Engenheiros no campo poderão acessar os dados do projeto e dialogar com o escritório, subcontratados e clientes, em tempo real
Enquanto as empresas de engenharia e os contratantes no Brasil ainda discutem a relação custo/benefício de se implementar o BIM-Building Information Modelling, que transforma uma obra a ser construída numa “nuvem de pontos”, georeferenciados, que estará na internet para ser compartilhado por todos que atuam no projeto, a Autodesk já disponibiliza este mesmo serviço no celular e no tablet, cujo pioneiro iPad já se tornou outro ícone criado pelo inesgotável Steve Job, embora já enfrente diversos modelos concorrentes no mercado.
O engenheiro vai até a obra e poderá propor mudanças em tempo real através do seu aparelho móvel, validá-las com sua equipe no escritório e a do proprietário, reduzindo visivelmente o tempo de decisão. Poderá antever os reflexos dessas mudanças na obra pronta virtual, em alguns segundos. O processo também se torna transparente onde todos os participantes assumem suas posições sem meio termo. Os trabalhos de construção ou montagem não param mais à espera de decisões que reúnem diversas instâncias.
Essa novidade foi o foco central da convenção Autodesk University, realizada pela 18a edição em dezembro este ano, sediada em Las Vegas, EUA. Outra notícia que impressionou os 7 mil participantes dos quatro continentes, além dos 40 mil profissionais que acessaram as discussões pela internet, foi o destaque dado à “computação nas nuvens” como uma commodity prontamente acessível, de modo que sua empresa poderá mobilizar esse recurso para processar simulações complexas – por exemplo, de variantes de fachada num edifício e respectivo desempenho energético ao longo de sua vida – que o arquiteto ou proprietário poderá receber prontas em algumas horas, para tomada de decisão. Mais ainda, nesse meio tempo, as estações de trabalho da empresa projetista ficarão livres para outros serviços.
A única dúvida que ficou no ar é quanto vai custar esse serviço de “computação nas nuvens” para os usuários – se alugarem esse serviço, por exemplo, nos computadores da Amazon. A empresa que criou a onipresente AutoCAD acredita que essa tecnologia vai tornar o processamento de dados um recurso abundante, que não precisará ser racionado no futuro próximo. Como disse o vice-presidente de tecnologia, Jeff Kowalski, “é mais barato simular no computador do que executar uma obra em concreto, ou produzir uma peça em aço, para descobrir então falhas no projeto e fazer correções”. No final das contas, é uma questão de economia.
O raciocínio da computação nas nuvens pode ser resumido na seguinte conta: se usarmos 1 computador durante 10 mil segundos, ao custo de US$0,25/segundo, pode ser mais vantajoso se usar 10 mil computadores, durante 1 segundo, pelo mesmo custo. E ainda existe o efeito rede – alojar um software pesado, tipo que ocupa 10 DVDs, na nuvem, e o usuário pode usar apenas uma fração dele no seu laptop.
A simulação digital foi outra atração deste seminário de tecnologia, que valorizou sobremaneira a criatividade humana nas diversas palestras e painéis – desde a adolescência até a idade profissional. Não só edifícios poderão ter sua estrutura simulada na forma digital, como seu comportamento energético calculado ao longo da sua vida, dependendo da sua locação frente à rota do sol e ventos, perfil geométrico da sua fachada, que pode assumir formas até hoje impensadas, o conteúdo e a atividade que irá abrigar, etc. Esse modelo digital poderá ser aproveitado ainda pelo proprietário para monitorar o seu desempenho ao longo dos anos, possibilitando intervenções para otimizar seu custo de operação.
A simulação digital de uma obra de infraestrutura pode ser levada a níveis nunca antes imaginados. Os usuários poderão percorrer uma via expressa a ser construída, vendo os viadutos e passagens inferiores prontos, a paisagem recomposta após as obras, em condições diurnas ou noturnas, com outros veículos em ambos os sentidos de fluxo, para se convencer se os impactos que o projeto irá provocar “valem a pena”.
Esse recurso foi empregado com sucesso pela agência pública Caltrans no projeto da via expressa Presídio Parkway, em San Francisco, nos EUA, cujos estudos começaram há 20 anos. Esse simulador, com volante de carro e pedais, leva o interessado a um passeio virtual pela nova rodovia, mostrando os benefícios das obras, ao longo de um trajeto que atravessa uma região histórica do parque da ponte Golden Gate.
O mesmo ocorreu no projeto de substituição de um viaduto danificado por terremoto na cidade de Seattle, no Estado de Washington, EUA. Os softwares da Autodesk produziram a visualização de várias alternativas técnicas entre viadutos de concreto, estaiados, para chegar finalmente à solução de um túnel que vai atravessar a baia , simulando inclusive os possíveis impactos de novos terremotos. A realocação de todas as redes de utilidades também foi simulada, bem como demais interferências, desvios de tráfego, facilitando o entendimento do público que pode ver a obra pronta e seu uso, e as perturbações inevitáveis no seu cotidiano durante a construção.
Como esse modelo digital será usado pelo proprietário – o Depto de Transportes estadual — na operação e manutenção da obra, essas imagens em 3D permitirão a tomada de medidas preventivas de toda ordem, minimizando a ocorrência de incidentes que podem afetar o dia-a-dia da população que usa essa via de transporte, no caso, o túnel submarino. Aliás, o público pode antever como a máquina TBM escava um túnel, coloca o revestimento e o deixa pronto para as instalações mecânicas, elétricas e de automação-sem que os pedestres que estão na superfície percebam o seu trabalho, a não ser, talvez, um leve trepidar no solo.
As tecnologias que estão a caminho
Brian Matthews, vice-presidente da Autodesk Labs – o centro de desenvolvimento tecnológico da empresa, que mostrou algumas novidades que estão a caminho, lembra que o tempo de maturação para as novas tecnologias chegarem ao mercado tem se reduzido e hoje está na faixa de 3 a 4 anos. E os custos também vêm caindo vertiginosamente – um aparelho scanner a laser que custava US$ 500 mil está à venda hoje por 40 mil.
Project Photofly é uma dessas novas tecnologias que promete ser irresistível – o software permite que um projeto paramétrico de arquitetura possa ser feito a partir de uma fotografia digital feita por um celular.Uma imagem pode ainda ser capturada pela câmara virtual do software e referenciada como uma nuvem de pontos via GIS.
People Power, como diz o nome, reproduz o comportamento humano de uma multidão, utilizando figuras humanas que reproduzem até o gestual, para simular o uso, por exemplo, de um espaço público e identificar as obstruções ao fluxo das pessoas no projeto existente.
Inventor Fusion cria protótipos digitais de objetos ou peças, que podem ser modificados sucessivamente, até chegar ao modelo ideal, inclusive o material, a textura superficial, cor, etc. Esse programa pretende ir além do designer e engenheiro, e permitir que pessoas comuns que queiram criar algo novo possam fazê-lo, com “a mão na massa”.
Tinkerbox, criado para IPhone e IPad, reúne os programas Puzzle e Invent e conta com um banco de peças como motor, eixo, parafuso, polia, etc., para que o usuário possa criar mecanismos imaginários que funcionam, após solucionar diversas etapas. É a criatividade e inovação ao alcance de todos.
Democratizar o design
Amar Hanspal, vice-presidente de Negócios Emergentes, fala em democratizar o poder do design e da sua força de comunicação visual. Dá como exemplo os programas que fazem os desenhos em 2D migrar para 3D , e daí para apresentações de nível profissional, que facilitam sobremaneira a “venda” do produto ou da ideia. Ele lembra que o Sketchbook tem uma proposta parecida, ao permitir fazer um desenho à mão livre com a ponta do dedo na tela do IPhone ou noutro aparelho que tenha o sistema Android.
Outro produto que democratiza o design é o Homestyler, para interiores de moradias, que permite a você mesmo mudar o arranjo dos móveis de uma sala, trocar por outros modelos de mobília, mudar as forrações, a iluminação, etc. Depois de tudo posto, uma câmara virtual tira fotos desse ambiente e mostra para o cliente a sala pronta em 3D, a partir de variados pontos de perspectiva .
A crise global e a tecnologia
Jay Bhatt, vice-presidente de soluções para AEC da Autodesk, mostrou que a crise global fez as empresas de engenharia perguntarem a si mesmas, como chegar mais rápido ao resultado? Que tecnologia usar? Qual o ganho em sustentabilidade? A tecnologia tornou-se uma ferramenta crítica nas atividades AEC – arquitetura, engenharia e construção.
Nos EUA, 30 milhões de pessoas vão se mudar para as cidades até 2050. Como utilizar os materiais de forma mais eficiente nas edificações? O consumo energético dos prédios pode ser previamente calculado na fase de projeto, e simulado com recursos de TI, possibilitando redução da ordem de 15 a 25% na demanda de energia. 90% dos custos operacionais ocorrem após a ocupação do edifício-a partir daí, as modificações físicas vão gerar custos.
A produtividade na construção se equivale a 50% dos níveis habituais da indústria de manufatura, onde inclusive ela encontra-se em alta, ao passo que na construção a tendência é de queda. Mas existe um sinal de alento – as vendas dos programas Revit e Naviswork estão se expandindo entre as construtoras, a taxas superiores à demanda entre as empresas projetistas, onde já há uma maior cultura de TI. As construtoras começam a questionar a ineficiência e o desperdício – nos países industrializados por causa da crise econômica, nas economias emergentes em vista da escassez de mão de obra e da demora na entrega dos equipamentos.
Carro elétrico de alta performance
Que tal um carro esporte e elétrico, de dois lugares, que atinge 100 km/h em menos de quatro segundos, viaja 370 km com uma única carga de bateria? São os modelos da Tesla Motors. O sedan S extrai a energia de uma bateria com 7000 elementos de íon-lítio e tem um interior totalmente plano, por não precisar de motor a explosão, transmissão, canos de escape, catalisadores de gases e tanque de combustível. Seu perfil oferece menos resistência ao vento.
O trem de força elétrico traseiro, incluindo motor, inversor e bateria, gera 200 kW e 288 HP. Para evitar superaquecimento, o conjunto de bateria é resfriado à água. O painel é limpo, dominado por uma tela sensível ao toque, que reúne todas as informações sobre o veículo, a rota percorrida, previsão de tempo, etc.
Antes da construção da primeira unidade na linha de montagem, modelos “fotográficos” digitais foram traçados em 3D, permitindo que os projetistas validem os resultados obtidos.
Sede da Masdar será modelo de eficiência energética
Localizada nas proximidades de Abu Dhabi nos Emirados Árabes, a sede da Masdar será o primeiro prédio do mundo que produzirá um volume de energia superior ao que deverá consumir – uma meta ainda não alcançada pelas edificações verdes. Ele faz parte do empreendimento da cidade de Masdar, projetado para uma vitrine das principais tecnologias de eficiência energética e reaproveitamento de insumos e materiais, com desperdício e emissões de carbono próximos a zero.
As equipes da Adrian Smith+Gordon Gill Architecture e da Thorton Tomasetti Environmental Systems Design adotaram o BIM-Building Information Modeling para integrar os sistemas da arquitetura, estrutura e operacionais do edifício, possibilitando ajustes e revisões coordenados entre eles, além de monitorar em tempo real o conteúdo total de carbono do projeto. Ao avaliar múltiplas abordagens de projeto, chegaram aos onze cones gigantes que propiciam entrada de luz e ventilação naturais, formando pátios internos que parecem oásis.
Quando entrar em operação, o prédio vai consumir 70% a menos de água do que obras tradicionais, incorporando numerosos componentes amigáveis ao meio ambiente, inclusive uma cobertura de 24 mil m2 revestida de painéis fotovoltaicos, que produzirá mais energia do que seu próprio consumo.
Nos projetos, foram utiliza¬dos os programas Revit Architecture + MEP + Structure, 3ds Max, Ecotect Analysis, Navisworks Manage.