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A sorte que tivemos foi termos imaginado uma solução de “fatiar” o terreno em vários planos com a linha de base paralela à avenida mais baixa e de colocar os diversos planos em níveis descendentes até atingir aquela avenida. E, nas ruas laterais, procurar fazer com que esses planos estivessem o mais próximo possível dos níveis das laterais das ruas adjacentes. Naturalmente nos pontos críticos escolhemos uma das ruas para acesso e abandonamos a outra rua, uma vez que a diferença de níveis obrigava a fechar o muro da divisa no local mais prejudicado.
Procuramos, a seguir, fazer com que as distâncias de piso a piso (4,50 m) fossem sempre as mesmas, de modo a facilitar a colocação de escadas centrais e de segurança e, principalmente, tratando-se de vários blocos e numerosos elementos e requisitos de projeto, que o nível superior da laje que cobrisse um andar fosse sempre um nível inferior da laje adjacente do outro bloco ou setor. Conseguimos, com isso, dar continuidade aos diversos planos tornando fluida a caminhada pela unidade.
Em termos de plantas e localização, a área do bloco principal (convivência) foi totalmente afastada do bloco de esportes (ginásio e academia) criando-se assim entre dois blocos um grande espaço aberto onde foram localizadas as piscinas. Como evidentemente a área de piscinas não pode ser utilizada como passagem entre os dois blocos, foi criada uma passarela estaiada que une dois níveis do conjunto, funcionando a superior também como cobertura da inferior, possibilitando sempre passar do bloco da convivência ao bloco do ginásio em área protegida das intempéries climáticas da região.
O resultado formal com passarela de dois níveis teve tanto sucesso, que passou a marcar o edifício do Sesc, servindo como referência para quem procura esse conjunto na cidade: “O senhor pega a avenida e logo que vir uma passarela … é lá”. A linha da passarela cruza todo o conjunto desde o acesso ao ginásio de esportes, passando sobre as piscinas e playground, atravessando o vazio do hall central coberto por pirâmides envidraçadas, acessando os elevadores e terminando com o detalhe de uma varanda para eventuais fumantes.
É interessante notar a área do teatro que pode ser utilizada independentemente do funcionamento da unidade, e cuja cobertura inclinada permitiu-nos projetar um anfiteatro ao ar livre. Convém lembrar, ainda, a área de estacionamento projetada com duas entradas e em dois níveis, ligados por rampas internas e que pode ser utilizado somente em parte, se desejado, fechando-se o nível colocado sob o ginásio.
Os acabamentos do edifício mantêm bastante homogeneidade, utilizando-se placas de cerâmica cor tijolo nas fachadas e principais paredes e cerâmica natural Brennand nos pisos, procurando lembrar os conjuntos culturais projetados por Alvar Aalto.
O edifício foi concluído, conforme o conhecido padrão “Sesc/Fifa” de qualidade, elevado ao nível máximo de detalhes incluindo decoração interna, bem como obras de arte de Chico Niedzielski e Francisco Brennand que inclusive inaugurou o prédio com uma exposição de suas obras.
*Texto do arquiteto Sérgio Teperman explica como ele elaborou o projeto considerando o terreno caracterizado por desníveis acentuados
Fonte: Revista O Empreiteiro