Pioneira em parceirias com Capital Privado

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Com 54 usinas em operação produzindo energia para atender a mais de 17 milhões de pessoas em 774 municípios de Minas Gerais, a Cemig, embora com fundamentos naquele Estado, é uma empresa nacional, pronta para fincar raízes também no exterior. Não fosse a inércia do governo federal, possivelmente ela estaria mantendo uma tradição de construção de grandes obras, não se limitando a desenvolver, em regime de consórcio, o projeto da hidrelétrica de Baguari e a implantação de uma linha de transmissão no Chile, além de realizar a repontencialização de PCHs e cuidar de outros serviços importantes, conquanto de menor porte.

Dentre as empresas de energia elétrica estaduais, criadas em meados do século passado para atender ao surto desenvolvimentista de então, a Centrais Elétricas de Minas Gerais é aquela que prosperou com um modelo apontado como diferente das demais. Por exemplo: jamais hesitou, na época, em contratar projetistas e construtores estrangeiros para realizar suas obras, da mesma forma como atualmente não hesita em estabelecer, pioneiramente, parcerias com a iniciativa privada, a fim de não perder o bonde da história, na história energética brasileira. Contudo, sempre acercou-se dos cuidados necessários a fim de que seus quadros técnicos implementassem a transferência tecnológica aplicada nas obras de sua responsabilidade.

O engenheiro Milton Vargas, um dos fundadores da Themag Engenharia, lembra, em estudo sobre hidrelétricas brasileiras que, quando o governador Juscelino Kubitschek enviou, em 1952, à Assembléia Legislativa, a mensagem definindo a política energética estadual, Minas já havia construído pequenas usinas, ao lado de três de média capacidade: Gafanhoto, 18.300 cv; Pai Joaquim, 5.000 cv e Santa Marta, 2.600 cv.

A Cemig teve como primeiro presidente o engenheiro Lucas Lopes, cuja tarefa inicial priorizava a construção da barragem de Cajuru, a montante da usina de Gafanhoto, cujas obras possibilitaram ta implantação da cidade industrial de Contagem. Posteriormente, a empresa resolveu erger a usina de Salto Grande, no rio Santo Antônio, a partir de estudos realizados pela Companhia de Eletricidade do Alto Rio Doce. Essa obra foi construída pela então Christiani – Nielsen, com projeto próprio, conquanto revisto pelos quadros técnicos da estatal.

Em seguida, a empresa não pararia mais de fazer obras: a usina de Itutinga (1952-1959) e de Camargos (1954-1958), conforme projetos elaborados pela International Engineerng Co, de São Francisco, Califórnia, e construção a cargo da Morrison – Knudsen, também norte-americana; Barragem Três Marias, apontada como a mais importante da história da construção hidrelétrica no País, cujos estudos haviam sido feitos pela Comissão do Vale do Rio Doce, com anteprojeto elaborado pela Servix Engenharia, em colaboração com a Hidrologia Comercial e a Geotécnica e cuja construção também esteve a cargo da Morrison – Knudsen, sob fiscalização da Geotécnica; a usina de Jaguara, no rio Grande, projeto da Geotécnica, Eletroprojetos e Eletrowatt, e construção a cargo da Mendes Júnior; e a usina de Volta Grande, no mesmo rio, com projeto do consórcio Tams – Engevix – Leme e construção também da Mendes.

Com o passar dos anos, outras obras foram sendo incorporadas ao currículo da empresa, a exemplo daquelas mais recentes, tais como as usinas de Irapé, Capim branco I e II e Aimorés. A sua área de concessão cobre atualmente 96,7% do território mineiro, correspondendo a 567.478 km².

Conforme lembra o professor Milton Vargas, com a experiência adquirida na construção de suas primeiras hidrelétricas, a Cemig passou a nacionalizar projetos e construções, recorrendo à assistência tecnológica da Geotécnica e à assessoria do professor Arthur Casagrande. Notáveis nomes da engenharia hidrelétrica começaram então a surgir no cenário técnico, nessa área. Dentre eles, o do engenheiro Flávio Lyra.

Com um perfil técnico e de gestão de negócios que não lembra mais a fase dos anos pioneiros, empresa se faz presente, por meio de empreendimentos de geração, comercialização de energia ou de distribuição, em dez estados brasileiros, entre os quais Santa Catarina, Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Rio Grande do Sul. Para fazer chegar energia elétrica aos consumidores, ela gerencia a maior rede distribuidora de energia da América Latina e uma das quatro maiores do mundo, com 367.437 km de extensão.

Nos últimos quatro anos, o valor de mercado de emprego subiu de R$ 4 bilhões para R$ 20 bilhões. Eleita, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) como a melhor concessionária da região Sudeste, ela ingressou, este ano, e pela oitava vez, no índice Dow Jones de Sustentabilidade. Só pouco mais de 300 empresas da área, em todo o mundo, fazem parte desse grupo considerado extremamente seleto.

Desverticalização

A diretoria da empresa informa que em dezembro de 2004 ela começou a passar por um processo de reestruturação. Deixou de ser uma empresa integrada, a partir do desmembramento em duas subsidiárias integrais: a Cemig Distribuição de Energia S. A. e a Cemig Geração e Transmissão S. A.
Como parte desse processo de mudança e da respectiva reestruturação societária, ela adquiriu a usina de Rosal (Rosal Energia S. A.), da Caiuá Serviços de Eletricidade S. A., situada na divisa do Rio de Janeiro com o Espírito Santo, e que representou o primeiro passo nos planos de implementação do crescimento da empresa fora dos limites de Minas Gerais.

Ainda como decorrência do mesmo processo, ela associou-se à Petrobras Gás S. A. (Gaspetro), a fim de expandir a rede de distribuição de gás natural em Minas Gerais, onde existe uma demanda reprimida.

Parcerias

Para tornar viáveis outros projetos e alterar a estrutura tradicional, inovando processos de funcionamento e controle, adequando-a segundo os modernos conceitos de gestão e operação, a empresa começou a estabelecer parcerias com a iniciativa privada. Nesse ponto, seus dirigentes afirmam que ela é pioneira. “Não há como desenvolver a economia do Estado – e do País – sem energia. E a saída, nesse sentido, foi a busca do apoio da iniciativa privada”, afirmam eles.

A usina de Igarapava, com potência instalada de 210 MW, é exemplar. Foi a primeira hidrelétrica brasileira construída segundo o modelo de parceria. Tendo a companhia Vale do Rio Doce como parceira, ela construiu tanto a usina de Igarapava quanto a usina de Aimorés (330 MW), Porto Estrela

(112 MW), que também teve a participação da Coteminas, e a do Funil (180 MW). Posteriormente, em parceria com a Companhia Energética de Brasília (CEB), construiu a hidrelétrica de Queimado (105 MW). O modelo de parceria se revelou de tal modo sustentável, que ela chegou a ter seis usinas simultaneamente em obras, além da termelétrica Barreiro. E as obras mais recentes seguiram o mesmo modelo: Irapé e Aimorés, no rio Jequetinhonha, em parceria com a Vale; e Capim Branco I (240 MW) e Capim Branco II (210 MW), no rio Araguari, entre os municípios de Indianápolis, Araguai e Uberlândia, no Triângulo Mineiro, em parceria com a Vale (48,42%), Cemig Capim Branco Energia (21,05%), Companhia Comercial e Agrícola Paineiras ( 17,89%) e Votorantim Metais Zinco (12,63%).

Usina Baguari

Dentre os empreendimentos atuais mais significativos da empresa estão a hidrelétrica Baguari, no rio Doce, e a linha de transmissão Charrua-Temuco, no Chile.

Baguari, nas proximidades dos municípios de Alpercata, Fernandes Tourinho, Sobrália, Governador Valadares e Perituito, terá reservatório com área inundada de 14,16 km². A barragem de terra terá seção mista em solo-enrocamento com altura de 25 m, extensão de aproximadamente 480 m, apoiada em rocha, fechando o canal do rio entre o muro direito do vertedouro e a ombreira na margem direita. A capacidade instalada será de 140 MW. Ela funcionará com quatro unidades bulbo de 35 MW de potência unitária. Com investimentos de R$ 454 milhões, a obra é realizada em consórcio com as empresas Neoenergia (51%), Cemig (34%) e Furnas (15%).

O consórcio construtor, formado pela Construtora Norberto Odebrecht, Voight Siemens e Engevix, começou a desenvolver os trabalhos, tão logo o Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) concedeu a licença de instalação, com base na aprovação do plano de controle ambiental da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam). A expectativa é de que o cronograma transcorra tranqüilo, a fim de a usina esteja com as suas quatro unidades geradoras em operação, até maio de 2010.

A Voith Siemens Hydro vai fornecer todos os equipamentos eletromecânicos. Estabelecido na modalidade Engineering, Procurement and Construction (EPC), o contrato deixa a cargo da Voith Siemens Hydro toda a fase de projeto e fabricação das unidades geradoras bulbo. Esse fornecimento é considerado inédito, na Voith, que terá como parceiras a Bardela (fornecimento dos equipamentos hidromecânicos e de levantamento) e a Areva (fornecimento dos transformadores e os sistemas eletrônicos).

“O projeto de Baguari”, revela Osvaldo San Martin, presidente da Voith Siemens, “é um dos mais importantes, nesse momento. E, para nós, constitui desafio gratificante e estaremos fornecendo uma tecnologia (turbinas bulbo), que seguramente deverá ser utilizada nos próximos empreendimentos hidrelétricos brasileiros”.

O engenheiro Fernando Chein Muniz, diretor de contrato da Odebrecht, diz que o desvio da primeira etapa da usina já se encontra em fase final de conclusão. Ele possibilitará a execução das obras do vertedouro, casa de força, diques e canais localizados na margem esquerda do rio. Na segunda etapa, prevista para o segundo semestre do ano que vem, o curso será desviado para o vertedouro, tendo em vista a execução da barragem de terra na área ensecada do leito do rio.
A construtora estima que será de aproximadamente 2 milhões de m³ o volume de material escavado, conforme cálculo elaborado a partir do exame do perfil rochoso local. O pico das obras está previsto para o período que vai de janeiro a junho de 2008, quando o volume de lançamento de concreto poderá alcançar 16.000 m³.

Charrua-Temuco

O presidente da Cemig, Djalma Bastos de Morais, e o diretor de Finanças, Participações e de Relações com Investidores, Luiz Fernando Rolla, buscam no Chile novas oportunidades de negócios nos segmentos de distribuição e geração de energia. No dia 21 de setembro último eles estiveram reunidos com a superintendente de Eletricidade e Combustíveis, Patrícia Chotzen, e manifestaram interesse em ampliar investimentos no país, onde a empresa já atua, com a Alusa, na construção e montagem da linha de transmissão entre Charrua e Temuco. As obras, no valor de US$ 59 milhões, estão em andamento a cargo do consórcio TransChile e deverão estar prontas até abril de 2008. A linha, com 220 kV, terá 205 km de extensão.

Contudo, os interesses da empresa mineira, naquele país, transcendem os aspectos da montagem e operação da LT. Ela quer adquirir a distribuidora de energia Emel, controlada pela americana Pennsylvania Power and Light (PPL), que atende a 575 mil clientes no território andino. A Emel e suas subsidiárias – Emelari, Eliqsa, Elecda, Emelat e Emelectric – atuam em Santiago e em outras cidades importantes, como Arica, Iquique, Antofagasta e Copiapo.

A escolha do Chile para iniciar vôo rumo ao exterior, tem razão de ser. O país priva de estabilidade econômica e política e a possível aquisição da Emel consolidaria a Cemig em sua estratégia de fusão e crescimento.

No mercado interno, ela pretende entrar no leilão da venda da Brasiliana, que controla a Eletropaulo, a AES Tietê e outras empresas do segmento, devendo participar também das usinas que entrarão em construção no rio Madeira.

Outros programas

A empresa está repotencializando 32 PCHs. Nelson Benício Marques Araújo, gerente de engenharia de operação e manutenção de geração, diz que esse trabalho começou em 2006. Todas as PCHs foram objeto de minucioso diagnóstico. Os serviços de reforma das usinas ou de substituição das turbinas das 12 consideradas mais rentáveis devem ser concluídos até o final deste ano.

Nelson Benício afirma que em outros países trabalhos de repontencialização de PCHs garantem ganho financeiro maior do que no Brasil, pois lá fora há uma valorização da potência. As empresas de geração de energia são remuneradas pela energia gerada e não pela energia assegurada. Este, a propósito, tem sido o parâmetro das geradoras de energia elétrica no país.

Atualmente a Cemig é apontada, pela Associação Brasileira de Empresas Geradoras de Energia Elétrica (Abrage), como a empresa que detém o maior número de PCHs no Brasil. A maior parte das pequenas hidrelétricas está instalada no sudeste de Minas Gerais; seis funcionam no Triângulo Mineiro; outras seis, na região leste; há quatro

na região norte e duas em Santa Catarina. Somadas, representam 9l,8 MW médios, do total de 3.943 MW de energia assegurada da empresa e 169,40 MW de potência instalada, dos 6.523 MW que a Cemig possui.

No geral, as PCHs da Cemig têm uma expectativa de vida útil de 40 anos. Justifica-se, por conta disso, o empenho em favor da revitalização completa das instalações, “maximizando os ganhos de energia assegurada e, conseqüentemente, os ganhos anunciados”, conforme assinala Nelson Benício.

Fonte: Estadão


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