É quase uma unanimidade nacional. Se fosse feita uma enquete com as principais forças produtivas do País questionando qual o maior gargalo para o desenvolvimento econômico, certamente a resposta seria as estradas brasileiras. Consideradas a pedra no sapato das empresas brasileiras, as rodovias brasileiras, pelas situação em que se encontram, são hoje fator de elevação dos custos dos produtos nacionais no mercado interno e perda de competitividade no mercado internacional. A insatisfação é generalizada, mas, as micros e pequenas empresas são as que mais sofrem com os problemas de infra-estrutura rodoviária. Pesquisa recente realizada pela Confederação Nacional da Industria (CNI) constatou que 75% das empresas entrevistadas se declararam pouco satisfeitas ou insatisfeitas com as rodovias no País, sobretudo na Região Centro-Oeste.
A situação assume uma gravidade ainda maior se for levado em conta que nada menos que 60% de toda a riqueza nacional é movimentada hoje pelas estradas. São cerca de 164.900 km de rodovias pavimentadas, sendo aproximadamente 57.000 km de rodovias federais e o restante de rodovias estaduais, em sua maioria em situação de precariedade, a exigir reparos e modernização em caréter de urgência, sob o risco do País viver um apagão logístico.
A reversão do cenário desfavorável, que se consolidou a partir de 1988, com a extinção do Fundo Rodoviário Nacional, exige recursos maciços, a serem disponibilizados com regularidade. De imediato, para que o sistema rodoviário atinja padrões satisfatórios de segurança e de desempenho, estima-se um volume de investimento da ordem de R$ 23,6 bilhões e, para a correta manutenção da malha, investimentos de R$ 1,34 bilhão por ano, valores superiores aos historicamente aplicados.
A pesquisa anualmente realizada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), em sua edição 2007, mostrou exatamente qual é o tamanho do buraco. Foram avaliados 87.592 km de rodovias em todo país, abrangendo toda a malha rodoviária federal pavimentada e também os principais trechos sob gestão estadual e sob concessão. O resultado é alarmante: cerca de 54% da malha rodoviária pesquisada encontram-se em situação regular, ruim ou péssimo, totalizando 47.777 km.
Somente 26,1% (22.893 km) foram avaliadas positivamente, contra 73,9% (64.699 km) apresentando algum tipo de deficiência. Ou seja, da malha pesquisada em 2007, 10,5% (9.211 km) obtiveram classificação Ótimo; 15,6% (13.682 km) Bom; 40,8% (35.710 km) Regular; 22,1% (19.397 km) Ruim e 11,0% (9.592 km) Péssimo.
Quinze equipes percorreram, durante 40 dias, as estradas brasileiras analisando o estado geral de conservação, levando em consideração as condições do pavimento, sinalização e geometria da via. Também é realizado um levantamento das infra-estruturas de apoio, como a avaliação de borracharias, praças de pedágio, balanças, postos da Polícia Rodoviária, entre outros elementos.
Na região Norte foram pesquisados 9.015 km, no Nordeste 24.785 km, no Centro-Oeste 13.257 km, no Sudeste 25.066 km e no Sul foram avaliados 15.469 km. No Norte e Nordeste do País foram constatados os pontos mais críticos.
Entre a propaganda política e a realidade
A análise do resultados da Pesquisa Rodoviária CNT 2007 indica um quadro geral deficiente e muito preocupante. Isto porque se percebe que modificações qualitativas favoráveis em grande escala nas condições rodoviárias demandarão um período de tempo mais longo para serem implementadas e poderem gerar benefícios ao país e à eficiência do setor.
Para o presidente da CNT, Clésio Andrade, a situação das estradas brasileiras evidencia a distância entre a imagem de prosperidade que o governo busca passar e a realidade. “Vivemos décadas com crescimento pífio, com rodovias esburacadas, sistema ferroviário abandonado e sem projetos para portos e hidrovias. Sem falar do caos aéreo. E agora, com crescimento econômico sustentado, como costuma afirmar o governo, com intensa produção agropecuária e industrial, nossa infra-estrutura de transporte continua aquém de nossas expectativas e necessidades.
Este quadro mostra a gritante realidade de que não há PAC para o transporte e a infra-estrutura. E uma prova disto é que os investimentos para o setor não cresceram nos últimos anos na mesma proporção que se verificou noutras áreas”, afirma o dirigente.
Clésio Andrade lembra que em meio às rubricas orçamentárias, que incluem projeções de gastos até o ano de 2010, chamam a atenção os parcos investimentos efetivamente feitos em infra-estrutura de transporte em 2007, números que não diferem muito do que se investiu nos anos anteriores, quando o País viveu crescimento muito pequeno.
“Pouco pode ser feito com os recursos que os governos têm alocados em seus orçamentos nos últimos anos, montantes suficientes apenas para as intermináveis e constantes operações tapa-buracos. Isso se os valores fossem transferidos integralmente – a média histórica dos últimos cinco anos indica que apenas 47,8% do orçamento do transporte são aplicados pelo governo. Os mais recentes estudos e pesquisas da CNT revelam a necessidade de investimentos de não menos que R$ 223,8 bilhões, que, aplicados de forma planejada nos próximos anos, poderão dar ao País a infra-estrutura de transporte adequada para assegurar seu crescimento econômico continuado”, conclui o presidente da CNT.
Fonte: Estadão