Sobre raízes e asas

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A Eletrobrás já é uma gigante da área de energia, mas seus planos
devem torná-la, em um futuro
breve, ainda mais poderosa
graças à uma forte expansão internacional

Lucro líquido de R$ 6,1 bilhões no ano passado, 296 % acima do obtido em 2007, valor de mercado estimado, em 2008, em R$ 28,9 bilhões, responsável por cerca de 40% da capacidade instalada de geração de energia e 60% das linhas de transmissão no País, maior holding do setor elétrico na América Latina. Só esses atributos já tornam a Eletrobrás uma megaempresa brasileira. Mas os planos da estatal – e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – são bem mais ambiciosos.
"Há apenas dois legados duradouros que podemos aspirar deixar aos nossos filhos: raízes asas. A frase, cunhada há mais de meio século pelo jornalista americano Hodding Carter, reflete e inspira o momento único atualmente vivido pelo sistema Eletrobrás. Somos 27 mil profissionais. Juntos, podemos chegar aonde quisermos. O presidente Lula quer a Eletrobrás como uma megaempresa brasileira. E nós, o que queremos? Nossas raízes estão firmes. Basta bater nossas asas mirar na direção desejada", afirma José Antonio Muniz Lopes, presidente da Eletrobrás.
O bater de asas já tem respaldo legal e deve levar a empresa a voar além das fronteiras do País. Em abril do ano passado, a Lei 11.651 ampliou o escopo de atuação da Eletrobrás, ao garantir que a empresa "diretamente ou por meio de suas subsidiárias ou controladas, poderá associar-se, com ou sem aporte de recursos, para constituição de consórcios empresariais ou participação em sociedades, com ou sem poder de controle, no Brasil ou no exterior, que se destinem direta ou indiretamente à exploração da produção ou transmissão de energia elétrica sob regime de concessão ou autorização".
Depois que a Lei foi aprovada, a empresa iniciou um amplo trabalho de reestruturação, com foco em integração, competitividade e rentabilidade, reunido no Plano de Transformação do Sistema Eletrobrás. As ações envolvem a holding, as empresas geradoras e transmissoras de energia (Eletronorte, Eletrosul, Eletronuclear, Furnas, CGTEE e Chesf ), as seis distribuidoras (Ceal, Cepisa, Ceron, Eletroacre, Boa Vista Energia e Amazonas Energia), o Cepel e Itaipu Binacional e estão detalhadas no Programa de Ações Estratégicas (PAE) que engloba o período 2009 – 2012.
"Por um lado, temos realizado concursos para recompor o quadro técnico da empresa e, de outro, dentro do nosso Plano de Transformação, criamos comitês com o objetivo de unir as experiências de todas as empresas do sistema Eletrobrás na área de engenharia, de meio ambiente, tecnologia, de compras e outros. Hoje, o nosso maior desafio é levar a cabo os mais de 40 projetos que formam o nosso Plano de Transformação, que fortalecerá o sistema Eletrobrás. Com um sistema Eletrobrás ainda mais forte, o Brasil terá, ao mesmo tempo, segurança energética e preços justos pela energia elétrica", explica Lopes.
A Eletrobrás estruturou uma superintendência exclusivamente destinada a avaliar projetos internacionais, que já recebeu cerca de 60 propostas na América Latina, África e Ásia. A meta do PAE em relação à internacionalização da empresa é concluir estudos para a geração de 18.000 MW e construção de 11.000 km de linhas de transmissão até 2012. Isso não quer dizer que os projetos serão necessariamente implementados, já que só a análise detalhada poderá indicar ou não sua viabilidade.
Os projetos em estágio mais avançado no momento são a usina binacional de Garabi, na Argentina, e a usina de Inambari, no Peru, ambas com sistemas de transmissão associados e investimento total na casa dos R$ 10 bilhões. Garabi, de 1.800 MW, é uma parceria com a argentina Ebisa. Já Inambari, de 2.000 MW, é uma sociedade de propósito específico que reúne Furnas, Eletrobrás e empresas privadas brasileiras. A empresa estuda também, em diferentes estágios de desenvolvimento, os projetos de outras cinco usinas no Peru, com potência instalada total de 5.000 MW, uma na fronteira da Namíbia com Angola e outra na Nicarágua, além do sistema de transmissão Brasil-Venezuela, duas usinas na Argentina, uma na Guiana, uma em Moçambique, uma no Marrocos, uma em Honduras, uma na Tunísia e um sistema de transmissão nos Estados Unidos.
Uma prova da importância crescente da presença da Eletrobrás no cenário energético mundial foi o convite para participar, em junho, da reunião do chamado e8, que reúne as dez maiores empresas do setor elétrico em países que formam o poderoso G8. A reunião teve como objetivo discutir a mudança climática e a busca de soluções para o desenvolvimento energético sustentável. "Esse convite reflete o reconhecimento internacional do nosso trabalho e, principalmente, a constatação de que o sistema Eletrobrás terá papel fundamental na geração de energia elétrica renovável nos próximos anos no Brasil. É também uma oportunidade especial de aquisição de novas competências e tecnologias com companhias de grande porte", avaliou Lopes. "Além disso, a aproximação com essas empresas estimula a construção de parcerias e a troca de experiências para o nosso processo de internacionalização", completou.
Os membros do e8 são: American Electric
Power e Duke Energy, dos Estados Unidos, Électricité de France, da França, Enel, da Itália, Hydro-Québec e Ontario Power Generation, do Canadá, JSC "RusHydro", da Rússia, Kansai Electric Power Company, Inc. e Tokyo Electric Power Company, Inc., do Japão, e RWE AG, da Alemanha.

Volta do modelo estatal?

No Brasil, o poder da Eletrobrás também ganha fôlego extra. A empresa está envolvida nos maiores projetos ligados à geração de energia, como Belo Monte, o Complexo do Rio Madeira e as usinas do Tapajós. Esses são os maiores empreendimentos, mas a empresa está ligada a muitos outros, como as usinas Simplício e Batalha, com Furnas; Mauá, com a Eletrosul em associação com a Copel; e Angra 3, com Eletronuclear. Na área de transmissão, o Linhão do Madeira, com 2.375 km de extensão, ligando Porto Velho a Araraquara, é o maior destaque.
Seria então um retorno velado ao antigo modelo estatal? Lopes garante que não: "Não é a volta do modelo estatal porque o sistema Eletrobrás tem sempre como objetivo trabalhar em parceria com a iniciativa privada. Não há a menor intenção de substituir a iniciativa privada no setor elétrico".
O PAE tem como meta, até 2012, alavancar 6.459 MW em geração e 10.386 km em transmissão para o Sistema Interligado Nacional (SIN). Só esse ano serão investidos pelas empresas do sistema Eletrobrás R$ 7,2 bilhões, além de R$ 1,5 bilhão em parcerias. "Nossos engenheiros e outros profissionais envolvidos em projetos do sistema têm sempre em mente atingir o equilíbrio entre, de um lado, a necessidade de gerar energia para que o Brasil possa desenvolver-se e garantir o bem-estar de nosso povo, e, de outro, reduzir ao mínimo os impactos ambientais. Foi pensando nesse equilíbrio que desenvolvemos o conceito de usinasplataforma, que revolucionará a construção de hidrelétricas no mundo", afirma Lopes.


Fonte: Estadão


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