A Usina Hidrelétrica da Serra do Facão já superou uma das fases mais complexas de obras desse tipo: o desvio do rio São Marcos. Isso aconteceu em fevereiro último, somente um ano após o início das obras de implantação do empreendimento, que está localizado a 220 km de Goiânia, no Estado de Goiás.
A usina envolve investimento total de R$ 770 milhões e deve entrar em operação no primeiro semestre de 2010. Equipada com duas turbinas geradoras Francis, com capacidade unitária de 108 MW, ela terá potência total instalada de 210 MW, energia suficiente para suprir a demanda de uma cidade com 1,2 milhão de habitantes.
O engenheiro Roberto Giuseppe Viviani, gerente de obras da Camargo Corrêa, empresa que compõe o consórcio empreendedor da usina, explica que Serra do Facão tem layout enxuto, com barragem de concreto compactado com rolo (CCR) e ombreiras em enrocamento, com núcleo de argila.
A unidade geradora, segundo ele, ficará no pé da barragem, que tem 87 m de altura e 660 m de comprimento. As estruturas de tomada de água, condutos forçados (autoportantes e metálicos) e vertedouro ficam sobre a barragem. A casa de força, do tipo abrigada, tem comprimento de 68 m e largura de 36 m.
A empresa está trabalhando atualmente na barragem e na casa de força, na margem esquerda do rio. Na outra margem, precede-se às escavações para a fundação da barragem e das ombreiras de enrocamento.
O cronograma da obra estabelece 39 meses para o começo de operação da primeira unidade geradora e 41 meses, para a segunda. O início do empreendimento se deu em fevereiro de 2007 e, um ano depois, foi possível efetuar o desvio do rio São Marcos. Utilizou-se, para isso, um túnel de desvio, dotado de estrutura de fechamento.
A maior instalação para agregados
A construtora, segundo Roberto Viviani, tem nessa obra a maior instalação industrial da América Latina para a produção de agregados para concreto, com capacidade de britagem calculada em 450 t/h. A central contínua de concreto, para o CCR, produz de 200 m3/h e a central para o concreto convencional, com 65 m3/h.
“Estamos conseguindo aumentar sucessivamente a produção para lançamento de CCR, superando, a cada passo, níveis significativos. Em abril, por exemplo, passamos de 2.700 m3/dia para 3.500 m3/dia. O objetivo é atingir 65 mil m3/mês, suficientes para atender ao total previsto para a obra, de mais de 610 mil m3 de CCR”, afirma ele.
A obra, nessa etapa do projeto, está com um pico de 1.500 funcionários da Camargo Corrrêa e outros 300 subcontratados. “Procurou-se esgotar, ao máximo, a contratação mão-de-obra local, para só depois buscar trabalhadores de outras regiões”, informa Viviani.
Reservatório
Em outubro de 2009, terá início o enchimento do reservatório. Considerado de tamanho médio, ele terá uma área com 218,84 km2, com cota máxima de inundação de 256 km2. Da área total do reservatório, 155 km2 correspondem à calha natural do rio, enquanto a área inundada ocupará cerca de 400 km2.
O reservatório abrangerá parcialmente áreas de cinco municípios goianos: Catalão, com 72,8%; Campo Alegre de Goiás, com 22,4%; Cristalina, com 0,6%; Davinópolis, com 0,4%; e Ipameri, com 0,1%. No Estado de Minas Gerais, o município de Paracatu abrigará 3,7% do lago.
“A barragem e o reservatório estão bem encaixados na região que, diferentemente do restante do Estado de Goiás, apresenta topografia acidentada, o que favoreceu a implantação do empreendimento”, explica Viviani.
A barragem não provocou impactos ambientais significativos, segundo o engenheiro: “A região já apresentava muitos empreendimentos pecuários (pastos) e agrícolas (plantações de soja). A construtora, na implantação do canteiro de obras, procurou utilizar justamente essas áreas que já vinham sendo exploradas. Praticamente, 95% do canteiro estão em área que era utilizada para pasto. O programa ambiental, entretanto, prevê a recuperação dessa área a um nível muito superior ao que foi encontrado, no início da obra”.
O vertedouro terá duas comportas, com largura total de 33,90 m. Na sua estrutura será instalado o dispositivo de vazão sanitária, a fim de assegurar vazão mínima à jusante da obra enquanto acontece o enchimento do reservatório.
A tomada de água terá duas unidades de captação, que levarão a água do reservatório até as duas unidades de geração, por meio de dois condutos forçados, que terão 78 m de comprimento e 6 m de diâmetro.
A usina da Serra do Facão fica à montante de outra barragem antiga do Estado de Minas Gerais, que é a de UHE de Emborcação (instalada no rio Paranaíba, em Araguari, que teve início de operação em 1982, com 1.192 MW de potência instalada).
Fonte: Estadão