Os desembolsos e o papel de indutor do CRESCIMENTO

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O banco, que em 2012 desembolsou R$ 24,5 bilhões para a infraestrutura, aumenta o patamar da disponibilidade para 2013 e mantém a tradição de continuar a ser, ao longo de 60 anos, a principal fonte oficial de financiamento

Nildo Carlos Oliveira – Rio de Janeiro (RJ)

A tradição vem de longe. Basicamente, desde que foi fundado em 1952, época em que ainda não possuía o S que lhe acresceu a responsabilidade de Social (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Em seus primórdios investia prioritariamente em infraestrutura. Tanto é que um de seus primeiros financiamentos, ainda no começo da década de 1950, foi direcionado para as obras de expansão e melhoria geral da Estrada de Ferro Central do Brasil.

O S lhe foi agregado apenas nos anos 1980, embora o enfoque social continuasse a ser uma de suas diretrizes, ao lado da prática do que sua diretoria chama de “planejamento estratégico” – um cacoete que lhe ficou por conta da vocação para o estudo, análise e formulação de políticas, herdada, talvez, dos tempos do Plano de Metas do governo Juscelino Kubitschek.

O engenheiro Roberto Zurli Machado, diretor da Área de Infraestrutura do BNDES, diz, para esta edição da revistaO Empreiteiro, quais são as responsabilidades da instituição nesse campo, no empenho para procurar equacionar dificuldades de engenharia financeira. Ele acredita que o banco tem papel imprescindível no trabalho para que segmentos da maior importância para o funcionamento e evolução do crescimento do País possam eliminar gargalos e avançar em seus projetos e obras.

Zurli Machado, que em 1979 obteve o título em Engenharia de Produção pela PUC/RJ, é funcionário de carreira da instituição. Ele informa que as operações para atendimento da infraestrutura estão em duas áreas: a que está sob a sua responsabilidade, chamada de Infraestrutura Econômica e que engloba os segmentos de logística (portos, rodovias, ferrovias, hidrovias, aeroportos, energia hidráulica e energia alternativa, incluindo a eólica) e a área de Infraestrutura Social, que cuida de saneamento e mobilidade urbana, englobando estudos e análises de projetos para financiamento de obras de metrôs, BRTs, VLT e transportes urbanos em geral. A seguir, a entrevista.

Roberto Zurli Machado, diretor da Área de Infraestrutura do BNDES

A infraestrutura, pelo que se deduz, continua a ser a raiz das atividades do BNDES?

Uma das raízes. É inegável, no entanto, a importância do banco nessa área. Haja vista que ela representa cerca de 40% do volume de nossos desembolsos. E, embora financiemos projetos nos diversos segmentos da infraestrutura, consideramos que temos contribuído significativamente com o sistema elétrico. O modelo adotado, ali por volta de 2005 ou 2006, nos levou a viabilizar uma série de projetos nesse campo, em razão dos contratos de compra e venda de energia de longo prazo. Isso acabou se refletindo em nossos desembolsos. Mas ajudamos, de certa forma, a equacionar o modelo, que teve os seus obstáculos, mas seguiu em frente.

"Tivemos importante
participação na equação
do modelo do setor elétrico"

Qual foi o volume de recursos destinados ao segmento de energia?

Vamos fazer uma distinção. Foi a partir de 2008, em especial, que grandes projetos de energia hidráulica passaram a ter grande impacto em nossos financiamentos. De modo que chegamos a 2012 com um desembolso da ordem de R$ 7,4 bilhões. Estou falando de energia hidráulica. Mas houve recursos ponderáveis para o que tem sido chamado de energia limpa. Claro que as nossas preocupações transcendem os aspectos formais dos projetos, pois temos em vista o encadeamento dos projetos financiados com a cadeia produtiva da indústria instalada nos locais em que eles são realizados.

E, dentre as energias alternativas…

Temos o caso da energia eólica. O Brasil não dispunha de indústrias para produção de geradores de turbinas. Com o surgimento dos parques eólicos, que hoje estão se dinamizando – eles estão no Rio Grande do Sul e em diversos estados do Nordeste -, alguns dos principaisplayersdesse segmento vieram se instalar no Brasil. E foi aparecendo a indústria local de aerogeradores, campo em que o banco tem registrado um desembolso crescente. Ao longo do ano passado (2012) os desembolsos foram da ordem de R$ 5,2 bilhões para o avanço dos empreendimentos nos segmentos da energia alternativa. Mas a maior fatia coube aos empreendimentos no campo da energia eólica.

Para linhas de transmissão, o que vem sendo feito?

Com a construção das grandes hidrelétricas no Norte do País, de que são exemplos Jirau e Santo Antonio, os investimentos em transmissão constituem outra prioridade. Aumentamos o investimento casado – aquele que compreende financiar simultaneamente geração e transmissão. Lastimavelmente – e a revistaOEsabe disso – alguns parques eólicos ficaram prontos antes da transmissão. Mas, especificamente para transmissão, os nossos desembolsos somaram, em 2012, R$ 3 bilhões.

"Lastimavelmente, em alguns casos,

obras de transmissão

têm registrado atrasos

em relação às obras de geração"

Os desembolsos do BNDES para os empreendimentos de energia alternativa foram de R$ 5,2 bilhões

A logística tem sido a prioridade por conta dos gargalos que têm comprometido o crescimento brasileiro. O que o BNDES tem feito em favor dos projetos logísticos?

A logística abrange segmentos que registram carência muito grande. Isso tem prejudicado a competitividade da indústria, do agronegócio e de outras atividades. O que é produzido tem de ser transportado. Claro que temos a maior disposição para atender aos programas de logística do governo. Mas a base para o financiamento, nesse campo, não é apenas o BNDES. Há outros bancos, sobretudo públicos, e há outros mecanismos. Mas, antes mesmo do advento das concessões, nós já vínhamos aumentando o desembolso para logística, em especial o segmento ferroviário. Par
a ferrovias desembolsamos R$ 2,1 bilhões ao longo do ano passado, enquanto para portos e terminais os desembolsos, no mesmo período, chegaram a R$ 3 bilhões. Em linhas gerais, os nossos desembolsos, especificamente para energia e logística, somaram R$ 24,5 bilhões. Desse volume de recursos, 30% foram para logística e 70% para energia.

E, para outros segmentos?

Quero voltar a lembrar que saneamento e mobilidade urbana são atendidos pela área da Infraestrutura Social. Esta área destinou para saneamento – sempre falando em 2012 – R$ 1,612 bilhão e, para mobilidade urbana, R$ 1,666 bilhão. Para esses segmentos, há programas de atendimento de financiamento em outras instâncias. Por exemplo: a Caixa Econômica Federal tem desembolsos expressivos para saneamento e para outros programas do governo federal.

Quanto à mobilidade urbana, temos realizado desembolsos para metrô, BRTs e VLT, do Rio de Janeiro, da mesma forma como temos feito desembolsos para o metrô e o monotrilho de São Paulo. Aliás, somos tradicional financiador do metrô paulistano, para o qual destinamos recentemente R$ 2,3 bilhões, que estão sendo aplicados na expansão do metrô e na construção do monotrilho.

Quais os desembolsos já realizados até este final de semestre, em 2013?

Estamos com uma estimativa, atualizada até hoje (27 de junho, dia da entrevista), de que até o final de 2013 os nossos desembolsos, para infraestrutura, chegarão a R$ 30,9 bilhões, sempre considerando os segmentos referidos. Desse total, até essa data, desembolsamos R$ 10,6 bilhões. São recursos para projetos que já se encontram em execução.

"Quando financiamos projetos
estamos incentivando, embora indiretamente, o desenvolvimento
de nossa engenharia"

E como o BNDES encara a sua participação na infraestrutura, em relação ao desenvolvimento da engenharia?

Quando o banco financia obras de infraestrutura, não está financiando diretamente empresas de engenharia, mas o Estado que tem a responsabilidade, no longo prazo, pelo desenvolvimento dos serviços. Mas obviamente estaremos estimulando o desenvolvimento de projetos e obras, o que vai significar incentivo também aos aperfeiçoamentos da engenharia e à qualidade que ela vai colocar nos empreendimentos que estarão executando. O mesmo raciocínio se aplica às obras de engenharia que as grandes empresas dessa área executam em outros países, na América Latina ou na África. Grande parte desses projetos internacionais tem financiamento para exportação de serviços, preferencialmente a exportação de bens e capital associados. O banco financia esses serviços, mas não os gastos locais das obras. É importante que seja dado esse esclarecimento.

(Nota da redação:Tem sido historicamente significativo o desembolso do BNDES para projetos no segmento de Petróleo & Gás. Os desembolsos nesse campo poderão totalizar, ao longo de 2013, um volume da ordem de R$ 10 bilhões.)

Fonte: Revista O Empreiteiro


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