Caso rodovias, ferrovias, aeroportos, portos e hidrovias não funcionem com eficiência, o agronegócio brasileiro continuará sob riscos. As dificuldades na área da infraestrutura, sobretudo com o apagão portuário, aumentam em até 23% o custo do transporte no País
Nildo Carlos Oliveira
Sílvio Ciampaglia acha que infraestrutura é questão de soberania. Não há como pretender a integração do País, sem resolver os entraves que impossibilitam construí-la e aperfeiçoá-la. E, conforme salienta, “um país com a rara diversidade e as dimensões continentais do Brasil, não pode resignar-se a taxas de crescimento medíocre”.
Pelos dados que ele apresentou, essa mediocridade é flagrante, pois “apenas 11,9% da malha rodoviária brasileira está pavimentada. E 62% das rodovias registram problemas graves do ponto de vista de geometria, pavimento e sinalização”. Além do que, destaca ele, os problemas de infraestrutura aumentam em 23% o custo do transporte, que gasta muito com combustível, desgaste de pneus e emissão de poluentes, perdendo competitividade na produção”.
Ele acha ser necessário buscar soluções, onde quer que seja, para escoar e exportar a produção brasileira com segurança e segundo prazos corretos. “O apagão portuário”, enfatizou, “é e deve continuar a ser uma preocupação nacional. No Brasil, o custo para escoar a produção da lavoura até o ponto de embarque é quatro vezes maior do que nos Estados Unidos e até muito mais do que na Argentina”. Ele diz que, com exceção da malha rodoviária paulista, considerada a melhor do País, a maior parte das demais estradas brasileiras continua precária e a exigir fortes investimentos.
Luiz Antonio Pinazza, da Abag, disse que está em andamento um trabalho conjunto, com a cadeia produtiva da construção, para resolver a precariedade enfatizada por Ciampaglia. Citou o caso do Porto de Santos que, segundo ele, já não consegue atender à demanda das exportações.
“Hoje”, afirmou ele, “conseguimos superar as instabilidades climáticas e outras dificuldades e estamos exportando volume possivelmente superior a R$ 20 bilhões/ano. Por isso, precisamos melhorar a nossa malha rodoviária e investir nos demais modais, incluindo o etanolduto.”
Renato Pavan bateu na mesma tecla e afirmou que os gargalos estão afetando todo o sistema de transportes, o que implica a necessidade da elaboração — e cumprimento — de um plano de logística estratégico e transparente, que torne o Brasil competitivo.
O que existe, segundo acentuou, são planos picados, fragmentários, sem uma interação orgânica entre eles. Por conta disso, as hidrovias estão subutilizadas e se faz necessário acelerar os investimentos tanto nesse quanto nos outros modais. E disse que as obras de melhoria do Porto de São Sebastião são prioritárias.
Aquele porto tem sido objeto de obras por etapas. Os investimentos são da ordem de R$ 2,5 bilhões. Os trabalhos de melhoria incluem a reforma do cais comercial, que já tem 50 anos de funcionamento; a pavimentação de mais de 123 mil m² do pátio 3; a construção da cabine de entrada de energia e substação primária e a aquisição de equipamentos especiais para armazenamento, contenção e recolhimento de óleo para base de emergência. Ao todo, o terminal opera com 18 tipos de cargas. Mas, ao lado dessas obras, o governo, segundo ele, deve priorizar o Ferroanel.
Logística paulista
Clodoal Pelissioni, superintendente do DER-SP, reconheceu que o agronegócio paulista, com destaque para a laranja, o etanol, borracha e grãos, merece uma infraestrutura compatível com a importância que ele tem. Trata-se, segundo ele, de uma preocupação que há tempos está entre as maiores prioridades do governo paulista. Tanto é, conforme acentuou, que o Plano Plurianual reserva uma soma da ordem de R$ 30 bilhões somente para logística. Segundo a mesma preocupação, o Rodoanel vem sendo agilizado e o trecho Leste deve ser entregue até março de 2014.
Ele citou o acerto das concessões rodoviárias, que permitiram deixar as estradas paulistas na condição das melhores do Brasil, lembrando o compromisso do governo estadual com o Ministério dos Transportes, no valor de R$ 332,8 milhões, pelo qual o Ferroanel Norte deverá ser construído simultaneamente com as demais obras atualmente em curso do Rodoanel Norte. “Com esses empreendimentos acontecendo simultaneamente”, afirmou, “haverá uma vantagem: estaremos fazendo uma economia de R$ 1,3 bilhão”.
Ele disse que a Nova Tamoios Contornos vai criar uma opção em relação à SP-055 para o acesso a Caraguatatuba e a São Sebastião, melhorando o tráfego pesado, sobretudo o de caminhões, que deixará de passar pela área urbana. Quanto às rodovias paulistas, disse que São Paulo possui 200 mil km de estradas, 37 mil dos quais, pavimentados. E que o governo está empregando R$ 6 bilhões, nos eixos rodoviários do Estado. Ele não deixou, também, de enfatizar que o túnel submerso, na ligação Santos-Guarujá, é outra obra que deverá ajudar muito na eliminação dos gargalos estruturais, referidos pelos participantes do encontro.
Fonte: Revista O Empreiteiro