O resgate das comunidades locais arrasadas, suas redes sociais, a economia
e cultura, demandarão programas que podem chegar a uma década
Projetos de reconstrução de cidades devastadas por catástrofes naturais, como as que acabam de acontecer na região serrana do Rio de Janeiro e que ocorreram também em algumas áreas de São Paulo (SP), no Vale do Itajaí (SC) e ao longo do rio Mundaú, em Alagoas, não podem ser postergadas. Quando isso acontece, há o risco de virarem permanentes as obras provisórias, construídas para atendimento de situações de emergência.
Em Alagoas e até em Santa Catarina, a falta de vontade política prolonga uma situação transitória, para prejuízo da economia municipal ou estadual, que fica sem instrumentos adequados de infraestrutura para se movimentar, e para prejuízo da população, carente de equipamentos urbanos indispensáveis que a ajudem a retomar as atividades normais.
No Rio, equipes multidisciplinares, de diferentes instâncias de governo e da sociedade civil, estão sendo mobilizadas para a tarefa da reconstrução, que em muitos casos, como no exemplo de São Luiz de Paraitinga, no Vale do Paraíba, em São Paulo, pode ser muito mais difícil do que a construção. Esta se dá espontaneamente, como um trabalho que vai sendo continuamente retomado, de geração para geração, com a força da tradição e da história.
A reconstrução das cidades da região serrana do Rio de Janeiro está unindo geólogos, geotécnicos, geógrafos, arquitetos, urbanistas, engenheiros das mais diferentes especialidades e estudiosos de outras áreas do conhecimento.
Economistas da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) analisam as condições das indústrias têxteis regionais, enquanto outros examinam os prejuízos no setor de serviços e de turismo. No conjunto, sem falar nas irreparáveis perdas humanas, os prejuízos são considerados muito elevados, levando-se em conta a escala da economia de Teresópolis, Petrópolis, Nova Friburgo e dos demais municípios afetados. Mas o prejuízo maior é contabilizado pelas famílias e pela rotina das cidades, que tiveram parte de seu patrimônio e de sua infraestrutura destruída pelas águas.
A reconstrução, a partir do mapeamento das novas condições locais – estradas obstruídas, pontes danificadas, ruas destruídas, casas que ruíram pela ação das chuvas e dos escorregamentos nas encostas e redes de abastecimento de água e de serviços de esgotamento sanitário danificados – vai constituir uma tarefa desafiadora para a engenharia e para os urbanistas.
O trabalho vai exigir a presença da fiscalização do Município ou do Estado para acompanhamento das obras e da aplicação correta dos recursos públicos ou privados ali empregados. Contudo, mais do que a fiscalização dos órgãos públicos, vai caber à sociedade, a cobrança sistemática, diária, do que deve ser feito, para a recomposição da normalidade de suas atividades e das atividades das gerações vindouras. (Nildo Carlos Oliveira)
Fonte: Estadão