Os efeitos da primeira PPP de saneamento na região metropolitana de São Paulo

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Nara Faria – Suzano (SP)

Garantir água tratada para cinco milhões de pessoas em uma das regiões mais populosas de São Paulo foi o desafio assumido pela CAB Ambiental, por meio da criação da CAB spat, ao firmar uma Parceria Público-Privada (PPP) com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
 
O projeto, estabelecido em 2009, marcou a primeira PPP administrativa da Sabesp e atualmente uma das maiores parcerias existentes no Brasil no setor de saneamento. Após dois anos do contrato, a Estação de Tratamento de Água (ETA) Taiaçupeba, em Suzano, passou a operar com capacidade hídrica de 15 m³/s, um aumento de 50% comparado à capacidade anterior da ETA, de 10 m³/s. Neste período, passou de 3 milhões de pessoas atendidas para 5 milhões, por meio da água das represas Paraitinga, Ponte Nova, Biritiba Mirim, Jundiaí e Taiaçupeba, que integram o Sistema Produtor do Alto Tietê.

Além de beneficiar a região Leste de São Paulo, a estação de tratamento vai atender as regiões norte e oeste da Grande São Paulo, por meio da transferência de água entre os sistemas de distribuição da região metropolitana. Parte da região Leste, abastecida pelo Sistema Cantareira, também poderá ser atendida pelo Sistema Alto Tietê. Desta forma, sobrará água da Cantareira para abastecer outros sistemas. Para o Alto Tietê, a nova adutora Itaquera-Artur Alvim, na Zona Leste, beneficiará Poá, Arujá, Ferraz de Vasconcelos, Guaianases, Mogi, Suzano e vários bairros de Itaquacetuba.

O contrato, que tem validade de 15 anos, inclui outros serviços, como disposição do lodo gerado pelo tratamento, manutenção eletromecânica dos equipamentos, das barragens, predial e de áreas verdes, além da segurança patrimonial. Nesta parceria, a Sabesp permanece com o controle da parte operacional para o abastecimento, ficando responsável por determinar a quantidade de água a ser bombeada, em quais períodos, e também pelo tratamento da água.

Dentro do projeto que cabe à PPP, foi concluída ainda a construção de 17,7 km de adutoras de 400 mm a 1.800 mm e de quatro reservatórios com capacidade total de 70 milhões de litros.

“O volume de serviços/obras e o montante de recursos financeiros envolvidos geram um negócio em torno de R$ 1 bilhão em 15 anos de parceria”, afirmou Helio Luiz Castro, superintendente da Sabesp, em depoimento à CAB spat.

Com o término dos investimentos a concessionária possui ainda como responsabilidade contratual a manutenção dos indicadores de performance. Um dos mais importantes é o de redução das perdas de água no processo. Em 2012, a operação realizou trabalhos de inspeção de vazamento em adutoras de grande porte localizadas na Zona Leste de São Paulo. Ao longo do ano também foram realizadas melhorias no sistema de tratamento.

De acordo com André Scanavini, gerente de operações da CAB Ambiental, mais do que administrar a execução das obras, um projeto com dimensões como este exige um grande esforço de gestão. “Como uma PPP administrativa era algo novo, existia um receio por parte dos funcionários da Sabesp de que perderiam o emprego. Conforme nos aproximamos, conseguimos mostrar que estávamos ali para somar, que o parceiro privado veio agregar no projeto como um todo”, explica.

“O dia a dia é complicado. É um contrato muito rigoroso, cheio de travas e de indicadores que medem constantemente nossa performance.Mas é um modelo de sucesso e que funcionou aqui”, completa Sueli Oliveira, diretora-geral da regional São Paulo I, uma das frentes de trabalho da CAB Ambiental.

Execução das obras

As obras de execução do projeto foram divididas em 23 frentes, entregues por etapas até o ano de 2011. A primeira delas consistiu na ampliação e adequação na captação e estação elevatória de água bruta, que são constituídas por uma estrutura única localizada na margem esquerda do reservatório de Taiaçupeba, próximo à barragem. Essa estrutura está assentada sobre seis tubulações que, além da função estrutural de suporte à casa de bombas, serve de tomada de água bruta e poço úmido para alojamento dos grupos motobomba de eixo vertical.

As obras consistiram na adaptação do poço e base do conjunto motobomba, fornecimento e montagem eletromecânica do sexto conjunto motobomba de 3.000 CV e acessórios. Além das intervenções foram instalados mais três pequenos conjuntos motobomba do tipo submersa para poço, destinados à amostragem de água bruta e alimentação da ETA Piloto, na Casa de Química da ETA.

Outra frente de trabalho foi responsável pela ampliação e adequação do pré-tratamento, com a adição de mais dois floculadores e dois decantadores. Em uma terceira frente foi realizada a obra de ampliação dos filtros, que é composta pela adição da terceira bateria de filtros. Esta bateria possui 10 unidades de filtração com dupla camada de carvão antracito e areia.

As obras executadas consistiram também na implantação do segundo reservatório de água tratada com capacidade de 20.000 m³ de armazenagem, dotado de duas câmaras de reservação paralelas. Houve também a execução do bloco de emboque interligando a unidade ao canal de água tratada existente. Nesta etapa da obra foram utilizados 3.451 m³ de concreto.

Leiras de lodo são formadas e revolvidas periodicamente por máquinas apropriadas no processo de secagem
 

As demais etapas do projeto se dividiram na ampliação da estação elevatória, adutora e reservatório de água de lavagem, construção das adutoras, entre outras. Ainda fizeram parte do projeto executado pela parceria as obras de ampliação da subestação elétrica, com a instalação de mais um transformador de força de 12,5/16,6 MVA. O incremento da capacidade nominal da ETA Taiaçupeba para 15 m³/s demandou ainda uma série de intervenções na casa de química e nos setores de produtos químicos e utilidades da ETA.

Dando destinação ao lodo

De acordo com Scanavini, são gerados 22 mil m³ de lodo por mês com 2% de sólido na ETA de Taiaçupeba. Não é possível eliminar esse lodo do meio ambiente e algumas soluções começam a ser estudadas a fim de dar uma finalidade industrial ao material, como a possibilidade de que seja utilizado, por exemplo, na fabricação de pisos para serem usados em construção.

Atualmente, o lodo gerado na ETA Taiaçupeba, que antes da parceria era descartado no entorno da estação de tratamento ou que chegou a ser descartado na própria represa, passou a ser armazenado em tanques construídos exclusivamente para esta finalidade. “Antes da parceria o tratamento era feito de uma forma sem controle. Não tinha destinação adequada”, explica Scanavini.

Agora, o lodo da ETA Taiaçupeba é enviado continuamente a um tanque situado nas dependências do Sistema de Adensamento e Desidratação de Lodo (SADL). Apresentando teores de sólidos em torno de 1,5% de material seco, passa posteriormente por um condicionamento químico à base de polieletrólitos, em adensadores do tipo rotativo. Nesta etapa, a primeira parcela de água é retirada do lodo, elevando o teor de sólidos a níveis acima de 1,5%.

Em seguida, é o lodo encaminhado para o desaguamento em centrífugas. Neste processo obtém-se lodo com teores de sólidos equivalentes a 15% de material seco. Inicia-se então a secagem, na qual se usam leiras que são formadas e revolvidas periodicamente por máquinas apropriadas (trator e enleirador). O objetivo deste processo é arejar o lodo e, simultaneamente, acelerar a secagem ao aumentar sua área de contato. Estes procedimentos resultam em teores de sólidos superiores a 50% de material seco.

Após atingir acima de 50% de material seco, o lodo é encaminhado para as células de aterro, onde é disposto. Toda água retirada do lodo é recuperada e bombeada para um sistema de recuperação de água de lavagem (SRAL), de onde ela é enviada para o início do processo de tratamento de água.

Fonte: Redação OE


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