Sonhar é preciso

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Marcos Monteiro

Todo engenheiro carrega o estigma de ser extremamente pragmático e racional. Projetistas de estruturas (os ditos "calculistas"), então, nem se fala! Até colegas de profissão os acham exageradamente sérios e compenetrados. Mas, é importante que se diga: também temos nossos sonhos!
Sonhamos que nosso contratante não apenas afirme que os projetos são importantes para o empreendimento, mas que acredite nisso. Que compreenda verdadeiramente que os resultados finais alcançados terão relação direta com o planejamento e com as decisões de projeto. E, para que sejam tomadas boas decisões de projeto são vitais dois componentes: informações confiáveis e tempo. Que as informações necessárias para o desenvolvimento dos projetos não sejam fornecidas de forma açodada apenas para "fazer a coisa andar", mas que se acredite que elas influirão na qualidade das decisões. Que se considere que a qualidade dessas decisões é função do tempo de maturação. Que se entenda que boas decisões de projeto implicam em uma adequada análise de alternativas e que, para isso, é necessário um período adequado para concepção do projeto.
Sonhamos que se acredite que a informática não substituiu a experiência. Que parem de acreditar que a realidade de projetos, hoje, se limita ao apertar de um botão. Que as decisões importantes para o empreendimento não são dadas pela máquina, mas sim pela sensibilidade e vivência dos projetistas. E que se deixe de acreditar em bons projetos a preços baixos ou através de leilões. Experiência, boas equipes e, consequentemente, projetos que tragam bons resultados para o empreendimento têm valores bem determinados.
Sonhamos com um país que saiba aonde quer chegar e que tenha um planejamento de longo prazo. Que se pare de fazer obras ao sabor de conveniências e de prazos políticos. Que obras públicas atendam a necessidades reais da população e que sejam adequadamente projetadas (não apenas com um projeto básico feito "a jato") e planejadas. Que se pare de fazer obras sem projeto, apenas para divulgar que foram iniciadas. E que os engenheiros voltem a influenciar nas políticas públicas de forma positiva, aplicando as boas práticas da Engenharia. Afinal, como bons engenheiros, não nos basta sonhar, mas acreditar que podemos torná-los realidade.

Marcos Monteiro é presidente da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (Abece)

O Brasil precisa crescer, mesmo na crise
José Alberto Pereira Ribeiro

A crise financeira que se espalhou pelo mundo em 2008, continuou afetando as economias de diversos países, este ano. Hoje, as previsões mais otimistas indicam que os países da zona do Euro terão, em 2009, uma contração em torno de 4%. Os Estados Unidos também terão algo em torno de 3% e, o Japão, cerca de 5%. Para o Brasil, as estimativas variam de -1% a mais 1%. Mas o Brasil pode surpreender, assim como a China e a Índia.
No Brasil, a indústria automobilística cresceu mais de 20% no primeiro semestre. A indústria da construção aumentou mais de 5% nos primeiro semestre e o segmento de eletrodomésticos, cerca de 4%. O Brasil atravessou um período de expansão de 5% nos últimos dois anos e o governo vem fazendo um grande esforço com a desoneração fiscal de alguns produtos, expansão do crédito e a ampliação dos investimentos em obras de infraestrutura. Ele teve a sorte de lançar um programa de médio prazo de investimentos em infraestrutura há dois anos e só precisou agilizá-lo, agora, para ultrapassar melhor o início da crise.
Estamos no caminho certo para manter o crescimento e a expansão do mercado de trabalho. Mas é preciso mobilizar a sociedade para a obtenção do engajamento de todos os segmentos e de todos os órgãos governamentais. A superação dessa crise não é uma tarefa só do governo. É preciso que os alguns órgãos do Estado não fiquem travando o País em uma hora tão decisiva como essa.
Nos Estados Unidos, quando essa crise se apresentou, o presidente eleito, Barack Obama, foi com o presidente Bush ao Congresso pedir a aprovação de um programa de emergência e a liberação de US$ 800 bilhões para salvar os 20 maiores bancos do País, seguradoras, empresas de cartões de crédito, empresas de crédito imobiliário e dezenas de indústrias, entre elas as fábricas de automóveis. As divergências políticas ficaram de lado. Mais dois pacotes deste tipo já foram aprovados. Por isso, a retração da economia americana foi de apenas 3% e não 7% como se previa no ano passado e poderá ser novamente de 3% este ano. O País se uniu em torno de um objetivo: vencer a crise.
No Brasil, hoje, precisamos priorizar o crescimento econômico e unificar todos os órgãos do Estado e a sociedade em torno de um objetivo: preservar o crescimento. É preciso que o Ministério Público, as instituições de licenciamento ambiental, o Tribunal de Contas da União, os tribunais de contas dos estados, os partidos políticos, as diversas prefeituras, as centrais sindicais dos trabalhadores e o Poder Judiciário entendam que a prioridade do Brasil é atravessar essa crise e crescer.
É possível crescer nesta crise? É! A China e a Índia vão crescer 5%, segundo as previsões de órgãos internacionais. Não alcançarão os 11% do ano passado, mas deverão chegar a 5%. E o Brasil pode crescer entre 1% e 2% este ano, dependendo da sociedade e do governo.
É preciso que o objetivo principal da sociedade brasileira, hoje, seja garantir os empregos, as empresas, a renda dos trabalhadores e aproveitar a oportunidade impar que o País tem de crescer usando os seus próprios recursos e o mercado interno.
O Brasil está com a sua economia organizada, tem boas reservas financeiras e um excelente programa de investimentos em obras públicas. O Congresso acabou de liberar os investimentos públicos dentro do orçamento, retirando-o das limitações do superávit primário.

José Alberto Pereira Ribeiro é presidente da Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias (Aneor)

O que é preciso fazer para agilizar obras
Por Luciano Amadio Filho

Confirmando o que há muito debatíamos e propúnhamos na Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop), e era proclamado pelas lideranças mais representativas do empresariado setorial, as atividades da cadeia produtiva da indústria da construç&a

tilde;o estão tendo um grande – e agora amplamente reconhecido – peso econômico e social.
Isto é evidenciado nos papéis que a dinamização delas – mesmo que ainda relativa – desempenha nas políticas anticíclicas de respostas à crise e como fator relevante para a retomada do crescimento, bem como para a montagem das bases de um desenvolvimento sustentado. E está também demonstrado no salto do mercado imobiliário, nos programas de infraestrutura, nas três esferas político-administrativas, apoiados em recursos estatais e da iniciativa privada; e dos diversos tipos de obras públicas, alguns destes também possibilitados por parcerias.
Temos, assim, um cenário bastante positivo para os investimentos no setor. Contudo, o sucesso dos programas de obras públicas – e a liberação efetiva do grande potencial de benefícios econômicos e sociais das construtoras de obras públicas – dependem de um conjunto de ações e mudanças importantes das políticas governamentais. Destaco as que seguem:
1) A valorização do planejamento e do projeto, sem os quais muitos programas lançados ficam no papel ou sofrem retarda- mento, como acontece com grande parte dos ligados ao PAC e a outros de responsabilidade de estados e municípios.
2) O respeito ao imperativo do preço justo dos contratos, contra a prática de administradores que acolhem propostas sabidamente inexequíveis.
3) A extensão às licitações de obras e serviços de engenharia dos sistemas de inversão de fases e de pregão, quando a primeira não garante a celeridade dos processos licitatórios (pretexto para sua adoção) e o segundo nada mais é do que um "leilão de ofertas" que deixa de lado a responsabilidade técnica e gerencial exigida por essas atividades.
Acrescento à necessidade das ações e mudanças acima resumidas as relativas à carência de adequada regulação dos serviços públicos, à persistência, ainda, de atrasos de pagamento e ao contínuo aumento dos gastos de custeio estatal, grande fator restritivo dos investimentos públicos.

* Luciano Amadio Filho é presidente Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop)

Fonte: Estadão


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