A construção de pequenas e médias centrais hidrelétricas
pode se expandir se obstáculos forem removidos
O setor de pequenas e médias hidrelétricas está aquecido. Essa foi uma das conclusões do VII Simpósio sobre Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas, promovido pelo Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB), em São Paulo, em maio passado. Durante o evento, circulou a informação de que cerca de 70 obras de pequenas hidrelétricas estariam em andamento no Brasil, um investimento de R$ 4,5 bilhões, englobando a aquisição de terras, engenharia, construção civil, fabricação e montagem de equipamentos eletromecânicos, linha de transmissão e programas ambientais.
"Setenta pode parecer um número grande, mas, pela quantidade de estudos de viabilidade, na casa dos milhares, é uma quantidade pequena", arrematou Rodolfo de Sousa Pinto, vice-presidente de construção e suprimentos de energia e recursos hídricos da Engevix, um dos participantes do simpósio. Segundo atualização recente do Banco de Informações de Geração da Agência Nacional de Energia Elétrica existem no País 367 PCHs com potência outorgada de 3.162 MW, que corresponde a 2,86% da capacidade total instalada de 110.567 MW.
Entre outros temas discutidos no simpósio estão as exigências ambientais do processo de licenciamento de uma hidrelétrica, a nova lei de segurança de barragem, as inovações tecnológicas e a expectativa de participar, nas próximas quatro décadas, com 8% da oferta total de energia, algo estimado na casa dos 25 mil MW. Para o diretor regional do Núcleo São Paulo do CBDB, Clóvis Ribeiro de Moraes Leme, "a pulverização em unidades geradoras menores aquece todos os setores industriais e de serviços envolvidos, desde as áreas de projetos, consultoria até a manutenção e operação automatizada".
O acidente com a barragem Algodões I, no Piauí, outros casos de galgamentos e o medo do apagão têm levado os técnicos a discutir com mais cuidado a gestão de riscos. Carlos Henrique Medeiros, consultor da Embasa, alerta para os riscos dos projetos de baixa qualidade. "Não dá para dar um bypass no projeto nem pensar em estruturas simplificadas. Cada caso tem uma ‘impressão digital’. Precisamos pagar o custo da investigação geotécnica e evitar a busca de projetos por similaridades de bacias". Moraes Leme lembra que "uma análise bem feita, no padrão adotado pela ANEEL, tende a consumir mão de obra especializada, quase que em magnitude equivalente àquela necessária para a execução do próprio projeto".
Os empresários se entusiasmam quando ouvem falar das perspectivas de "crescimento chinês" do País, mas quase todos esquecem dos gargalos da economia brasileira. Leis antiquadas, burocracia, sobrecarga tributária e atraso tecnológico dá para superar, mas falta de energia não. Por isso, nessa área qualquer ganho representa avanço. "E a mão de obra especializada para projetos, construção e operação de PCHs é outro grande gargalo. Com orçamentos menores do que as grandes usinas, os empreendimentos de PCHs são menos tolerantes a erros de concepção, projeto e construção", explica Clóvis Ribeiro de Moraes Leme, do comitê de barragens. O hiato observado na construção de centrais hidroelétricas entre os anos 80 e 90 deixou de atrair uma quantidade de engenheiros jovens para esse setor, durante muito tempo.
Para a Engevix, o negócio das PCHs deslanchou há uns cinco ou seis anos. No momento, a empresa está envolvida com dois projetos: a PCH Moinho, entre Barracão e Pinhal da Serra, no norte do Rio Grande do Sul, com 13,7 MW e barragem de CCR, com entrega prevista para setembro de 2011, e a PCH Passos Maia, em Passos Maia, oeste de Santa Catarina, com 25 MW, barragem em CCR e terra, com operação prvista para o final de 2011.
Nesse período, desde 2004, a Engevix entregou três PCHs nos dois Estados do Sul (Esmeralda e Santa Laura) e uma no Rio de Janeiro (Santa Rosa). Segundo o engenheiro Rodolfo de Sousa Pinto, da Engevix, "a postura pró-ativa dos órgãos de licenciamento acelerou os investimentos nesses dois Estados do Sul, além, claro, da hidrologia e do relevo. No Paraná, pelas limitações ambientais, não existe nenhuma PCH em construção no momento". A Engevix já construiu duas PCHs no México e estuda alguns projetos na América Central.
A EPE – Empresa de Pesquisa Energética cpublica regularmente dados sobre a matriz energética nacional. Em números aproximados, 38% da energia provêm do petróleo (diesel, gasolina e querosene), 30% da biomassa (etanol e lenha), 9% de gás natural, 6,5% de carvão, 1,5% de fonte nuclear e 15% de hidroeletricidade. O CBDB chama a atenção para os cerca de 45% da energia consumida no Brasil proveniente de fonte renovável. A média mundial não passa dos 13,5%.
De acordo com Clóvis Ribeiro de Moraes Leme, "a expansão do parque hidrelétrico brasileiro tem tendência a seguir uma sequência decrescente em tamanho. Nos próximos anos, a expansão deve se deslocar das regiões mais desenvolvidas para as menos desenvolvidas". Se na Amazônia ainda existem grandes potenciais a explorar, no Estado de São Paulo todos os de grande e médio porte já foram construídos, salvo uma ou outra exceção em áreas complicadas do ponto de vista ambiental e institucional, como por exemplo, o Vale do Ribeira.
PCH Moinho
Bacia hidrográfica: rio Bernardo José, Rio Grande do Sul, afluente do rio Pelotas,na bacia do rio Uruguai
Potência instalada em construção: 13,7 MW
Energia assegurada (estimada): 7,8 MWh médios
Fator de capacidade: 54,74%
Nível normal do reservatório: 11,7 ha
Tensão de transmissão: 138 kV
Área de drenagem: 925,6 km2
Tipo de barragem: CCR
Modalidade do contrato: EPC, incluindo otimização do projeto básico,projeto executivo, obras civis, aquisições, montagem e comissionamento dos equipamentos eletromecânicos
Cliente: Moinho Energética (da Cevix Energias Renováveis)
Previsão de entrega: setembro de 2011
PCH Passos Maia
Bacia hidrográfica: rio Chapecó, no município de Passos Maia, Santa Catarina
Potê
ncia instalada em construção: 25 MW
Energia assegurada (estimada): 13,18 MWh
Nível máximo normal do reservatório: 1.012 m
Tensão de transmissão: 138 kV
Área do reservatório: 1,75 km2
Vazão de projeto do vertedouro: 1.396 m3/s
Área de drenagem: 893,18 km2
Tipo de barragem: CCR/enrocamento com núcleo
Cliente: Passos Maia Energética
(50% da Adamis Madeiras e 50% da Cevix Energias Renováveis)
Previsão de entrega: dezembro de 2011
Fonte: Estadão