Rio-Juiz de Fora terá túnel de 5 km na subida de Petrópolis

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A rodovia Rio-Juiz de Fora lembra de imediato a abertura da Estrada União e Indústria no século 19, que ligava Petrópolis àquela cidade mineira. Hoje, a estrada, que incorpora aquele trecho, pode tornar-se o mais moderno exemplo de avanço da engenharia rodoviária do País

Nildo Carlos Oliveira

Ocaminho do Rio a Juiz de Fora é um mergulho na história do Brasil Colônia, Império e República. Seguir por ele leva à constatação de que, conquanto a paisagem tenha mudado, ela continua a valorizar o traçado, que está continuamente a merecer as melhorias proporcionadas pelos avançados métodos da engenharia rodoviária e pela necessidade de medidas de preservação ambiental. Sobretudo na subida da Serra de Petrópolis, a engenharia é invocada em nome da sustentabilidade. E, em especial por esse motivo, ali será construído o que deverá ser o maior túnel rodoviário brasileiro.

A Rio-Juiz de Fora (BR-040), compreendendo 180,4 km de uma cidade à outra, vem sendo administrada, há 15 anos, pela Companhia de Concessão Rodoviária Juiz de Fora-Rio (Concer), que ao longo desse período investiu ali, em diferentes obras, R$ 1.007.356.350,07, volume de recursos a que já estão adicionados os R$ 32,4 milhões investidos no ano passado. A programação desses investimentos, conforme as palavras do presidente da concessionária, o engenheiro Pedro Jonsson, tem em conta fazer com que a rodovia “continue como uma das melhores do Brasil”.

Aquele volume de investimentos se justifica. Pela rodovia circularam, no ano passado, 26,6 milhões de veículos pesados e leves, com ligeira vantagem para os veículos de carga. O traçado situa-se na área de influência das cidades fluminenses de Duque de Caxias, Petrópolis, Areal, Três Rios e Levy Gasparian e pelas cidades mineiras de Matias Barbosa e Simão Pereira.

A programação de obras, nos últimos 15 anos, incluiu a duplicação de 37 km de rodovia, entre Juiz de Fora e Matias Barbosa; a construção de 27 km de pistas laterais e de 12 km de faixas adicionais na Baixada Fluminense; a construção de 12 viadutos e pontes, 20 passarelas, cinco retornos, quatro pontilhões e um novo sistema de iluminação.

No ano passado, as obras abrangeram tanto a recuperação do pavimento asfáltico quanto a recuperação do pavimento rígido, este aplicado na Serra de Petrópolis. Houve a ampliação de trechos em Duque de Caixas, com o alargamento das pontes sobre o rio Iguaçu, no km 115; construção de mais cinco passarelas entre Caxias e Petrópolis; iniciada a construção do retorno em Areal e realizadas 41 obras de contenção de encostas em trechos diversos. Em 18 das encostas estudadas, para a implementação dessas obras, a concessionária adotou a técnica da biomanta que, segundo ela, é considerada “ecologicamente correta”.

A modernização sobre a serra

Este ano, o programa de modernização da BR-040 vai subir a Serra de Petrópolis. O projeto elaborado para esse fim prevê a abertura de uma pista com 20 km de extensão, que vai substituir o trecho da antiga rodovia Washington Luiz, construída em 1928. O futuro trecho terá traçado moderno, com menos sinuosidade e maior segurança.

O traçado, na subida, prevê rampas máximas de 6%, velocidade de diretriz de 60 km/h e raio mínimo de 125 m. As pistas serão configuradas com uma faixa de segurança de 0,60 m; duas faixas de rolamento de 3,6 m, e acostamento de 2,5 m. Nos trechos próximos a áreas urbanas serão implantadas vias marginais para a separação do tráfego de longa distância do tráfego local.

Contudo, a obra mais importante da subida da serra será o túnel unidirecional de 5 km de extensão. A nova pista e o túnel ajudarão a caracterizar o trecho como uma “estrada-parque”, com forte apelo ambiental. O projeto, já aprovado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), obteve o licenciamento prévio concedido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e traz, segundo a empresa, uma série de vantagens, inclusive para a expansão da infraestrutura rodoviária fluminense para a Olimpíada de 2016.

O túnel terá ventilação mecânica, acostamentos e galeria de interligação com a pista de descida. O sistema viário previsto vai permitir o retorno nos dois sentidos no sítio chamado Belvedere do Disco, que possui um grande potencial para atrações turísticas. O projeto prevê a ligação Bingen-Quitandinha, em Petrópolis. Na saída dessa obra será construído novo acesso para a cidade serrana. Ali, um viaduto estaiado foi projetado para ser um marco arquitetônico ao final da subida da serra. Esse conjunto de obras, algumas já iniciadas, deverá, estar concluído até fins de 2013.

Empresas comprometidas com a BR-040

Entre as empresas comprometidas com as obras da BR-040, além da Intertechne Consultores, que elaborou o projeto do túnel, estão as seguintes: Progeo Engenharia, Tecnosolo Engenharia, Delgado de Carvalho Engenharia, Agromax Construção e Urbanização, Construtora Henz de Xerém Ltda., Geoportante Engenharia, Chest Engenharia, Sanebrás Engenharia, Cassol Pré-fabricados, Prosplan Obras e Serviços, Soloteste Engenharia e Sope – Sociedade de Obras e Projetos de Engenharia.

Memória desse caminho, uma nova descoberta

Com o apoio da Companhia de Concessão Rodoviária Juiz de Fora-Rio foi elaborado e publicado o livro Caminhos do Rio a Juiz de Fora, que resultou em uma das mais significativas contribuições históricas sobre o processo de conexão entre duas regiões brasileiras, estudando a diversidade social, política e cultural que as identificaram do Brasil Colônia até aqui.

A publicação reúne estudos realizados por equipes multidisciplinares envolvendo a direção do Museu Imperial, do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural do RJ, do Instituto de Pesquisas e Análises Históricas e de Ciências Sociais da Baixada Fluminense e colaboradores em diversos outros campos do conhecimento.

O livro traz à luz pormenores da construção da Estrada União e Indústria, com calçada de macadame, seguramente a última tentativa, no século 19, de restaurar a região do chamado Caminho Novo, como um eixo importante para as relações comerciais e políticas entre Minas e Rio de Janeiro. A estrada, concebida por Mariano Procópio Ferreira Lage, foi inaugurada em 1861. Posteriormente, a

Rio-Petrópolis viria a caracterizar-se como uma das grandes experiências brasileiras no emprego do pavimento de concreto.

Em matéria publicada no livro 100 anos da engenharia brasileira, editada pela revista O Empreiteiro, é contada também um pouco da história da estrada Rio-Petrópolis-Teresópolis, incluindo as obras do contorno, então a cargo, no século passado, dos técnicos do antigo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER).

Fonte: Estadão


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