Seqüestro de CO2: o exemplo da Noruega

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Desde outubro de 1996, a Statoil, maior empresa de petróleo da Noruega, está engajada em três projetos dedicados à captura e estocagem, em larga escala, de dióxido de carbono (CO2). Para a estocagem do gás carbônico, a Statoil está usando cavernas localizadas no fundo do oceano, de onde são extraídos petróleo e gás natural. O CO2 é um componente natural da atmosfera terrestre. Mas sua excessiva concentração – atribuída à queima de carbono, através dos combustíveis fósseis como carvão, gás natural e óleo – tem contribuído para a aceleração do aquecimento global.

Os projetos se encontram em diferentes níveis de maturidade e estão sendo desenvolvidos nos campos de Sleipner Vest no Mar do Norte; em Snøhvit, no norte da Noruega; e em Salah, na Algéria. Dos sites, o que está operacional há mais tempo é o de Sleipner Vest, a cerca de 250 km a oeste de Stavanger, Noruega, onde a Statoil explora um campo de gás e condensado (petróleo leve) desde 1990. As reservas encontram-se a cerca de 2.500 m (8000 pés) de profundidade no fundo do mar.

Ocorre, porém que o gás encontrado em Sleipner contém naturalmente cerca de 9% de CO2, um índice muito elevado para os padrões de exigência dos consumidores, que demandavam por um gás natural com índices inferiores a 2,5%. Era necessário, portanto, retirar o excedente. Em 1991, as autoridades norueguesas introduziram um imposto para CO2 emitido fora da costa (offshore) com o intuito de diminuir as emissões do gás. Motivados por esse imposto, a Statoil propôs remover o CO2 do gás natural e injetá-lo junto a uma camada geológica abaixo da plataforma Sleipner, onde o CO2 seria estocado por um longo tempo, provavelmente por milhões de anos.

Essa camada contém arenitos bem porosos cheios de água salgada, chamados de Formação Utsira. A formação de Utsira não contém petróleo ou gás comercial. Como a maioria das rochas do subsolo profundo, ela é cheia de água salgada, tem alta porosidade e permeabilidade, de modo que o CO2 se move rapidamente para os lados e para cima pela camada de rochas, substituindo a água entre os grãos de areia.

O CO2 é impedido de passar para a superfície por uma camada grossa de rocha, hermeticamente fechada, de 800 m de espessura.

É estimado que fossem necessários cerca de 600 bilhões de t de CO2 para encher todo o espaço poroso da Utsira. Isso é equivalente a toda produção de CO2 feita por humanos nos últimos 20 anos a taxas atuais.

É provável que o seqüestro de CO2 continuará em Sleipner muito depois do se exaurir suas reservas de petróleo e gás natural. Por ser o primeiro projeto comercial de armazenamento de CO2 em um aqüífero salino profundo, Sleipner despertou muito interesse no mundo todo em seu sucesso. Especificamente, os cientistas querem saber como o CO2 se comporta dentro do aqüífero e se há risco de que ele vaze, voltando à superfície.

Plataforma especial

Para viabilizar o projeto foi montada uma plataforma especial, para suportar uma usina de tratamento de 8.000 t, capaz de produzir cerca de um milhão de toneladas de CO2 por ano. Foram investidos cerca de US$100 milhões em equipamentos extras para a sondagem, compressão e injeção do CO2. Parte desses recursos foi bancada pela Comunidade Européia, interessada em estimular este tipo de projeto de interesse ambiental.

As atividades de captura e estocagem de CO2 entraram em operação em outubro de 1996, em conjunto com as operações produtivas da plataforma. A captura do gás é feita na Sleipner com um processo convencional com amina. No entanto, foi um desafio tecnológico projetar o processo de forma suficientemente compacta para ser colocado numa plataforma offshore no meio do Mar do Norte, a 250 km da costa.

Até agora, cerca de 8 milhões de t de CO2 já haviam sido estocados. A implementação do projeto significou uma redução das emissões de CO2 de mais de 1 milhão de t/ por ano, aproximadamente 3% da emissão de CO2 da Noruega em 1990. A intenção da Statoil é reduzir as emissões de CO2 de suas próprias operações em um terço até 2010.

A 2.500 m de profundidade

Outro projeto interessante de captura e armazenamento de CO2 está no campo de Snøhvit no Mar de Barents, onde é produzido gás natural liquefeito GNL pela Statoil desde 2007. O gás natural é extraído de depósitos subaquáticos e transportado através de 145 km de tubulações até a superfície. Da plataforma, a produção é transportada por navios para a ilha Melkøya, próximo da cidade de Hammerfest, onde foi instalada uma unidade onde o gás natural é liqüefeito. Desta unidade o GNL é exportado também por navios, a –163°C, para a Europa e USA.

A essa temperatura, o CO2 tem a indesejável propriedade de congelar, causando todos os tipos de problemas operacionais, como entupimento da tubulação. Para que isso seja evitado, é necessário remover o CO2 antes de fazer a liquefação. Assim como a Sleipner, foi decidido capturar e estocar o CO2, que é igualmente capturado com um processo convencional de amina. Uma longa tubulação secundária de 145 km transporta o gás para o campo de Snøhvit onde é injetado na camada de arenito com água salgada, denominada Formação Tubåen. Essa camada se encontra a 2.500 m abaixo do fundo do mar. Desta maneira, cerca de 700 mil t de CO2 são estocados por ano. Um programa de monitoramento tem sido feito para investigar o comportamento do CO2 no subsolo.

Salah, na Algéria

O terceiro projeto de injeção de CO2 da Statoil está localizado no campo de gás de Salah, na região central da Algéria. Esse campo é operado em conjunto pela Sonatrach, BP e Statoil. Devido às razões comerciais e técnicas, o CO2 é removido do gás natural, assim como em Sleipner.

Iniciado em 2004, 1,2 milhão/t de CO2 por ano está sendo capturado e estocado em Salah. O CO2 é armazenado na mesma camada que o gás natural, mas em distâncias seguras. A mesma camada de rocha que mantém o gás natural no lugar, mantém o CO2 armazenado.

Fonte: Estadão


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