John Auton*
De Londres à África do Sul,
a experiência em sediar os maiores encontros do esporte mundial
revela que as oportunidades são muitas, especialmente às empresas e
aos setores que souberem se organizar em tempo de concretizá-las
Sediar grandes eventos esportivos, como os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos e a Copa do Mundo FIFA, está se tornando cada vez mais propício para estimular o desenvolvimento econômico, urbano e social das cidades-sede envolvidas, elevando sua importância no contexto mundial. Mais do que isso, os grandes eventos têm representado uma oportunidade ímpar de negócios para a iniciativa privada e, sobretudo, um mecanismo poderoso de incremento da expansão de muitos setores, especialmente, daqueles ligados à infraestrutura.
Essa realidade não está circunscrita à dinâmica de cidades de países emergentes. Um exemplo emblemático desse alcance dos grandes eventos esportivos é a cidade de Londres, que tem sido assessorada pela Deloitte desde sua candidatura a se tornar sede dos Jogos Olímpicos de 2012.
A realização dos Jogos Olímpicos de Londres será um dos projetos mais complexos já realizados no Reino Unido, um país já habituado a liderar projetos grandiosos ao longo de toda a sua história. Serão 9 milhões de ingressos distribuídos para assistir a quase 15 mil atletas – 10.500 profissionais dos Jogos Olímpicos e 4.200 dos Paraolímpicos – que competirão em 34 locais diferentes, com a cobertura de 20 mil representantes da mídia.
Desde a escolha para sediar os Jogos Olímpicos de 2012, Londres tem se destacado por estabelecer a palavra "legado" como princípio fundamental da organização do evento. O intuito é que os benefícios tangíveis e intangíveis gerados pela Olimpíada não termine ao final das festividades, mas que proporcione uma revitalização da economia britânica e que deixe benefícios de longo prazo para o País. Essa é uma oportunidade única para resolver desafios chave da cidade, que ainda conta – por surpreendente que possa parecer – com problemas sociais e de infraestrutura.
O Comitê Organizador dos jogos Olímpicos de Londres (LOCOG) está preocupado em oferecer um evento sustentável e memorável aos seus participantes, minimizando os aspectos ambientais e maximizando o legado social do evento. Esta é a primeira vez que um evento desse porte e magnitude tem seu planejamento totalmente balizado pelos princípios da sustentabilidade.
O projeto olímpico londrino está todo baseado na revitalização do bairro de Stratford, na zona leste da cidade, uma das áreas com um nível de desenvolvimento mais baixo daquele visto no restante da Grã Bretanha, com índices de criminalidade relativamente altos, taxas de desemprego elevadas e uma expectativa de vida sete anos mais baixa do que a média nacional. É justamente nesta área que o Parque Olímpico está sendo instalado.
O primeiro grande desafio urbanístico da região é o transporte público. Para viabilizar o acesso ao Parque, Stratford está sendo conectada às principais redes de metrô e de ônibus da cidade: serão 14 quilômetros de novas ruas e 35 quilômetros de ciclovias.
A ausência de espaços públicos de lazer também foi identificada como outro problema da região. Em virtude disso, uma área de 1.000 metros quadrados do Parque Olímpico será convertida em um enorme parque para o público depois dos Jogos – mais um legado para o bairro. Lá também serão construídas 10 mil novas casas, 35% delas, a preços populares, além de cinco escolas e três centros médicos.
Outras prioridades também foram estabelecidas, como a melhoria do sistema de transportes, do fornecimento de água e da qualidade dos serviços de saúde e educação.
Os sistemas de transporte e de manutenção das redes de água, esgoto e energia elétrica que serão instalados para o evento continuarão gerando vagas de trabalho. Estima-se que haja uma expansão da economia local e que essa possa gerar até a 10 mil novos empregos em diversos setores, em especial, no comércio e em serviços.
Ao estimular a reurbanização e reestruturação de determinadas áreas urbanas, esse tipo de evento gera mais desenvolvimento econômico para seus países-sede. Foi assim com a Alemanha, na Copa do Mundo de 2006, e com a China, em 2008, na Olimpíada de Pequim.
Na Alemanha, a Copa do Mundo de 2006 incrementou principalmente o turismo local, quando mudou a percepção dos estrangeiros sobre a fama de ser um país de povo frio e pouco hospitaleiro. A Olimpíada de Verão de Pequim, na China, fez com que o mundo passasse a olhar aquele país como uma superpotência econômica. Com a Copa do Mundo deste ano, a África do Sul teve uma oportunidade de aparecer ao mundo como uma nação esportiva, aprimorar a sua imagem junto à comunidade política internacional e fortalecer seu posicionamento como uma das economias emergentes mundiais.
A Copa do Mundo de 2010 atuou como um catalisador para metas de longo prazo focadas no desenvolvimento da infraestrutura da África do Sul. A necessidade de deslocar milhares de torcedores, equipes e pessoal de apoio de um lugar para outro nos dias de jogos fez com que se investisse no fortalecimento do sistema de transporte público, que não tinha uma forte rede. O país acaba de completar a primeira parte da rede ferroviária de alta velocidade, reformou e ampliou diversas rodovias e implantou um número considerável de linhas de ônibus. Além disso, construiu e expandiu aeroportos, criou novos estádios e realizou outras melhorias em infraestrutura urbana.
As políticas bem planejadas para contratar novos trabalhadores que pudessem cooperar nas obras de infraestrutura proveram treinamento para profissionais anteriormente desempregados, o que aumentou as oportunidades de emprego para essas pessoas e deverá ter um impacto duradouro e positivo sobre os recursos humanos do país.
As experiências de Londres, da África do Sul e de tantos outros países e cidades que conquistaram a oportunidade de sediar um megaevento esportivo sinalizam ao Brasil grandes perspectivas para 2014 e 2016. Da mesma forma, elas enfatizam a importância de se planejar adequadamente as ações a serem implementadas, bem como de articular empresas, entidades corporativas, governo e todos os agentes do mercado e da sociedade em torno do sucesso desses grandes eventos.
O sucesso da organização de uma Copa do Mundo ou uma Olimpíada no Brasil trará vitórias a todos os brasileiros. Os setores mais bem-sucedidos serão aqueles que melhor se organizarem para a concretização das oportunidades que hoje se apresentam.
* John Auton é sócio da Deloitte responsável por projetos relacionados à Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro. A Deloitte é referência mundial na consultoria a grandes eventos esportivos e j&aacu
te; trabalhou em mais de 40 projetos do gênero. Atualmente, está conduzindo o processo de estruturação organizacional do Comitê Rio 2016 e trabalhando em projetos dos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres. Atuou também em cidades-sede da Copa do Mundo FIFA de 2010, na África do Sul.
Fonte: Estadão