Recebo informações de que, passadas quase duas décadas sem negócios em São Paulo, a Cia. City volta encarar, novamente, sua terra de origem: a metrópole paulistana. Um de seus objetivos, além de empreendimentos imobiliários modernos, é a revitalização de áreas centrais, notadamente o bairro da Luz.
A City tem um passado que se cruza com a avenida São João. No começo do século passado, a cidade iniciava o ciclo de crescimento ditado, em especial, pela riqueza da lavoura cafeeira. No rastro do "ouro verde", abriam-se indústrias e a construção avançava para todos os lados. Mas a cidade não poderia crescer sem planejamento.
Foi naquela época, ali por volta de 1910, que a prefeitura paulistana decidiu construir a avenida São João. Para isso, contratou o arquiteto francês Joseph Bouvard (não confundir com o célebre personagem de Bouvard e Pécuchet de Flaubert) para cuidar do projeto do empreendimento. Ele reuniu investidores da França, Inglaterra e Brasil. Juntos, fundaram, em 1912, a City of são Paulo Improvements and Freehold Land Company Ltd.
A Cia. City, como passou a ser conhecida, não ficou apenas na São João. Criou raízes pela capital e foi adquirindo loteamentos que mais tarde, com planejamento cuidadoso, associado a uma visão do crescimento urbano futuro, desenhou os bairros do Jardim América, Pacaembu, Alto de Pinheiros, Alto da Lapa, Jardim Guedala. E nada de fazer empreendimentos antes para atrair infraestrutura depois. Discutia e planejava a infraestrutura dos bairros, simultaneamente ou previamente às construções. A moda de construir antes para chamar a infraestrutura mais tarde, só veio com o descalabro das políticas equivocadas que geraram o caos urbano da Paulicéia.
Resultado de um trabalho que mereceu o reconhecimento da população e de urbanistas, a Cia. City converteu-se naquela que era considerada a maior organização imobiliária urbanística da América do Sul.
Mas o tempo passou e a empresa foi trabalhar também no interior paulista e em outras regiões brasileiras. Por aqui ficou a referência. O pensamento do seu primeiro fundador, Joseph Bouvard, presidiu diversas fases de crescimento da City. E a informação que se tem, é de que ela continua mantendo um traço de fidelidade com as suas origens.
Seus projetos consideram as preocupações com traçados viários bem desenhados; inclinam-se para a integração estética dos empreendimentos, com o meio urbano, de modo a não desfigurá-lo ou contribuir para que ele perca o conteúdo cultural local; e leva em conta a escala de cada obra, a fim de que uma não interfira na outra de forma abusiva. Tudo é feito, portanto, para não perturbar o equilíbrio do conjunto planejado.
Agora, chega a notícia de que, passados quase 20 anos, ela está retornando. Projeta um bairro em Pirituba, com vilas interligadas a centros de comércio, e constrói um conjunto no Morumbi que, segundo a empresa, vai evitar muita movimentação de terra e prejuízos ao meio ambiente.
Mas, ligado a tudo isso, ela vem para revitalizar o bairro da Luz. Seria, no fundo, um reencontro com as suas origens? Com a São Paulo que ela ajudou a crescer, quando estabeleceu, em aliança com o poder público, as bases do sistema viário a partir do eixo da avenida São João?
O tempo é outro, as políticas são outras e a visão dos administradores públicos é radicalmente diferente. Mas, cabe apostar que os erros do crescimento anárquico da cidade podem ser minimizados a partir de bom planejamento. Aguardemos essa outra história da City.
Frase da coluna
"… o presidente Lula da Silva não é um ambientalista, isso não está no DNA dele." Do biólogo e ambientalista João Paulo Capobianco, ex-secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente.
Fonte: Estadão