O próximo desafio é a Serra das Araras

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Com uma década de concessão completada em março, a NovaDutra conseguiu melhorar a vida dos usuários da rodovia que liga as duas regiões metropolitanas mais importantes do País, responsáveis por cerca de 50% do PIB brasileiro. Nesse período, a estrada de 402 km que estava com o pavimento deteriorado e sem sinalização recebeu investimentos de aproximadamente R$ 5 bilhões e se transformou em uma rodovia moderna. Hoje, segundo a pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), ocupa a 15a posição entre as melhores ligações rodoviárias do País (ver quadro), com classificação geral na categoria “ótimo”. A posição no ranking, segundo Maurício Soares Negrão, diretor-presidente da NovaDutra, deveria ser melhor, mas a CNT incluiu na avaliação um trecho de 4 km da Avenida Brasil, que recebeu péssimas notas nos quesitos “estado geral”, “pavimento”e “sinalização”, prejudicando a média final da concessionária. Mas em dezembro a NovaDutra foi eleita pela Associação Nacional do Transporte de Carga & Logística (NTC) como a Melhor Operadora de Rodovia do Brasil em 2006. A concessionária recebeu a mesma distinção em 2003 e 2005. “O Prêmio NTC Fornecedores do Transporte é concedido por nossos maiores usuários comerciais, os transportadores de carga. Sua importância é muito grande porque representa o aval de nossos usuários ao trabalho que vem sendo realizado pela NovaDutra e por seus acionistas”, afirma. “Das 23 melhores rodovias do País, 20 são concedidas. Esse é o resultado do sucesso do programa de concessões rodoviárias”, afirma Negrão. Mas ele prefere citar outro número como referência do bom desempenho da concessionária: a redução da quantidade de mortos em acidentes de trânsito na rodovia Presidente Dutra, que passou de 520 por ano, antes da concessão, para cerca de 250. “Este é um resultado altamente significativo. O número total de acidentes também caiu”, comenta, destacando ainda a redução do custo de transporte graças às melhorias no pavimento e a desoneração de investimentos públicos na rodovia. Mas Negrão destaca que o patamar atual, de 250 mortes anuais, ainda é muito elevado. “O Boeing que caiu matando 154 pessoas gerou comoção nacional”, compara. Para diminuir o número de mortes provocadas por acidentes na Dutra é preciso reduzir a velocidade média dos veículos, com a instalação de mais radares na rodovia, serviço que não faz parte da concessão. Em 2007, a concessionária investirá aproximadamente R$ 146 milhões na rodovia, destinados à recuperação de pavimento e ao reforço e alargamento de pontes e viadutos, necessários devido ao tempo de uso da estrada: o primeiro traçado da rodovia é de 1951. Entre 1965 e 1967 a rodovia foi duplicada, mas as pontes e viadutos não ganharam acostamento, comprometendo a segurança dos usuários. “Até 2015 o trabalho de alargamento será finalizado”, diz Negrão. “A Dutra é a rodovia mais importante do País e é um constante desafio”, afirma. No trecho entre São José dos Campos e Jacareí, por exemplo, a rodovia virou praticamente uma avenida, por conta do desenvolvimento das cidades ao longo da estrada. O mesmo ocorre nas imediações de São Paulo e do Rio de Janeiro, levando a concessionária a construir marginais capazes de segregar o trânsito local e o de longa distância. “Ainda precisamos de 30 a 34 km de marginais”, comenta o diretor-presidente. Manter o pavimento da rodovia em bom estado também não tem sido fácil por conta do excesso de peso dos veículos. Dos cerca de R$ 146 milhões que serão investidos em 2007, R$ 53 milhões serão aplicados em serviços no pavimento, cuja durabilidade na prática não chega aos oito anos previstos no projeto. Esse desgaste prematuro levou a concessionária a solicitar junto à ANTT uma reposição financeira. Estudos técnicos desenvolvidos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul indicam que a deterioração do pavimento reduz em até 40% a sua vida útil, obrigando a concessionária intervir antes do previsto para evitar a degradação. Mas a grande obra da concessionária será a construção de uma nova pista na Serra das Araras. Atualmente os veículos vencem a serra por duas pistas. A ascendente, construída em 1967 quando a Dutra foi duplicada, e a descendente, de 1928, que tem traçado totalmente obsoleto. “Milagrosamente, a pista está em operação até hoje, embora as carretas de nove eixos que circulam por ela sejam bem diferentes de um caminhão de 1928”, comenta. A capacidade de tráfego na pista de descida é limitada, devido a existência de rampas com grandes diferenças de níveis em pequenas extensões, não compatíveis com os veículos atuais. “É um ponto crítico de acidentes, que embora não sejam graves acabam interrompendo o tráfego na pista”, comenta Negrão. Quando concedeu essa entrevista à revista O Empreiteiro, a pista descendente estava interditada justamente por um desses acidentes e a pista ascendente operava em mão dupla, reduzindo muito a capacidade de tráfego na serra. Existem duas propostas de traçados (ver matéria nessa edição) para a nova pista na Serra das Araras, apresentados para a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que deverá fazer a escolha. Os estudos de traçado básico foram desenvolvidos pela Engelog, empresa responsável pela área de engenharia de todas as rodovias da holding CCR, que é formada pela NovaDutra, Autoban, Viaoeste, Via Lagos, Ponte e Rodonorte. Pedagiamento injusto Além de investir em obras, a concessionária precisa se manter atualizada na parte operacional. Para Negrão, o sistema de pedagiamento atual é injusto, porque poucas pessoas pagam para trafegar na rodovia. Embora sejam realizadas diariamente cerca de 793 mil viagens na rodovia, apenas cerca de 74 mil pagam pedágio, devido à localização das praças, construídas justamente nos pontos onde o tráfego é menor. Os trechos que concentram maior volume de tráfego são os que ficam próximos ao Rio de Janeiro, São Paulo e na região de São José dos Campos, mas não existem praças de pedágio nesses locais. “Esses são os pontos onde mais investimos na rodovia e que também geram maior número de guinchamentos e socorro mecânico. Já existe um sistema de pedagiamento em que não é necessário ter uma cabine de pedágio. Existem pórticos ao longo da rodovia, etiquetas eletrônicas nos veículos e o valor do pedágio é cobrado diretamente do usuário. Na Europa esse sistema já funciona, mas essa cultura não existe no Brasil. Recentemente participei de uma palestra e soube que 30 % dos veículos que rodam em São Paulo estão com o IPVA atr

asado. Se não pagam nem IPVA…”, comenta Negrão. Para o diretor-presidente da NovaDutra, concessão de rodovia é um negócio de grande risco, por envolver variáveis que não são controladas pela concessionária. Além do excesso de peso dos veículos, que compromete a vida útil do pavimento, o tráfego total da rodovia também está cerca de 15 % abaixo do previsto na época da concessão. “Mas apesar disso, a CCR tem tido sucesso”, conclui Negrão.
Fonte: Estadão


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