As concessionárias de energia elétrica vivem basicamente da venda desse insumo. Quanto mais o cliente consumir, maior será seu faturamento. E para o Grupo Eletricité de France (EDF) não é diferente. A geração e a distribuição de energia são responsáveis pela maior fatia de suas receitas mundiais de US$ 80 bilhões. Pode parecer ironia, mas uma das divisões que mais vêm se destacando dentro desse conglomerado é a Dalkia, que atua exatamente na ponta contrária.
Sua função é fazer com que as grandes empresas, como shopping centers, hospitais e indústrias, por exemplo, paguem cada vez menos pela energia consumida.
No ano passado, os chamados projetos de eficiência energética renderam US$ 10 bilhões em nível global. E o Brasil, onde a Dalkia desembarcou em junho de 1998, é um dos mercados que vêm liderando essa expansão. Nos últimos cinco anos, a subsidiária dobrou de tamanho, atingindo um faturamento de R$ 200 milhões em 2008. Número expressivo, mas ainda tímido para as ambições da companhia.
Para acelerar a expansão dos negócios por aqui, a matriz, situada em Paris (França), nomeou Hervé Péneau.
Engenheiro com larga experiência no setor, ele dirigiu as filiais da Inglaterra e da República Tcheca. Sua prioridade no Brasil será a diversificação da carteira de clientes, hoje muito concentrada em shopping centers, que respondem por metade dos 60 clientes locais e quase 70% das receitas. “Vamos tirar partido do crescimento dos programas de sustentabilidade, baseados na redução das emissões de carbono”, diz Péneau, presidente da Dalkia Brasil.
R$ 200 milhões foi a receita da subsidiária Dalkia em 2008 no Brasil
A primeira medida adotada pelo executivo foi a ampliação da área de atuação da companhia, incluindo no portfólio projetos de gestão e reúso de água. Um insumo que se torna cada vez mais estratégico mesmo no Brasil, onde ainda é abundante.
O primeiro contrato dessa nova safra acaba de ser assinado com a siderúrgica ArcelorMittal. Caberá aos técnicos da Dalkia gerenciar o consumo de água e energia das plantas que a siderúrgica possui no Espírito Santo, em Minas Gerais, São Paulo e Santa Catarina. Para dar conta dessa tarefa, Péneau não descarta investir até mesmo em geração de energia, utilizando insumos renováveis como biomassa: restos de madeira e bagaço de cana, por exemplo. “Trata-se de uma área na qual temos uma experiência acumulada na Europa e cujo potencial de crescimento é enorme por aqui”, conta. Segundo ele, o sucesso da filial brasileira se deve a um modelo de gestão integrada.
É que, além de renegociar o valor da tarifa paga pelo cliente à concessionária, os técnicos da empresa francesa também atuam no combate ao desperdício. A economia é medida na ponta do lápis e serve como base para a sua remuneração. Ou seja: quanto menos o cliente gastar, mais a Dalkia embolsa. É por isso que em muitos casos ela até doa novos equipamentos para o cliente. Em troca, os contratos têm duração média de cinco anos e podem representar um ganho anual de R$ 30 mil.
Outra aposta do presidente da Dalkia Brasil é na área de manutenção predial. Essa vertente começou timidamente em 2006. Na época, o objetivo era prestar serviço também para as lojas situadas dentro dos shopping centers atendidos pela companhia. “Foi a forma encontrada para uniformizar o padrão do serviço oferecido ao empreendimento, evitando eventuais problemas causados por erros cometidos por técnicos de fora”, explica Péneau.
Com uma força de trabalho composta por 4.670 técnicos e engenheiros, a segunda maior depois da equipe francesa, nada mais natural, segundo ele, que potencializar essa mão de obra. Nesta área, Péneau terá de enfrentar uma disputa com outras potências europeias, como a alemã Siemens e a suíço-sueca ABB.
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Uma parada que, para o executivo francês, a Dalkia tem plena condição de encarar.
Fonte: Estadão
