, por último, engenharia de produto/protótipos. A longo prazo a ideia é atrair os fornecedores para o local.
Recentemente, Robert Rittscher, presidente da Mitsubishi do Brasil, assinou com o governo de Goiás protocolo de ampliação da montadora, que está sediada no município de Catalão e demandará aplicação de R$ 1 bilhão. O objetivo é aumentar a capacidade de produção de 50 para 100 mil carros/ano, o que equivale a uma produção diária de 300 carros.
Sucessivamente, a Mitsubishi — montadora japonesa que licenciou sua marca e tecnologia para a MMC Automotores do Brasil — tem ampliado suas operações. Em 2000, com o projeto Anhanguera, aumentou a área construída de 14 para 44 mil m². De 2004 a 2006, levou a cabo a segunda fase do projeto, ampliando o espaço para 65 mil m². Investimentos de R$ 401 milhões, de 2007 a 2009, contemplaram a terceira fase, com ampliação para aproximadamente 100 mil m².
Novos investimentos
A Fieg defende, com muita ênfase, as indústrias locais na prestação de serviços às grandes empresas que se instalam, “pois isso fortalece as cadeias produtivas, impulsiona o desenvolvimento econômico e proporciona competitividade ao setor produtivo”, ressalta Reinaldo Fonseca, assessor econômico da entidade. Mas, de um modo geral, a indústria metalúrgica goiana ainda não sentiu de perto os efeitos do boom das montadoras em Goiás.
Para Nilson João da Silva, secretário de Indústria, Comércio, Serviços e Turismo de Catalão (GO), a médio prazo, o setor metal-mecânico será o carro-chefe do processo e consolidação do polo industrial de Catalão. Hoje, grandes empresas estão pesquisando o município e elaborando estudos de viabilidade econômica, transferindo ou criando novas unidades. Segundo ele, encontra-se em fase de expansão/instalação no Distrito Industrial de Catalão, além da Mitsubishi, a divisão de beneficiamento de sementes da Du Pont-Pioneer; a John Deere, que amplia a unidade com investimentos de R$ 60 milhões; a Ferrogeo Mineração, indústria de transformação, que produzirá material refratário a partir da jazida de argila aluminosa existente em abundância no município; e a No Ramo, indústria de rações animais.
Dos principais setores que recebem investimento atualmente, destacam-se o agronegócio; mineração — Anglo American (nióbio), Ferrogeo (refratários), Vale Fértil (fertilizantes) e mais de uma dezena de misturadoras de adubos, como Hering, ADM, Fertigran, Sudoeste, Araguaia etc.; metal-mecânico — CMC, Mefasa, Zamec, John Deere, Stilrevest etc.; e alimentos — Coacal, Arroz Vasconcelos, Cocal Alimentos, Guaraná Amazonas etc.
Desde abril de 2007 operando com uma unidade industrial em Anápolis (GO), a Hyundai Caoa Montadora prepara-se para expandir sua fábrica, anunciando recentemente investimentos de R$ 600 milhões para a produção de um novo caminhão. Desde 2010, a empresa fabrica na unidade o modelo Tucson com exclusividade mundial.
Cenário emergente
“Em duas décadas, saímos da condição de estado subdesenvolvido para o clube de economia emergente no cenário brasileiro”. Esta é a opinião de Vivaldo Lopes, secretário-adjunto da Casa Civil de Mato Grosso, para a nova condição do Estado, que em 20 anos quintuplicou seu Produto Interno Bruto (PIB) e firmou-se na produção de bens primários: grãos, fibras, carnes e madeira.
“Todavia, se o objetivo é continuar crescendo com sustentabilidade ambiental e social, com melhoria da qualidade de vida da população, reduzindo desigualdades sociais e regionais, o caminho natural é avançar da posição de economia primária agroexportadora para o patamar de economia industrializadora de alimentos”, declara.
Mato Grosso abriga seis das dez maiores empresas processadoras de alimentos da atualidade: JBS-Friboi, BRFoods (Sadia/Perdigão), Cargill, Bunge, ADM Brazil e Marfrig. “Todas atraídas pelas vantagens competitivas do estado, aliadas a uma saudável política fiscal de atração de investimentos produtivo”, explica.
O governo mato-grossense desenvolve atualmente, por meio de diversas secretarias, um novo Programa de Desenvolvimento Econômico do Estado. “A ideia é planejar as ações para os próximos quatro anos com o intuito de acelerar ainda mais o desenvolvimento econômico de Mato Grosso”, enfatiza o coordenador do programa, Pedro Nadaf, secretário de Indústria, Comércio, Minas e Energia do Estado.
A equipe envolvida trabalha agora na coleta de dados e no planejamento das ações para que o Programa de Desenvolvimento Econômico fique pronto o quanto antes. “Teremos um raio-X do que já possuímos no Estado e diante dos números estimaremos investimentos e planejaremos as ações para os próximos quatro anos”, enfatiza Nadaf.
Toyota planeja unidade
Entre as indústrias que anunciaram programas de investimentos no Mato Grosso nos últimos tempos estão a Cluster Bioenergia, complexo agroenergético em Barra do Garças, que em junho solicitou alvará para execução dos trabalhos de infraestrutura no canteiro de obras; a unidade da Votorantim Cimentos, em Cuiabá, que foi iniciada em dezembro de 2010 e ficará pronta em 2012, produzindo 1,2 milhão t/ano; a fábrica da Vicunha Têxtil em Cuiabá, que recebeu inúmeros incentivos do estado e do município e deve começar a processar, ainda em 2012, 65 mil t/ano de algodão e produzir 72 milhões m/linear/ano; e a ampliação da Santana Textiles em Rondonópolis, que passará a produzir mais 27 milhões kg/ano de fios. Além disso, concessionários da marca Toyota em Mato Grosso e o presidente da Toyota Mercosul, Shunichi (Shun) Nakanishi, reuniram-se em julho com o governo local para tratar da possibilidade de instalação de uma fábrica da empresa no Estado.
Também outro protocolo de investimento para Mato Grosso foi assinado recentemente. A empresa Tubozan, do setor de tubos, conexões e forros de PVC, responsável por 40% das vendas no mercado mato-grossense, quer implantar uma unidade no Distrito Industrial de Cuiabá.
A Tubozan justifica a escolha pelo fato do estado estar em pleno desenvolvimento. Essa é também a opinião de Fernando Kuzai, presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias Metalúrgicas, Mecânica, de Manutenção Industrial e de Material Elétrico do Estado de Mato Grosso.
Ele explica: “Estamos vivendo um período de crescimento em Mato Grosso, não só do setor metalúrgico, mas de vários outros, principalmente imobiliário e de construção civil. Esse crescimento vem promovendo a expansão do setor metalúrgico. Estamos presenciando a instalação de novas empresas do setor, como, por exemplo, a Centro Aço, e a ampliação de outras, como é o caso da Açofer, Arcelor Mittal, Açometal e Fermat, além de investimentos consideráveis em maquinário para o setor metalúrgico que estão sendo realizados pelas indústrias aqui instaladas”.
Na sua avaliação, esse movimento surgiu quando começaram a se instalar plantas de unidades industriais e beneficiadoras, como Perdigão, Sadia, Votorantim, Anhambi, Vicunha, e posteriormente, com a escolha de Cuiabá como uma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014.
“Com isso, toda a cadeia de fornecedores se movimentou. Hoje, o fator que mais limita o crescimento é a escassez de mão de obra. E eu não digo nem mão de obra especializada, pois as empresas estão dispostas a investir em treinamento e qualificação. Então, o que estamos vivenciando é uma escassez generalizada de mão de obra de toda a sorte, mesmo daqueles que não têm experiência, pois há uma grande demanda por contratação, e o mercado está absorvendo toda a força de trabalho disponível”, finaliza.
MATO GROSSO- PIB EM VALORES CORRENTES
R$ MILHÕES
ANOS
| VALOR
|
2001
| 16.310
|
2002
| 20.941
|
2003
| 27.889
|
2004
| 36.961
|
2005
| 37.466
|
2006
| 35.258
|
2007
| 42.687
|
2008
| 53.023
|
2009
| 58.185
|
2010
| 66.547
|
Var. nominal
| 308,0%
|
Var. real
| 114,5%
|
Media real anual
| 11,5%
|
2008 = último dado oficial / IPCA 2001 a 2010= 90,2% / Fonte: IBGE – Contas Regionais / FIEMT – Assessoria econômica