Foram necessários apenas seis dias – nem mais nem menos – para que o engenheiro Paulo de Frontin ingressasse na história da engenharia brasileira e na história do País.
O episódio, embora conhecido, vez ou outra entra por um ouvido, sai pelo outro e cai no esquecimento, a fim de ressurgir novamente quando é lembrado por curiosos ou estudiosos; alguns por conta da memória do desastre do elevado Engenheiro Freyssinet, popularizado como Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro, que liga o Túnel Rebouças à Linha Vermelha; pela cidade Paulo de Frontin, na divisa Rio-Minas ou pela projeção política alcançada, mais tarde, pelo engenheiro.
De qualquer modo, o episódio traz duas lições: 1. A política, a boa política, tem que convocar os homens certos para os lugares certos, se não quiser seguir uma direção ruinosa e 2. Nem sempre são necessários muitos feitos, na vida de uma personalidade, para torná-la beneficiária do reconhecimento local ou internacional. Às vezes basta um. Veja-se o exemplo de Vasco Nuñes Balboa, o aventureiro espanhol que estava com o pescoço a prêmio. Ele escapou do cutelo e virou herói para todos os tempos, com a descoberta do Pacífico.
O caso Paulo de Frontin foi diferente e tem outra escala, conquanto seja ilustrativo dessas duas lições. Nascido em setembro de 1860 em Petrópolis e falecido no Rio de Janeiro em fevereiro de 1933, ele foi prefeito do Distrito Federal (RJ), deputado, senador, mas, sobretudo, engenheiro. E o seu nome ganhou a maior notoriedade a partir de 1889, ao difundir a idéia de que em apenas seis dias poderia resolver a crônica falta d´água na cidade carioca.
Falta d´água, no Rio, já não era novidade desde os primeiros dias do Brasil Colônia. O problema agravou-se com o processo de urbanização. Naqueles anos do Império, quando mais se discutia nas ruas, nos cafés, nas repartições públicas e nos jornais o problema, até então julgado sem solução a curto e a médio prazo, Paulo de Frontin, então professor da Escola Politécnica, publicou carta no Diário de Notícias, com pseudônimo, dizendo que poderia resolver a questão em seis dias e sem grandes gastos de dinheiro público. Bastaria que lhe pagassem 80 contos.
Não houve quem não achasse um engodo, ou um rompante até ridículo de alguém que pretendia aproveitar a situação de desespero popular, para aparecer. Mas, conforme dizem os informes da época, Dom Pedro II coçou as longas barbas brancas e considerou que possivelmente o autor da carta não estivesse blefando. Chamou-o ao Palácio e perguntou se ele estava disposto a cumprir o que escrevera. Paulo de Frontin disse que se lhe fossem entregues dois trens da Estrada de Ferro Rio D´Ouro, um contingente de 5 mil trabalhadores e um volume duplicado ou triplicado de enxadas e machados, mais a possibilidade de poder usar à vontade o telégrafo para se comunicar com as autoridades, cumpriria a promessa. Seis dias depois havia conseguido captar as águas dos rios Tinguá, Água Fria e de outros afluentes, na Serra do Mar, situados a mais de 100 km da cidade, aumentando, assim, em 12 milhões de litros, o suprimento de água do Rio de Janeiro.
A partir desse feito, o engenheiro ocupou diversos cargos públicos e foi presidente do Clube de Engenharia durante muito tempo. Mas foram aqueles seis dias que o consagraram junto à população. O homem certo, no lugar certo, conforme a política que vários anos depois seria adotada, com rigor, pela administração Juscelino Kubistchek.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira