São Cristovão, olhai por nós!

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Escaldados pelo noticiário dos jornais sobre o caos produzido pelos atrasos da Gol/Varig nos aeroportos, neste final de ano, o casal Giuseppe e Mari decidiu seguir para o sul de Minas, a fim de rever a terral natal do Tiradentes, já famosa país afora pelo maravilhoso artesanato e gastronomia.

Eles reservaram uma pousada confortável e consultaram o guia Quatro Rodas sobre as paradas na rodovia onde pudessem achar uma boa comida e sanitários limpos. Primeira surpresa, não encontraram informações dessa ordem no guia.

Tudo bem, a Fernão Dias é conhecida, e agora está sob a responsabilidade de uma concessionária privada, a OHL Brasil, que já colocou serviços de assistência mecânica e médica no trajeto, mesmo sem cobrar pedágio. G&M passaram pela divisa de SP e MG em Extrema, e constataram a qualidade razoável do pavimento, do qual foram eliminados os degraus entre a pista e as pontes – uma providência importante, ignorada na maior parte das estradas, mas essencial para motoristas que cuidam dos seus carros e detestam os trancos produzidos por aquelas irregularidades.

Como o destino intermediário era Lavras, de onde sairiam da rodovia federal para pegar a MG-040, começaram a perceber que havia raras placas de contagem decrescente de quilometragem. Poucas placas indicavam a distância até BH, S. J. de Bela Vista, Circuito das Águas, Três Corações, mas nada de Lavras. Os postos de abastecimento apareciam a grandes intervalos, a maior parte de bandeiras desconhecidas, mas com instalações de aparência sofrível.

Outros eram postos fantasmas; tinham sido fechados há tempos.

O casal notou que havia placas novinhas em folha, assinalando os ribeirões e córregos que a rodovia atravessa, colocadas provavelmente pela concessionária, mas sem informações adicionais sobre a distância que faltava até BH e muito menos para Lavras ou Tiradentes. É como se os cursos dágua fossem a informação principal para os turistas no trajeto da Fernão Dias até lá.

Depois de três horas de viagem, em tese no meio do caminho, os dois pararam num posto Petrobras para abastecer, e receberam a informação de que havia um restaurante a 20 km dali. No local, encontraram um ambiente esfumaçado por uma churrasqueira colocada no salão, onde espetos variados eram assados. Procuraram em vão por um pão de queijo e tiveram que se contentar com um misto quente.

Após examinar o mapa várias vezes, tomaram a estrada finalmente e viram a placa de Lavras à direita, indicando a direção de BH. Pouco depois se depararam com um viaduto, sem nenhuma sinalização. O casal entrou à direita e à direita de novo, seguindo apenas a intuição, e depois de algum tempo, apareceu uma placa indicando que estava na direção certa para São João Del Rei e Tiradentes. Que alívio, estavam chegando!

Começa a gincana
De repente a estrada os surpreendeu: estava cheia de buracos, e os dois fluxos de tráfego andavam em zigue-zague pelas faixas que haviam sobrado e até pelo acostamento. Eles passaram pela periferia de Lavras, depois Itutinga, sempre sem ver nenhuma placa indicando a direção para São João del Rei e Tiradentes – os destinos turísticos mais conhecidos de sul de Minas. Continuaram sem entender aquela economia de sinalização. No trecho havia duas crateras que estouravam os pneus de vários carros, que estavam encostamento por conta disso.

Já mais perto presumivelmente de São João del Rei, o casal de turistas percebeu que a estrada melhorou de repente. A pavimentação fora restaurada e havia placas do DNIT (governo federal) e do governo de MG e seus respectivos programas rodoviários. A ligação entre São João del Rei e Tiradentes está adequadamente asfaltada.

Após seis horas de trajeto, G&M chegaram a Tiradentes. O proprietário da pousada não soube explicar porque o trecho próximo de Lavras estava esburacado. Tampouco soube falar sobre a falta de sinalização e de lanchonetes apresentáveis. Mas disse que o governo de MG é muito cuidadoso com os acessos em torno de São João del Rei, que sempre são mantidos impecáveis. Ele disse que as duas cidades não recebem uma promoção à altura da que a mídia tem conferido a Trancoso, na Bahia. E destacou que o prefeito de Tiradentes é proprietário de diversas pousadas.

O casal está convencido de que turistas estrangeiros não conseguem chegar de carro de São Paulo para São João del Rei e Tiradentes. Por isso acabam se contentando em visitar BH e Ouro Preto. Não que essas cidades não mereçam essa deferência. Mesmo os turistas brasileiros precisam da benção do São Cristóvão, o santo que protege os motoristas e viajantes, para chegar ao destino de sua escolha.

Fonte: Estadão


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